Quase centenária, 16 comunidades fazem parte da paróquia, sendo considerada uma das mais antigas da região

A igreja que foi fundada ainda no séc. XIX, recebeu o título de Paróquia há 99 anos, mais especificamente em 13 de setembro de 1924. A primeira festa em homenagem à Padroeira Nossa Senhora do Rosário, ocorreu ainda no ano de 1898, 26 anos antes de a paróquia existir em sua totalidade. Atualmente, se mantém graças às manutenções feitas pelas pessoas que se preocupam com os cuidados dos prédios, tanto da igreja, quanto do Salão da Comunidade.

A história da Paróquia

Por conta de toda a sua trajetória, a comunhão religiosa de Faria Lemos faz parte da história, visto que a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário é uma das mais antigas e mais presentes. Conforme conta o membro da equipe administrativa da igreja, Vanildo Enderle. “A história da comunidade de Faria Lemos é bem forte no sentido religioso, houveram grandes contribuições da Paróquia para a diocese, inclusive, doações para a construção do Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio. Após a estruturação do local, muitos moradores daqui participavam trabalhando das festas em homenagem à Santa. A proporção da celebração era muito grande e tinha muita participação”, expõe Enderle.
Padre Moacir Canal, pároco das Paróquias São Roque e Nossa Senhora do Rosário, relembra um pouco desta trajetória. “A paróquia de Faria Lemos foi erigida em 1924, mas não foi aí que começou a sua história. Ela se inicia com os imigrantes italianos, por volta de 1880. Os primeiros registros de batismos e de óbitos estão em livros de 1894. Antes de se tornar oficialmente paróquia, a comunidade já existia e era forte”, explica Canal.


Ele também discorre sobre a relação de crença entre o presente e o passado. “A questão da fé, principalmente no início, sempre foi o carro chefe na vida das pessoas que se envolveram na religiosidade, dá para se dizer que, hoje em dia, é uma comunidade presente. Mas tem que se entender que antigamente a dimensão da fé e da devoção eram maiores”, traz.
Além disso, a comunidade também conta com suas celebrações, que ao total são duas, onde reúnem um grande público, visto que a paróquia atende 16 comunidades. “Celebramos duas festas muito importantes para o distrito, a primeira e principal delas é a da padroeira de Faria Lemos, Nossa Senhora do Rosário, que ocorre todos os anos em outubro. A outra é a do trabalhador, que acontece anualmente em maio onde é homenageado Santo Izidoro. Ademais, durante o período, ocorrem uma série de outras festividades, como a de final do ano, que é o festival do chope. Nossas festas reúnem de 500 a 800 pessoas, são muito tradicionais para a localidade e importantes”, afirma Enderle.

Padre Moacir Canal é pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário e de São Roque

As confraternizações são imprescindíveis não somente pela união das pessoas, mas também porque elas são responsáveis pela arrecadação de valores para o caixa, primeiramente para manter a estrutura da Paróquia e depois, para investir em outros prédios que beneficiam a comunidade. “Todas as festas proporcionam resultados e utilizamos eles para a manutenção da comunidade. O primeiro custo é para manter o nosso patrimônio que é muito grande e ter certeza que a estrutura está boa. Estamos finalizando a manutenção no telhado do ginásio de esportes e iremos iniciar a reforma da estrutura do salão”, diz.
A equipe já está se organizando para os próximos planos com os valores arrecadados nos eventos deste ano, e desta vez, será pensando para a cultura. “A reforma que temos em vista é uma das mais importantes que iremos realizar este ano, que é a troca do telhado da Casa Canônica, ele é bastante antigo e nós o preservamos durante todos estes anos. O local é onde mantemos a cultura no distrito, lá ocorre os ensaios da banda da comunidade e os de corais”, ressalta.

Com muitos esforços, a comunidade igreja vai mantendo a estrutura de pé e aberta para todos os moradores. A região bastante devota, se empenha ao máximo para manter uma das mais tradicionais paróquias e este tem sido o combustível. “Viemos conseguindo manter a igreja bonita, de pé, com dificuldades é claro, a mesma que está tendo para os negócios, se tem para mantê-la. Mas lutamos muito, e vamos seguir fazendo enquanto der”, finaliza.

Geração em geração

Janete Buffon, coordenadora da catequese, é moradora de Faria Lemos, participa da comunidade desde muito nova, já que nasceu na localidade. “Estou envolvida na igreja desde a adolescência. Há quatro meses minha mãe faleceu, herdei a religiosidade dela, que consequentemente, herdou de seus pais. Eles nos dão todo o embasamento e vamos repassando e testemunhando isso para os nossos filhos. E essa herança vem dos imigrantes, que buscaram na fé e na religiosidade forças para amenizar aquele momento tão difícil”, relata.
Nesses anos de comunidade igreja, ela foi se encontrando e descobrindo do que gostava. “Quanto mais se envolve, mais gosta de fazer parte, porque se quer sempre o melhor para a comunidade igreja. Faz bem para si, tem uma frase que gosto muito que diz ‘não podemos viver apenas para nós mesmos’, e testemunho ela. Nós não somos felizes se não compartilhamos com os outros”, declara Janete.

Janete Buffon, coordenadora da Catequese, percebe que a religiosidade da comunidade se deu por meio dos imigrantes


Ela faz parte de diversas funções, assim como todos aqueles que trabalham em prol da paróquia. “Sou coordenadora da catequese, faço parte da equipe de liturgia e canto, trabalhamos como equipe administrativa, nos envolvemos com as obras do patrimônio e cuidamos dele. E é por isso que ano que vem seremos centenários, e é por isso que acredito que se não fosse algo bom, não se perpetuaria por tanto tempo. E para aqueles que acham que trabalhar nisso seja perda de tempo, sinto muito por eles”, enfatiza.
Janete nota que algumas pessoas acabam não só não participando, como também desestimulam outras. “A comunidade é muito unida, mas claro que há algumas famílias que não gostam tanto de se aproximar. E, acredito, que às vezes alguns pensamentos negativos vindo delas, acaba afastando algumas pessoas da nossa Paróquia. Mas, acreditamos e superamos tudo isso com a força da nossa fé e religiosidade. E, por isso, continuamos trabalhando para dar o nosso melhor e fazer o bem comum”, traz.


E sobre os prédios, Janete sente orgulho da estrutura. “Temos uma infraestrutura maravilhosa e isso é graças às famílias que não medem esforços para trabalhar em prol da Paróquia. Quem se beneficia é a comunidade toda, desde a escola que utiliza a quadra, todos os nossos jovens que jogam futebol, pessoas de outras localidades que vem nessas atividades esportivas. A estrutura é aberta para todas as idades, desde os pequenos até os idosos”, finaliza.

Uma nova liderança

Juliano Da Silva é o presidente da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, um jovem candiotense que abraçou Bento Gonçalves e Faria Lemos. “Foi bom ter assumido este cargo, principalmente para dar uma renovada. Tem as pessoas que trabalham na comunidade que já estão há muitos anos na função e vão se cansando. Precisamos da renovação para atrair, principalmente, os mais jovens, porque a juventude está indo embora. Então os veteranos vão se cansando, e os jovens não querem ficar”, explica Da Silva.
Sua gestão está sendo acompanhada de muitas mudanças, onde ele visa aproximar mais as pessoas da paróquia. “Precisamos tornar as coisas mais atraentes para as pessoas se aproximarem. Por exemplo, a nossa torre, que é um cartão postal de Faria Lemos, há anos não era pintada, pintamos ela inteira, compramos já os refletores e só falta instalar, porque queremos ela iluminada e bonita”, afirma.

Presidente da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Juliano da Silva, aposta no esporte para atrair a juventude

Uma das dificuldades encontradas era a falta de jovens nos eventos e na própria paróquia. Por conta disso, ele foi entender como poderia aproximar este público. “Uma das formas que encontrei, foi o esporte, trazer a proximidade por meio do futebol. Eventos e festas, como o encontro dos jovens, infelizmente ainda não conseguimos realizá-lo, pois existem muitos conflitos com datas, mas iremos fazê-lo em fevereiro. Só que estas comemorações exigem muito trabalho voluntário, tanto para a cozinha, quanto para outras tarefas. E essa é a idade que tento atingir, porque são eles que vão dar continuidade à nossa paróquia”, argumenta.


Da Silva se orgulha em ver todo o histórico da religiosidade do distrito de Faria Lemos. “Para a história da comunidade, esses 99 anos são muito significativos. Porque se escuta a história que as pessoas contam, sobre como fizeram parte desta trajetória, e ver que hoje em dia a nossa paróquia e comunidade são referências para a região é sinônimo de orgulho”, exalta.

Vendo o tempo passar
Clara Maria Benvenutti é professora aposentada e moradora de Faria Lemos. Sua família era dona do mercado quase de frente à paróquia, e ali ela viu todas as mudanças que ocorreram. “Muitas coisas mudaram nesses últimos anos. Inicialmente tínhamos uma igreja antiga, pequenininha, mas era bem bonita. Só que já estava bastante deteriorada, e por conta do tamanho, não cabiam as pessoas. Vimos ela ser desmanchada e esta nova ser construída. Mas é muito significativo ver estes anos se passando, e ver o quanto ela é muito especial para os moradores”, realça.

Vendo o tempo passar

Clara Maria Benvenutti, nascida em Faria Lemos, percebeu as mudanças na comunidade ao longo dos anos

Clara sempre foi muito participativa. Junto do marido, os dois sempre trabalharam em prol da comunidade. “Nosso salão tem tudo, participamos das festas, e já trabalhamos muito nelas. E por conta da idade não podemos mais fazer o trabalho pesado, diferente de quando éramos jovens e passávamos o dia na função”, relembra.
E compreende a importância da fé para si e todos os bons momentos que teve a partir dela. “Sou muito devota de Nossa Senhora do Rosário, sempre fui muito de rezar o terço, é um momento de fé e de união. É nas missas onde nos aproximamos das pessoas, após ela sempre ficamos conversando, trocando ideias, e isso é muito importante”, finaliza.