Dados do mercado de trabalho formal no primeiro quadrimestre do ano e alertas de entidades empresariais já apontam os primeiros efeitos da crise econômica promovida pela pandemia do novo Coronavírus na Capital do Vinho. Empregabilidade já é a menor desde 2010

Embora ainda em pleno avanço da pandemia do novo coronavírus, os primeiros efeitos da crise econômica que deve levar o Brasil a fechar o ano com uma retração recorde do Produto Interno Bruto (PIB), já começam a ser sentidos em todo o país. Divulgados recentemente, os dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged) sobre os primeiros quatro meses de 2020 mostraram que, como em um efeito dominó, os números do mercado de trabalho formal responderam de modo semelhante nas esferas federal, estadual e municipal: um leve avanço nos dois primeiros meses, seguido de um declínio acentuado nos dois meses seguintes.

De acordo com a Carta Mensal do Mercado Formal de Trabalho organizada pelo Observatório de Trabalho (Obstrab) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), essa dualidade é ainda mais evidente em Bento Gonçalves. Ao passo que os meses de janeiro e fevereiro fecharam com números mais positivos do que os de 2019 (com 655 e 477 novos postos de trabalho abertos, respectivamente), março, com o começo da pandemia e das medidas de isolamento social, fechou com um saldo negativo de 182 postos de trabalho perdidos.

O maior dano, porém, se deu em abril, que teve 1.423 demissões, se tornando assim, o pior mês de toda a série histórica, iniciada em 2004. Considerando os números positivos de janeiro e fevereiro, e os negativos de março e abril – os dois últimos já sob efeito da Covid-19 que obrigou governos a determinar medidas restritivas às atividades econômicas para minimizar o contágio – o levantamento aponta para o fechamento de 473 postos de trabalho.

Para a economista e professora Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, quem coordena o Obstrab, os números mostram claramente que a evolução econômica, que se mostrava possível, foi atingida pelos efeitos da pandemia. “Havia uma perspectiva de que teríamos mais contratações neste ano, o que estava se comprovando já em janeiro e fevereiro. Mas, o mercado de trabalho é muito sensível, o primeiro a sentir o baque e o último a se recompor. A pandemia chegou no momento em que estávamos nos recompondo da crise de 2015”, lamenta.

Informalidade cresce

Se no Brasil o saldo de 763,2 mil desligamentos de vínculos empregatícios no ano vem acompanhado de uma taxa de 39,1% de trabalhadores na informalidade, na Capital Nacional do Vinho a situação não é diferente. Afora a soma negativa de 473 vagas perdidas no primeiro quadrimestre, a pandemia também ocasionou um avanço acentuado da informalidade no município.

De acordo com estimativa do “Desempenho do Emprego Formal de Bento Gonçalves”, outro levantamento assinado pelo Obstrab, o número de empregos formais da cidade em 2019 era de 44,2 mil, um acréscimo de 1,40% em relação a 2018. Neste ano, o número caiu para 39,2, atingindo sua menor marca desde 2010. “Além de abril ter tido um fechamento muito grande, a massa de empregos formais diminuiu, o que significa que tivemos também uma redução média na renda do município”, pontua Lodonha.

Bandeira vermelha

Ainda de acordo com a economista, as expectativas eram de que os números de maio e junho, embora negativos, fossem melhores que os do abril. Entretanto, o aumento de 173,9% das hospitalizações na última semana, que acarretou na passagem da bandeira laranja para a vermelha, no distanciamento controlado da Serra Gaúcha, pode intensificar os prejuízos no município.

Os impactos da crise na “economia subterrânea”

Além das máculas no mercado de trabalho, os cofres públicos também devem sofrer com o avanço da crise ocasionada pela pandemia. Pelo menos esse foi o alerta da economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, feito durante a primeira reunião virtual da Comissão de Combate à Informalidade (CCI), que contou com a participação de representantes de 25 entidades gaúchas.

De acordo com dados apresentados por Patrícia, em 2018 o Rio Grande do Sul deixou de arrecadar R$ 5,66 bilhões devido à informalidade. Segundo ela, embora não existam estudos formulados, a lógica é que a pandemia intensifique a “economia subterrânea”, prejudicando os cofres públicos justamente em um momento em que o estado mais precisa de caixa. “Muitos dos comércios que fecham são lojas pequenas, de gente que basicamente tinha aquele negócio como forma de viver. Quando fecha, o que é feito do estoque? Ele é vendido para que se consiga uma renda, sem se importar com tributação ou não. Então, vamos ter muita gente que estava na formalidade levando seus produtos para a informalidade. Isso já ocorre, mas imagina o dano em larga escala”, diz.

Coordenador da CCI e presidente do Sindilojas regional Bento Gonçalves, Daniel Amadio concorda com Patrícia. “Quando a taxa de desemprego é muito grande e a recessão é forte, a informalidade cresce. Com redução de renda é natural que as famílias comecem a buscar produtos mais baratos, sem todos os encargos que um produto legal tem”, enfatiza.

Números das empresas no Estado

Os estragos provocados pela pandemia do novo coronavírus na economia, especialmente no comércio, na indústria e no setor de serviços no Rio Grande do Sul ainda estão sendo contabilizados por entidades e governo.

O fechamento de bares e restaurantes durante o período de quarentena aprofundou a crise pela qual passava o setor e determinou o encerramento de diversos negócios no Estado.

Dados da Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS) apontam que até maio deste ano foram constituídas 68.292 empresas, enquanto no ano passado houve abertura de 77.823 no mesmo período.

Apesar da crise que se desenha para maior parte da economia gaúcha, o número de empresas extintas até maio – 27.128 – é inferior ao mesmo período no ano passado, quando fecharam 31.728 empresas.