“Desliga a TV! Hora de dormir. Não tranque a porta. O que você está lendo? Aonde você vai? Quem são estes amigos?”
Essas perguntas me acompanharam por muito tempo durante a adolescência e o que, naquela época, era “um saco”, hoje vejo o quanto foram importantes para iluminar um caminho que, por muitas vezes, bastava um passo para cair numa armadilha, a qual poderia mudar para sempre a minha vida.
Ao assistir à série “ADOLESCÊNCIA”, na Netflix, observei que a dose de realismo quanto aos desafios, em especial da vocação de pai são tão intensos e atuais que, confesso, parecia ter sido transportado para cada cena sem cortes. O coração acelerou por diversos momentos, as mãos gelaram e as lágrimas choraram o que agradeço nunca ter chorado antes.
É difícil escrever sem dar spoiler, porém, a dor de ver ruir no ato de um filho a missão de pai que entendia até então estar sendo cumprida “sem faltar nada” é dilacerante.
“Sem faltar nada”, talvez seja esse um dos passos para queda na armadilha. Não me refiro à falta pela carência do essencial, mas pela facilidade de ter tudo.
Não há como negar que a evolução dos tempos influencia, e muito, a forma de educar os filhos, pois da descoberta da magia do fogo à magia das telas, ambos podem iluminar caminhos ou sem cuidado e limites, queimar vidas.
Da sala da casa, uma única antena conectava o mundo a tela da TV, hoje um mundo conhecido e desconhecido dos olhos dos pais está onde quer que seus filhos estejam, logo, é preciso sempre se manter antenado!
Mas como?
Não é fácil! Tenho, por mim, que a adolescência é uma das principais provas da disciplina de ser pai. Já passei por duas, e o resultado observo todos os dias. Já estou na terceira e posso lhes dizer que as questões, embora, na sua essência, sejam parecidas, as respostas sempre terão uma personalidade única, pois filhos não são receitas de bolo, mas é imprescindível cuidar ainda mais a temperatura na adolescência.
Há medo de errar e “rodar” nessa disciplina, os medos mudam a cada fase, a ponto de sentir saudades do medo de dar o primeiro banho e de trocar a primeira fralda.
Porém, na adolescência, o medo maior é escolher o não pelo sim e vice-versa; é escolher o “sossego” até mesmo da tela do celular que renderá um futuro caro e incerto ao invés da abordagem daquele assunto espinhoso; é não bater na porta e abri-la, mesmo que blindada por sentimentos que não saibamos e sequer entendemos as razões do fantasma de sua existência; é escolher dar um tempo por um tempo que talvez não teremos mais; é, enfim, escolher ser aquele amigo bonachão quando, na verdade, o silêncio ou até mesmo a alegria disfarçada gritava por mais…socorro, socorro PAI.
Clacir Rasador, pai de três filhos.