Neste primeiro quarto do século XXI, por maiores que sejam as inovações tecnológicas, tenho por mim que nada mudou tanto quanto o comportamento e o pensamento do ser humano.
Fato é que, dependendo da forma de se expressar, mesmo que não tenha qualquer intenção, rejeição e/ou discriminação, o radar e a rede cada vez maiores do “politicamente correto” está sempre à espreita de novas vítimas.
Paira nesse universo paralelo da internet, uma lupa ideológica em cada palavra escrita ou dita, a ponto de que, atualmente defender conceitos naturais, poderá ser compreendido como um ataque àqueles que entendem em qualquer situação, das mais simples às mais complexas, que os verbos SER ou SENTIR-SE COMO, se tratam de verbos idênticos, homônimos – o que embora se respeite tal pensamento, em que pese muitos que assim pensam não respeitem o contrário – sem dúvida desafiam as mais elementares diferenças da natureza humana.
Dito isso, lembro somente pela minha história, portanto, entenda-se, sem qualquer cunho ideológico, quando ainda criança, da “escola de mães” que existia em cada casa do bairro que lá se encontrasse uma menina, a qual, com uma boneca no colo, roupinhas, babeiros, carrinho de bebês, berço, bicos e assim por diante, ainda que precocemente – assim poderão pensar muitos – eram na sua grande maioria, embaladas pelo sonho de um dia tornarem-se mães.
Como eu sei disso? Pois bem, tive o privilégio de nascer gêmeo, e, melhor que isso, acompanhado de uma menina, portanto, ainda cedo, a realidade deste mundo feminino sempre esteve muito presente, cujas lembranças, comparações e, portanto, diferenças, são naturalmente inevitáveis, pois nós, os meninos, aprendíamos e imitávamos nossos pais, mas longe de que aquela escola fosse dedicada ao aprendizado de ser pai um dia.
Então, qual é a escola de formação dessa instituição natural chamada PAI?
Pai genitor, pai adotivo, pai provedor, pai amigo, pai “herói”, pai disciplinador, pai avô… onde se aprendeu, ou se aprende tudo isso?
Sem dúvida, uma grande trajetória “acadêmica”, sem falar no espectro do “pai perfeito”.
Esta dádiva do PAI criador não nos alcança, talvez até estivesse nos planos, mas já o primeiro pai – Adão – desperdiçou a oportunidade.
Mas é inconteste que, nós, pais, por alguns anos passamos por um tempo com esse estigma de “pai perfeito”, cuja visão e admiração brilha nos olhos de quem mais amamos e, sim, curtimos imensamente, coisa de dar inveja às mães, embora admitam os mais sinceros … poucas vezes acontece, importante é não deixar de aproveitar.
Serão estes os mesmos olhos, talvez agora cabisbaixos, que um dia perceberão que nossa capa de herói também tem falhas ou sequer existiu.
Quisera apenas que levem consigo, os bons exemplos que se espera de um pai tão “perfeito” quanto possa ser; exemplos que se roga, sejam honrados, imitados de geração em geração, daí advém o poder do pai “herói”, tornar-se eterno pelo exemplo.
Até aqui tudo lindo, maravilhoso, “pai clichê”, poderão pensar, cenário das antigas propagandas de margarina…Todavia não se trate disso, contudo, sem hipocrisia, sabidamente nem todos são exemplos, seja ele pai, mãe, filhos, irmãos…
A propósito, entendo que não há pior morte do que “matar” alguém que ainda vivo, morto está em nosso coração; entretanto, somente a cada um de nós, em tal caso, é dado o poder de ressuscitá-lo.
E assim, se porventura conheces algum pai “sem filhos” e houver a possibilidade de se fazer PRESENTE a COMPAIXÃO no Dia dos PAIS, permita-se então uma releitura da parábola do filho pródigo (Lucas 15,11-32) invertendo-se os papéis. Afinal, quem reza o PAI NOSSO, não poderia negar no mínimo a esperança ao pai pródigo; onde quer que ele esteja, sentirá o PERDÃO e o AMOR vindos da alma, pois esta não respeita fronteiras.
Não se trata obrigatoriamente e de forma alguma esquecer o passado, sequer sentar-se à mesa com todos e todos os dias, tão pouco retomar a cadeira da ponta ou voltar a “reinar” na poltrona do papai, mas ceder unicamente um espaço, mesmo que pequeno, àquele fantasioso pai “herói”, pai “perfeito”…no coração.
Feliz dia dos Pais!