Com mais de 42 bilhões de transações em 2023, o PIX supera cartões e boletos, democratizando o acesso financeiro

O uso do Pix como meio de pagamento cresceu significativamente no Brasil, registrando quase 42 bilhões de transações em 2023. Este crescimento de 75% em relação ao ano anterior, consolida como a forma de pagamento preferida dos brasileiros, ultrapassando o volume combinado de operações com cartões de crédito, débito, boletos e Transferência Eletrônica Disponível (TED). A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou esses números com base em dados do Banco Central (BC) e da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), destacando a relevância crescente deste sistema de pagamentos instantâneos.

Em 2023, o valor total movimentado pelo Pix foi de R$ 17,2 trilhões, ficando atrás apenas da TED, que movimentou R$ 40,6 trilhões. No entanto, enquanto o volume de TED permaneceu praticamente estável, as transações via Pix dispararam 58% em relação ao ano anterior. O uso massivo do Pix, especialmente para pequenas transações, com um valor médio de R$ 420, revela sua crescente popularidade entre os consumidores brasileiros.

Segurança e praticidade: os principais fatores de adoção

Desde seu lançamento em 2020 pelo Banco Central, o Pix tem revolucionado a forma como brasileiros realizam pagamentos e transferências. Com a promessa de ser rápido, seguro e acessível, o meio de pagamento se tornou uma ferramenta indispensável no cotidiano financeiro de milhões de pessoas e empresas.

A professora de economia da UCS (Universidade de Caxias do Sul) e operadora de negócios do Banrisul, Adriane Maria Silocchi, ressalta que a praticidade e a segurança do Pix são fatores-chave para sua adoção massiva. “O Pix permite transações rápidas e seguras, sem intermediários, o que é uma grande vantagem em relação aos meios tradicionais de pagamento”, afirma.

Segundo Adriane o sucesso do Pix está intimamente ligado à sua facilidade de uso e à agilidade nas transações. “Desde que foi lançado, o Pix permite que transferências e pagamentos sejam feitos em até 10 segundos, a qualquer hora do dia ou da noite”, explica. Estes benefícios têm impulsionado uma rápida adoção, especialmente entre pessoas físicas. Segundo dados do Banco Central, até setembro de 2024, haviam mais de 760 milhões de chaves Pix cadastradas por pessoas físicas no Brasil. O sistema tem sido amplamente utilizado por indivíduos com idades entre 20 e 59 anos, com a região Sudeste concentrando 42,5% das transações.

Além disso, a facilidade de uso, com a simples inserção de chaves como CPF, e-mail ou número de telefone, tem facilitado a inclusão financeira. “O Pix se tornou uma ferramenta poderosa para incluir a população que infelizmente não tinham acesso aos serviços bancários, principalmente as que não possuíam cartão de crédito”, explica a professora.

Um dos grandes atrativos do Pix, segundo Adriane, é sua capacidade de promover a inclusão financeira. “As pessoas podem participar ativamente do sistema financeiro apenas com uma conta corrente ou poupança”, afirma. Essa facilidade de acesso democratizou os meios de pagamento e beneficiou especialmente pequenos comerciantes e autônomos, que agora conseguem receber pagamentos instantâneos sem os custos elevados de intermediários.

Além disso, o Pix eliminou a necessidade de empecilhos, como adquirentes de cartão de crédito, o que reduziu custos para os estabelecimentos. “A agilidade e segurança do sistema são fatores determinantes para essa mudança no comportamento do consumidor”, complementa a professora.


Impactos econômicos e sociais

O sucesso do Pix não é apenas uma questão de conveniência. Adriane aponta que a ferramenta está promovendo uma série de transformações no mercado. “O Pix aumentou a competitividade no setor de pagamentos, forçando bancos e emissores de cartões a reverem suas tarifas. Além disso, reduziu custos para o comércio e melhorou o capital de giro das empresas”, comenta.

A professora também destaca a segurança como um fator crucial. “O Pix permite que os pequenos comerciantes e consumidores evitem o uso de dinheiro em espécie, reduzindo o risco de fraudes e roubos”, afirma Adriane. No entanto, ela alerta para o ressurgimento de golpes e sequestros-relâmpago, onde os criminosos obrigam as vítimas a fazer transferências via Pix. “A segurança financeira ainda é um desafio, mas o Banco Central tem implementado mecanismos para mitigar esses riscos, como limites para transferências noturnas”, diz.

O futuro do dinheiro em espécie

Uma das questões levantadas é se o Pix poderia, eventualmente, substituir o uso de dinheiro em espécie. Embora o Pix esteja se consolidando como o meio de pagamento digital dominante, Adriane não acredita que a cedula de papel de papel será totalmente extinto. “A digitalização dos pagamentos é uma tendência crescente, mas o dinheiro em espécie ainda tem um papel importante, especialmente em áreas menos bancarizadas”, avalia.

Adriane acredita que, embora o papel ainda tenha sua função, a digitalização dos pagamentos tem potencial para reduzir significativamente sua utilização. “O custo social do dinheiro em espécie é elevado. A tendência é que a eficiência do mercado aumente com a digitalização, como já acontece em muitos outros países”, pondera.

No entanto, ela alerta que a transição não deve eliminar completamente o uso de cédulas, mas sim incentivar um mercado mais eficiente por meio de meios digitais de pagamento.
Outro desafio é a concorrência com os meios de pagamento tradicionais, como cartões de crédito e débito, que sempre foram lucrativos para instituições financeiras. “Os pagamentos digitais aumentaram a competitividade dento do mercado financeiro, forçando bancos, cooperativas e fintechs a se adaptarem e buscarem novas formas de rentabilizar seus serviços”, observa a professora.

Com a crescente adesão ao Pix, Adriane acredita que ele se tornará cada vez mais dominante no mercado brasileiro. “O Pix já é uma variável macroeconômica importante, gerando economia para o setor público, formalizando empregos e promovendo a bancarização”, explica. Um exemplo disso é a redução do custo para o governo na arrecadação de impostos, que agora pode ser feita sem taxas bancárias. Além disso, o Pix tem ajudado o comércio a melhorar sua gestão de capital de giro, eliminando ineficiências no sistema de pagamentos.

Entretanto, ela ressalta que o sucesso do Pix também exige mudanças na estrutura financeira e contábil das empresas. “Haverá a necessidade de desenvolvimento de novos modelos de gestão de caixa e tesouraria, além da adaptação dos processos de conciliação contábil”, conclui.

Nova geração, antigos hábitos

Gabriel Duarte, um jovem de 20 anos, expressa as percepções e desafios de sua geração sobre a adoção do Pix. Ele acredita que o Pix já demonstra segurança com criptografia avançada e autenticações robustas, mas também destaca o receio ainda presente de golpes, especialmente os baseados em engenharia social. “A segurança de dinheiro físico ou cartões poderia parecer mais tangível para alguns, pois eles controlam diretamente o que têm. No entanto, o Pix também é muito seguro, com criptografia avançada e autenticações. Talvez o receio venha de possíveis golpes, como o uso de engenharia social para burlar o sistema”, afirma.

Apesar disso, Duarte vê no Pix um futuro promissor, entretanto prefere usar os meios tradicionais como papel-moeda e cartões fisícos. “Eu, particularmente, prefiro utilizar o dinheiro papel, pois assim não tem problema de a internet não funcionar ou não ter saldoAlgumas pessoas podem sentir que têm mais controle visual com dinheiro em papel, pois conseguem ver fisicamente o que gastam. Mas o Pix também pode ser prático para esse controle, já que as transações ficam registradas imediatamente, e é possível acompanhar seus gastos de forma mais precisa e organizada com aplicativos”, comenta. Segundo ele, essa nova realidade financeira incentiva a disciplina, permitindo que os consumidores tenham um controle detalhado das despesas.

Outro ponto importante é a familiaridade com os novos métodos. Duarte acredita que as experiências de conhecidos e o contato com histórias de sucesso podem influenciar a adoção do Pix, pois há uma certa resistência inicial para aqueles acostumados aos métodos tradicionais. Porém ele ainda é receoso como o meio. “Conhecer experiências positivas ou negativas de outras pessoas pode sim influenciar na decisão de migrar para o Pix ou continuar com métodos mais tradicionais. Experiências ruins, como golpes, podem gerar receio, enquanto o relato de praticidade pode incentivar a mudança”, diz.

Ele acredita que o papel-moeda jamais vai deixar e existir, mas se for preciso ele utiliza o pagamento digital. “Acredito que o dinheiro físico, nunca vai deixar de circular. Minha geração, prefere pagar tudo pelo Pix ou cartão digital, mas sigo longe desta tendência. Para mim, tu ter o dinheiro em mãos é melhor pois assim controla seus gastos. Tenho dinheiro no banco e as vezes me obrigo a usar o Pix para comprar pela internet”, declara.

Para ele, a mudança para uma economia digitalizada é um processo gradual e que requer preparação e familiarização com as novas tecnologias, especialmente para as gerações mais jovens. “A transição para uma economia mais digital pode parecer inevitável, e provavelmente seria gradativa. Preparar-se envolve se familiarizar com novas tecnologias e adotar boas práticas de segurança. Algumas pessoas podem precisar de mais tempo e apoio para se adaptarem, enquanto outras já estão prontas para abraçar essa mudança”, reflete.