O mês de outubro é dedicado a uma das campanhas mais importantes de saúde pública: o Outubro Rosa, que busca conscientizar a população sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama. Por isso, o Semanário traz uma série de reportagens sobre o tema.
Dr. José Luiz Pedrini, primeiro entrevistado da série, tem uma longa trajetória como pesquisador e prestador de serviços de mastologia em hospitais renomados, traz novidades sobre o combate ao câncer de mama, abordando desde a prevenção até os tratamentos mais inovadores. “Temos boas novidades, tanto na cirurgia quanto nos tratamentos com anticorpos monoclonais, que hoje, superam os tradicionais, efeitos colaterais reduzidos como a perda de cabelo”, afirma.
O médico ressalta que, apesar dos avanços, os principais sinais e sintomas do câncer de mama permaneceram os mesmos. “A presença de um nódulo na palpação, a retração do mamilo, a cartilagem mamilar ou a pele com aspecto de casca de laranja são os sinais mais comuns”, explica. Ele reforça a importância do autoexame mensal e da mamografia a partir dos 40 anos, além de recomendar a procura imediata de um médico ao não haver qualquer alteração.
Nos últimos anos, a medicina evoluiu significativamente, principalmente na personalização dos tratamentos. “Hoje, não há mais necessidade de cirurgias invasivas. Fazemos o mínimo necessário, como um alfaiate que ajusta o tratamento na medida que a pessoa precisa”, compara Pedrini.
Na área da quimioterapia, as mudanças são igualmente revolucionárias. “Estamos fornecendo a quimioterapia tradicional para tratamentos com anticorpos monocionais, que têm menos efeitos colaterais e podem ser administrados de forma subcutânea”, destaca. Um dos principais avanços é o uso do medicamento Trastuzumabe Deruxtecana, que combina um anticorpo com um quimioterápico, atacando diretamente as células tumorais com precisão e menor toxicidade.
Ações contínuas
Pedrini também fala sobre o impacto das campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa, no aumento da procura por exames. “O Outubro Rosa tem um papel importante em alertar as mulheres. Sabemos que campanhas como essa aumentam a demanda por exames e, consequentemente, a chance de detecção precoce”, enfatiza.
Entretanto, ele lembrou que a conscientização deve se traduzir em ações contínuas. “O Outubro Rosa não deve ser apenas um mês de alerta. Precisamos garantir que as mulheres tenham acesso a exames e tratamentos o ano todo, principalmente no SUS, que atende a maior parte da população”, frisa.
Pandemia e o impacto sem diagnóstico
Durante a pandemia da Covid-19, o número de diagnósticos de câncer de mama caiu drasticamente, o que evidenciou no aumento de casos avançados. “Muitas mulheres deixaram de procurar atendimento por medo de contaminação. Isso atrasou diagnósticos infelizmente”, reflete.
Agora, o desafio é recuperar o tempo perdido e garantir que todas as mulheres façam seus exames preventivos, como a mamografia e a ecografia. “O diagnóstico precoce é a chave para aumentar as chances de cura. Hoje, mais de 90% dos casos de câncer de mama são curáveis se detectados no início”, pondera.
Um futuro promissor
Apesar dos desafios, o futuro no combate ao câncer de mama é promissor. “A ciência avança a cada dia, e temos novos tratamentos surgindo que poderão revolucionar ainda mais as chances de cura”, conclui Pedrini, reforçando a importância de se ouvir e valorizar os avanços.
O especialista enfatiza a importância do exercício físico e do controle da obesidade como formas de prevenção. “Se você aumentar mais de 5% no seu peso corporal, aumenta a chance de desenvolver câncer de mama”, alerta. O acúmulo de gordura abdominal, segundo ele, é um fator que eleva significativamente o risco, devido à infiltração de gordura e à sarcopenia (perda de massa muscular) associada à obesidade. A recomendação é clara: dieta balanceada, prática regular de exercícios e o combate à obesidade são medidas que reduzem as incidências.
Mitos e fatores de risco
Muitos mitos ainda cercam o câncer de mama, como a ideia de que próteses de silicone aumentam o risco da doença. O oncologista desmistifica essa crença, afirmando que “não há nenhum risco relacionado ao uso de silicone, seja em cirurgias estéticas ou em reconstruções após o câncer”. Outro fator discutido é o consumo de álcool. “Beber moderadamente, como uma ou duas taças de vinho por dia, não impacta no risco de câncer de mama. Mas o consumo excessivo de álcool, como cinco ou mais taças sim”, pontua.
O especialista destaca que o estilo de vida moderno, com o aumento do estresse e a mudança nos hábitos das mulheres, pode estar relacionado ao aumento dos casos de câncer de mama. Profissões que envolvem trabalho noturno, como a enfermagem, podem alterar o ciclo circadiano e aumentar em até 20% o risco de doença. “O corpo humano foi programado para dormir à noite, e a desregulação desse ciclo ao longo dos anos pode influenciar o desenvolvimento de câncer”, conta.
Avanços na ciência
O Rio Grande do Sul é um dos polos mais importantes de pesquisa clínica no Brasil, ao lado de São Paulo, segundo o oncologista. “Participamos de pesquisas internacionais e estamos entre os cinco maiores centros de pesquisa clínica no mundo no tratamento do câncer de mama”, afirma. Ele também ressalta que o foco atual das pesquisas é na qualidade de vida dos pacientes, com o desenvolvimento de medicamentos menos agressivos e que mantêm a autoestima das mulheres, como aqueles que não causam queda de cabelo.
Casos em homens
Embora o câncer de mama seja raro entre os homens, com uma proporção de um caso para cada 200 em mulheres, ele existe e muitas vezes é diagnosticado tardiamente devido à resistência masculina em busca de ajuda. O oncologista explica que o principal fator de risco para os homens é a familiaridade, ou seja, ter parentes próximos, como mães ou irmãs, que tiveram a doença.
Na Serra Gaúcha, a longevidade e a ascendência caucasiana são fatores que aumentam a incidência de câncer de mama. “O Rio Grande do Sul tem cerca de 90 casos anuais a cada 100 mil habitantes. Em Bento Gonçalves, por exemplo, com uma população de 120 mil habitantes, é esperado em torno de 50 a 60 novos casos”, alerta.
A importância do suporte emocional no tratamento
O impacto emocional do diagnóstico de câncer de mama é profundo, especialmente para mulheres que enfrentam queda de cabelo ou remoção da mama. “O apoio emocional é crucial, e o acolhimento por grupos de autoajuda, como a Liga de Combate ao Câncer, faz toda a diferença”, afirma o oncologista. Ele critica a falta de atenção dada ao aspecto emocional pelos profissionais de saúde, apontando que “muitas vezes, os médicos não permitem que os pacientes expressem suas angústias”, aborda.
Reconstrução mamária: um direito que precisa ser garantido
Outro ponto polêmico abordado pelo especialista é a falta de acesso à reconstrução mamária imediata para muitos pacientes do SUS. “Esta assistência é um direito garantido por lei desde 1999, mas 80% das mulheres atendidas pelo SUS ainda não têm acesso a ela”, denuncia.
Ele aponta que a falta de conhecimento sobre esse direito e a ineficiência dos serviços de saúde são os principais empecilhos. “Reconstruir a mama no momento da cirurgia reduz o trauma físico e psicológico, e é muito mais econômico do que realizar várias cirurgias”, pondera.
Para finalizar, o oncologista deixa um conselho importante: “Não esconda seus sintomas. Procure um especialista o quanto antes, porque quanto mais cedo diagnosticar, maiores são as chances de cura”. Ele reforça que o câncer de mama é uma doença curável na maioria dos casos, especialmente com os avanços nas cirurgias menos invasivas.
Direitos da mulher com câncer
- Tratamento Rápido: Lei dos 60 Dias (Lei nº 12.732/2012): mulheres diagnosticadas com câncer têm o direito de iniciar o tratamento pelo SUS em até 60 dias após o diagnóstico.
- Mamografia Gratuita: Lei nº 11.664/2008: mulheres a partir dos 40 anos podem realizar mamografias gratuitas pelo SUS, essencial para o diagnóstico precoce do câncer de mama.
- Benefícios Previdenciários: mulheres com câncer podem solicitar auxílio-doença se precisarem se afastar do trabalho. Aposentadoria por invalidez é possível se a condição impedir o retorno ao trabalho.
- Saque do FGTS e PIS/PASEP: mulheres diagnosticadas com câncer podem sacar o FGTS e o PIS/PASEP para ajudar nas despesas do tratamento.
- Isenção de Imposto de Renda: isenção do Imposto de Renda para rendimentos de aposentadoria, reforma ou pensão para mulheres com câncer.
- Reconstrução Mamária: Lei nº 9.797/1999: direito à cirurgia de reconstrução mamária pelo SUS após mastectomia, independentemente do estágio do câncer.
- Assistência Psicológica e Social: acesso a atendimento psicológico e programas de assistência social, essenciais para suporte emocional durante o tratamento.
A mensagem final do especialista é clara: enfrentar o medo e buscar ajuda são os primeiros passos para vencer o câncer de mama, e o apoio emocional é fundamental para garantir uma boa qualidade de vida. Acesse a entrevista na íntegra: