Os presídios de Bento
Quando eu era guri, o presídio municipal ficava embaixo da Prefeitura, na parte frontal, e tinha uma janela com grades através da qual os presos espiavam o movimento da rua principal da cidade, a Marechal Deodoro, hoje com o codinome Via Del Vino. Eu olhava os presos “espiões” – eram poucos – e concluía que até “era bom” estar ali, “casa, com vista panorâmica deslumbrante, comida e roupa lavada”, sem ônus algum como “capinar na roça, espantar gafanhotos, colher milho e trigo”, essas coisas. Bolsonaro tá de olho nisso.
Depois construíram o novo presídio “lá no meio do mato”, como se diz expressando algo longe, e onde caberia “um monte de presos”. Vendo o presídio do alto (foto) até que era “bonitinho”. Passaram-se longos anos, a população não aumentou tanto assim, mas a marginalidade, sim, aumentou de forma desproporcional. Caberiam no presídio, 92 pessoas, mas tem lá dentro 320 presos. E a localização passou a ser no centro urbano, a alguns metros da Prefeitura.
Os presos tiveram então, no novo presídio, “casa, comida, roupa lavada, banho de sol, quadra de esportes” mas perderam a “vista privilegiada”.
Passou-se o tempo, a população de Bento não aumentou tanto assim, porém a população carcerária sim. Esboçou-se o movimento vitorioso “vamos tirar do centro aquele presídio vergonhoso, verdadeiras jaulas, diríamos melhor, e vamos construir um presídio novo, modelar. E assim se fez. Nesta quinta-feira, o Governador veio inaugurá-lo.
A Fortaleza
A inauguração do novo presídio teve repercussão nacional. Nada de pompas, porque nem político festeja inauguração de presídio, seria preferível inaugurar escolas. Assim, o Governador veio e disse “habite-se” e pronto. Os cidadãos de bem esperam que a “nova casa prisional”, (termo bonito não?), seja dotada de normas de segurança anti-fugas; que a influência das facções seja isolada, que haja uma efetiva política de reintegração dos presos à sociedade; que haja cursos profissionalizantes.
Que daqui uns tempos, não haja superlotação, tipo tem vaga para 400 presos, mas tem 800 “hóspedes”; que não haja transferência de presos condenados em outros municípios para cumprir pena em Bento; que não se forme, em torno do presídio, uma vila de moradores, familiares de apenados, o que é fato comum. Que, no futuro, sejam implantadas políticas públicas de combate às causas da marginalidade, de tal forma que o presídio novo seja desativado por falta de “hóspedes”; e que possamos viver num mundo social constituído de ex-apenados, reintegrados ao meio social e disputando o mercado de trabalho.
Serei eu um romântico? Estarei eu sonhando? Porque não sonhar?
Vai depender, vai depender, vai depender do que os políticos vão fazer. Realizem meu sonho, políticos. Não quero presídios!
O futuro dos investimentos
Reestrutura-se a Brigada, estrutura-se a Brigada, troca-se Comandantes, tira daqui, bota lá… Essa mobilização policial assume mais notoriedade até diante dos feitos do Governador, não de governar, muito menos de inaugurar obras, mas no sentido de equilibrar o Caixa do Estado, pagar os salários, pagar a dívida com a União.
O povo não quer nem saber “onde fica o Alegrete”, ele quer cinco coisas básicas: segurança, saúde, educação, estradas e empregos. Investir, como Bento investiu em 2019, mais de um milhão e meio de reais no combate a marginalidade e não no combate às causas de seu surgimento, deve ser considerado uma necessidade emergencial. Filas, cirurgias adiadas, limitações ao acesso a saúde, falta de medicamentos, isso impacta a população. No campo educacional, por mais que se faça, tem tudo para fazer. Creches é artigo de luxo.
Não é à toa que os políticos, catadores de votos em Bento, contribuem para o Hospital Tacchini e, deu. O engraçado nisso tudo é que os políticos não falam isso. Não tem coragem de dizer o quanto estão fazendo diante daquilo que o povo quer e das dificuldades de conseguirem ir de encontro aos anseios da população. Aí então surge o “Bolsonaro neles”! Fake, Selfies, Lives, tudo virou uma espécie de “cultura inútil”, que ao invés de contribuir para uma nova era de desenvolvimento e comunicação, vira instrumento de maledicências, de desestruturação de famílias, de má formação da juventude, de um desconcerto social.
Os fakes do vereador
O Vereador Moacir Camerini está sendo acusado em inquérito legislativo de produzir fakes e outras “cositas” em benefício próprio e em detrimento da classe política. Não tenho tido a oportunidade de ler sobre do que exatamente Camerini está sendo acusado. Tenho assistido alguns pronunciamentos dele na Câmara e cheguei a conclusão que Camerini é centrado, focado. Suas colocações são sustentáveis e as denúncias parecem consistentes. E isso certamente constrange muitos de seus colegas Vereadores.
Não muito afetos ao trabalho político, mas a benesses que lhes possibilitam fazer uma espécie de “reserva de mercado”, o que poderia ser classificado também como “fake eleitoral”. Camerini constrange também o Executivo ao apontar erros e omissões assim como constrange a mesa Diretora da Câmara. Tudo isso é natural dentro de um processo político, menos em Bento onde se instaurou um processo de que “quem é amigo do rei (quem é o rei?) é, quem não é, o inimigo é”.
Ao receber os libelos acusatórios e a defesa de Camerini, com base no que determinou a interrupção do inquérito, a juíza deve ter ficado pasma ao constatar que a nossa Bento, agora iluminada até por balões, viva com essas picuinhas políticas e que, em decorrência delas, não se combate o inimigo fazendo mais e melhor que ele mas sim, destruindo-o. Nos neurônios da juíza deve ter escapado um pensamento do tipo “eita cidadezinha fake essa Bento”.