Especialistas ressaltam alguns dos principais riscos dos cigarros eletrônicos, como doenças pulmonares e cardiovasculares, dependência à nicotina e riscos para a saúde bucal, como gengivites e aftas
Embora muitas pessoas considerem os cigarros eletrônicos uma alternativa “mais segura” ao tabaco tradicional, especialistas alertam que essa percepção pode ser enganosa. A Dra. Francielle Moro Fuligo, pneumologista do Hospital Tacchini, destaca que, embora menos prejudiciais do que os cigarros convencionais, os vapes estão longe de ser inofensivos.
De acordo com a Dra. Francielle, o uso de cigarros eletrônicos está associado a diversas condições graves, incluindo asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, além de problemas de saúde bucal, como gengivites e aftas. “Apesar de conterem menos substâncias tóxicas do que o tabaco, os cigarros eletrônicos ainda apresentam riscos significativos. Eles não são seguros”, reforça a pneumologista.
Substâncias químicas tóxicas
Os cigarros eletrônicos contêm uma mistura de substâncias prejudiciais, incluindo nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal, formaldeído, acroleína, diacetil e metais pesados como chumbo e cádmio. Essas substâncias estão ligadas a uma condição pulmonar grave conhecida como EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de produtos de vaping).
O acetato de vitamina E, presente em alguns líquidos com THC, é um dos principais suspeitos. Quando inalado, ele pode formar uma camada oleosa nos pulmões, dificultando a troca gasosa e causando inflamação severa. Outros compostos tóxicos, como óleos vegetais e aditivos, também são prejudiciais quando inalados.
Impacto em grupos vulneráveis
Jovens e adolescentes estão entre os mais vulneráveis aos efeitos do vaping. Estudos da Universidade da Califórnia mostram que adolescentes que usam cigarros eletrônicos têm cinco vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios. Além disso, a exposição precoce à nicotina pode causar dependência e aumentar o risco de migração para o tabaco convencional. “O vaping é especialmente perigoso para quem já possui doenças respiratórias, como asma e DPOC, podendo agravar os sintomas e levar a complicações graves”, alerta Francielle.
![](https://jornalsemanario.com.br/wp-content/uploads/2025/02/WhatsApp-Image-2025-01-30-at-10.34.14.avif)
Mitos
Muitos mitos cercam o uso dos cigarros eletrônicos, como a crença de que são completamente seguros ou que o vapor emitido é apenas água. Na realidade, o que se inala é um aerossol químico, contendo nicotina, metais pesados e substâncias cancerígenas.
Outro equívoco comum é acreditar que os vapes ajudam a parar de fumar. Embora algumas pessoas usem esses dispositivos com essa finalidade, não há evidências definitivas de sua eficácia. Em muitos casos, os usuários acabam mantendo o consumo de nicotina, seja por meio do vaping ou do cigarro tradicional.
Alerta dos especialistas
A Dra. Francielle enfatiza que a falta de estudos de longo prazo não significa ausência de riscos. “O fato de não termos dados sobre os efeitos após 20 ou 30 anos não deve ser visto como uma garantia de segurança. Pelo contrário, os indícios atuais já são suficientes para acender um alerta vermelho”, conclui.
O Dr. Alexandre Pressi, pneumologista, destaca que a principal diferença do cigarro tradicional e do eletrônico está na presença dos sais de nicotina. “Essa substância provoca uma dependência muito maior, porque tem uma afinidade maior com os receptores cerebrais, desencadeando uma sensação de bem-estar mais intensa e rápida”, explica.
Essa dependência acentuada é um dos fatores que tornam o cigarro eletrônico tão atraente, especialmente entre adolescentes. O apelo tecnológico, com dispositivos que interagem com celulares e smartwatches, somado à variedade de sabores — mais de mil, incluindo o mentol, que potencializa ainda mais a dependência —, contribui para a popularização do hábito. “O mentol é um exemplo claro de como um sabor pode aumentar o potencial de vício”, alerta o especialista.
![](https://jornalsemanario.com.br/wp-content/uploads/2025/02/WhatsApp-Image-2025-02-05-at-14.34.39-1-768x1024.avif)
Um dos mitos mais persistentes é o de que o cigarro eletrônico seria menos prejudicial por não conter alcatrão e não envolver combustão completa. No entanto, Dr. Pressi esclarece: “O aquecimento do líquido nos dispositivos, que ocorre entre 350ºC e 450ºC, libera nanopartículas altamente cancerígenas, afetando vias respiratórias, boca, esôfago, pulmões e até mesmo a bexiga e o estômago”, diz.
Fumo passivo
O fumo passivo também é um fator de preocupação crescente. Estudos indicam que filhos de pais que usam cigarros eletrônicos têm 5,2 vezes mais chances de serem hospitalizados por doenças pulmonares em comparação aos filhos de pais fumantes de cigarros tradicionais. “A exposição passiva é ainda mais prejudicial, pois a fumaça expirada libera nanopartículas diretamente no ambiente”, enfatiza.
O impacto cardiovascular também é significativo. O uso contínuo de cigarros eletrônicos está associado a um aumento de arritmias, acúmulo de gordura nas artérias (aterosclerose) e maior risco de formação de coágulos. “O estresse oxidativo provocado por essas substâncias acelera o desenvolvimento de doenças cardíacas”, afirma o Dr. Pressi.
Entre os metais tóxicos presentes nos aerossóis estão chumbo, níquel, cromo, arsênio, estanho e zinco. O especialista destaca: “O zinco, por exemplo, aumenta em 2.000% sua toxicidade após o aquecimento. Já o níquel e o cromo têm um aumento de 600% na toxicidade”, afirma Pressi.
Apesar de algumas pessoas recorrerem ao cigarro eletrônico para tentar parar de fumar, o efeito costuma ser o oposto. “Estudos mostram que ocorre uma simples troca de dependência, com o agravante de que a nova é ainda mais severa devido aos sais de nicotina”, conclui Dr. Pressi.