Não é contraditório? Os mesmos pais que presenteiam seus filhos com celulares, pacotes de internet, vídeo games, agora pedem pela proibição de seu uso na escola? Mais uma falha adulta que respinga nas crianças. O celular foi inventado por adultos que, na maioria das vezes, não sabem utilizá-lo moderadamente, fazem o mesmo ao liberarem o dispositivo aos seus filhos e agora querem uma lei para sua proibição. Seria cômico, se não fosse trágico. O celular não deve ir à aula, pode atrapalhar a atenção dos estudantes, mas e em casa? Não atrapalha? Não seria melhor dialogar e ensinar ao invés de dar e obrigar o outro a proibir? Claro, daí a culpa não seria da família, mas da escola e da lei que o tornam proibido. Depois, nas quatro paredes dos quartos, o seu uso pode seguir desenfreado. Há outros lugares que esses dispositivos deveriam ser proibidos e, mesmo assim, não são. Nas cadeias, por exemplo.
Mas no caso da escola, o celular não amedronta quem educa de verdade, pelo exemplo, pela ética. O celular não me atrapalhou quando estava em sala de aula. Eram orientados a guardá-los e pediam se podiam pesquisar algo nele. Era uma relação de confiança.
Em pleno século XXI, com a internet acessível a 90% da população brasileira, será que proibir é o melhor caminho? E se fosse ensinar a usar nos momentos adequados a partir da idade recomendada e com finalidades pedagógicas?
Como as famílias têm mecanismos de controle? Usando aplicativos que restringem o acesso a alguns sites? Visualizando o tempo em que os filhos se perdem nas telas deitados na própria cama? Não temos controle quando o dispositivo é liberado. Educar dá trabalho. Por que não atribuir tarefas a eles para fazerem enquanto estariam no ócio? Por que não pesquisar cursos, ajudar em algum trabalho, fazê-los ter por merecer e não dar tudo de mão beijada? Conteúdos sexuais, perigosos e perturbadores estão por toda a parte, um vídeo no Youtube leva ao outro sem que tenhamos controle disso. Educar dá trabalho, pois requer presença. Requer mediação. Não deixá-los sozinhos consumindo esses conteúdos é a questão, mas estar ao lado, como quem assiste a um programa de TV juntos. Exige ficar junto. Não fazer outra coisa enquanto eles naufragam no mundo em que deveriam estar só navegando. Por isso, dá trabalho. A louça, a roupa, o descanso, devem ficar pra depois. As telas, também, não devem ter acesso à internet deliberadamente tampouco adentrarem os quartos na hora de dormir. Isso é responsabilidade dos pais, de novo, não da lei, do governo ou da escola. Dos pais.
Não há espaço seguro quando falamos em redes sociais, em grupos de Whats App. Geralmente, eles não servem pra nada de útil, basicamente fofoca e falar coisas impróprias. Sabemos que casos de distração e perda de foco são mais recorrentes devido à exposição às telas por serem introduzidas muito cedo e com uso descontrolado.
Uma geração que fora proibida de muita coisa e, ainda assim, arranjou um jeito de burlar a regra, parece agora não querer assumir a responsabilidade que lhe é de dever. Antes de culparem os celulares, as escolas, as leis falhas, consultem quem trabalha na área e não sejam omissos enquanto pais. Vocês não são amigos de seus filhos. São os que orientam, decidem e respondem pela educação deles. O “não” os salva de muita coisa. A culpa não é do celular ou de seus filhos, isso é um dever seu. Educar dá trabalho!