“Como ficariam “Os Dez Mandamentos de Deus” se tivessem que passar pelo Congresso?”
Essa provocação que anda circulando no face me instiga a fazer um exercício mental, uma espécie de projeção, levando em conta o comportamento dos legisladores em prol “do bem comum”.
Manteriam a ideia original esculpida nas Pedras da Lei, ou fariam tantos remendos que o texto se tornaria irreconhecível, como o pacote das dez medidas contra a corrupção?
Para maior realismo, vamos imaginar a cena toda. O Juiz do Supremo Tribunal Celestial encaminha o Decálogo ao Congresso para discussão e votação. O objetivo é constatar o grau da evolução humana, depois de milênios de Santa paciência…
Tudo muito bem, Casa cheia, trabalhos iniciados, partidos articulados, manobras previstas, microfone em punho e dedo em riste.
A palavra é passada aos dissidentes, que se juntam agora num bloco só. A unidade de pensamento e de ação garante celeridade aos trabalhos.
Uma emenda aqui, outra ali, e, finalmente, o Primeiro Mandamento vai para votação: “Amarás o dinheiro sobre todas as coisas”. Unanimidade. Um probleminha surgido – mais votos do que votantes – é ignorado pela Comissão de Ética.
O segundo exige uma discussão maior, já que a polissemia em relação à palavra inicial do Mandamento está causando dúvidas… Questões de ordem são levantadas. Afinal, tomar um uísque escocês é o mesmo que tomar um ônibus? “Só se for um jatinho”, grita alguém do baixo clero com altas ambições. Depois de muita retórica, sai a segunda regra, devidamente repaginada: “Não tomarás as dores do povo em vão”.
O terceiro mandamento recebe a maquiagem em menos de cinco minutos: “Guardar o dindin em contas suíças.”
O quarto, “Honrar a mão que lava a outra”, sai num repente.
O quinto, “Não matar a galinha dos ovos de ouro”, não demanda mais tempo do que chupar uma bala.
O sexto… “Castidade” está fora de questão, mas eles prometem deixar a redação da norma o mais próxima possível da original.
E conseguem: “Não pecar contra a calosidade”.
O sétimo – Não roubar – acaba de ser excluído pela ameaça ao livre arbítrio do cidadão de bens.
O oitavo, “Não entrar em delação premiada” deixa as excelências satisfeitas.
O nono, “Não desejar a colher do próximo” gera novas questões de ordem: “colher para Sopa de Letrinhas?” “Colher para Minestrone!” “Ou para Sopa Campeira?”
Os parlamentares nem chegam ao Décimo Mandamento, porque Ele, lá de cima, de saco cheio, arremessa um raio sobra a Terra que manda os homens ao ponto certo de sua evolução: sobre as árvores jogando m… uns nos outros.