Zona do Desperdício
Quem mora em Bento Gonçalves já deve ter se acostumado com as cenas que ocorrem nas ruas Herny Hugo Dreher e Planalto quase todas as semanas. Além das garrafas de bebida espalhadas pelas calçadas, em cima de muros e jogadas em gramados, diversas pilhas de sacos de lixo abarrotados de comida, vindos das várias pizzarias e restaurantes da Zona Gastronômica, criam um aspecto pouco apreciável para uma das áreas mais nobres da cidade. Embora não haja um compilado oficial sobre quantas toneladas de alimento são desperdiçadas diariamente na cidade, é nítido que a maior parte do desperdício poderia facilmente ser revertida para programas públicos sociais ou mesmo encaminhada a pessoas mais necessitadas. Entretanto, o que realmente precisa ser revisto é o comportamento do consumidor. Sair para jantar com o pensamento de não comer borda de pizza em rodízio para “conseguir comer mais”, servir-se muito a mais do que necessita e deixar parte da comida no prato ou mesmo estocar além do que o ideal, deixando produtos apodrecerem, são práticas egoístas, que precisam ser combatidas e reexaminadas. Basta lembramos que todos os dias, 870 milhões de pessoas passam fome no mundo.
Quem tem boca, vaia Roma
Façanha rara nos últimos tempos, alguns políticos estão sendo vaiados em Bento, e não é durante as sessões ordinárias da Câmara de Vereadores. Quem participou da assinatura do termo que homenageia o Ginásio Municipal de Esportes com o nome do ex-prefeito Darcy Pozza (in memoriam) notou o coro de vaias durante parte dos discursos do secretário Virissimo e do prefeito Pasin. Os motivos para a atitude negativa podem ser diversos, como a insatisfação dos participantes do Campeonato Citadino pelo baixo apoio da administração à competição, contrariedade com a condução municipal ou mesmo apenas a somatória dos últimos sete anos do Progressistas à frente da municipalidade. O que fica, além do quase ineditismo do fato, é a certeza de que, depois dessa, Pasin deve estar repensando se sua sólida popularidade não começa a apresentar fissuras, tal qual se esse não é o primeiro movimento de uma possível desvalorização de um dos políticos mais promissores que a cidade já formou.
Vai doer mais um pouco no nosso bolso
Nessa semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, contrariando todo o dito “apoio” ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a retomada de taxas sobre exportação de aço e alumínio, que também pode respingar em máquinas e produtos semiacabados. Sem dúvida, a manutenção desta medida vai afetar diretamente o setor Metalmecânico bento-gonçalvense em médio e longo prazo. Entre 2013 e o primeiro semestre de 2019, as exportações apresentaram compilado de queda de 32%, conforme dados do Panorama Socioeconômico. Isso significa que o indicador, que já estava em rota decrescente, ganhará mais um empurrão para a parte Sul do gráfico. Com a economia bem aquém do que esperávamos para 2019, será que nossa indústria aguenta isso por mais muito tempo?
Um peso, duas medidas
Essa foi uma semana incomum em Bento Gonçalves, graças ao encontro do Mercosul, realizado no Vale dos Vinhedos, com toda a grandiosidade que seu nome já agrega à cidade. Difícil pensar na nossa rota mais tradicional sem lembrar das belezas, do asfalto quase sempre impecável, da excelente sinalização e da variedade de atrativos aos turistas. O Vale sempre será desejável e próspero. Entretanto, na maioria dos casos, quem visita Bento Gonçalves também aproveita para conhecer o Caminhos de Pedra, e lá, a situação é um pouco diferente.
Os dissabores começam antes mesmo de entrar na rota, de fato, com o asfalto desnivelado que corre pela ERS-444 e a vista pouco agradável da falta de infraestrutura e planejamento no Eucaliptos, fruto de políticas públicas falhas em gestões passadas. O cartão de boas-vindas é uma placa gigante, completamente desbotada, com resquícios de mato onde deveriam constar todos os atrativos que o visitante encontraria pelo caminho. Após superar esta etapa – colocando o endereço em um GPS, talvez – o turista começa a aventura pelos “caminhos da sorte”, desviando de buracos no asfalto e falhas no acostamento – nas partes que não foram tomadas pela vegetação. Durante esta etapa, também é preciso superar os motoristas que resolvem fazer retorno no meio da via ou simplesmente “abandonar” o veículo parcialmente sob a rodovia para fazer “selfies” em algum dos antigos casarões.
Fica nítido que o Caminhos de Pedra não está no melhor de seus períodos quanto a investimentos públicos, manutenção de atrativos naturais ou mesmo infraestrutura, o que é uma pena. Ambas as rotas – principalmente no período da Vindima, que se aproxima – têm potenciais turísticos semelhantes, motivo pelo qual é inaceitável que apenas o Vale receba atenção das partes competentes.
Operação “Sabugo de Milho”
Após os dois fiascos registrados com os vendedores de abacaxi nos últimos tempos, os próximos alvos da administração pública devem ser os vendedores de milho verde. As sinaleiras e esquinas mais movimentadas da cidade estão repletas de “autônomos”, que tentam ganhar a vida por meio da simpatia e boa conversa durante as abordagens a motoristas. Quem é daqui sabe que essa situação vai durar muito pouco, até que algum dos empresários do ramo supermercadista se sinta lesado e acione a Guarda Municipal. O resultado deve ser o mesmo: sabugo e milho para todo lado. Não podemos incentivar o comércio irregular, mas será que é muito difícil ter o mínimo de sensibilidade e empatia com quem busca nos centavos o sustento para a vida?