Precisamos ler e votar com mais atenção
Em junho de 2018, o Semanário destacou na capa de uma de suas edições que a prefeitura tinha encaminhado para a Câmara de Vereadores uma matéria que alterava significativamente o valor arrecadado por meio da Contribuição de Iluminação Pública Municipal. Na época, ninguém deu muita atenção ao fato, mesmo estando destacado em letras garrafais que o principal motivo da alteração era gerar atrativo para empresas participarem da Parceria Público Privada.
Nas últimas semanas, a comunidade ficou em polvorosa após o vereador Moisés Scussel (PSDB) expor, em tribuna, que a empresa detentora da PPP poderia lucrar um bom dinheiro em cima do negócio, aos custos do contribuinte. Agora, com a parceria praticamente consolidada, passaram a atacar os vereadores que votaram favoravelmente ao projeto – maior parte da base de governo, que sempre vence no Legislativo -, e em parte a prefeitura, que embora neste caso pareça ter sido direcionada a pensar em lucro e não em equiparidade, não demonstra ter agido de má fé. A culpa, senhoras e senhores, é de quem elegeu estes representantes e não cobra que defendam os ideais de campanha ou coloquem o povo em primeiro lugar. A responsabilidade é nossa, como sociedade.
COMDEMA perde mais um
“O que ocorre dentro de alguns conselhos municipais te deixaria enojado”, parafraseando um dos famosos memes que circularam pela internet nos últimos anos. Desta vez, após um desentendimento pouco amistoso, a Associação Ativista Ecológica (AAECO) decidiu deixar de vez de fazer parte do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema). O que ocorreu, conforme o relato dos participantes, é que após uma reunião sem quórum para indicação de dois conselheiros a um novo conselho, uma votação por Whatsapp – isso mesmo, por aplicativo de mensagens – elegeu os dois nomes que fariam parte do novo órgão fiscalizador. Os nomes, de acordo com o secretário-geral da AAECO, têm fortes ligações com o governo municipal, o que só engrossaria – mas não surpreenderia – a larga margem de conselheiros ligados a administração em Bento Gonçalves. Deste caso, além da estranheza de uma votação de indicação por grupo de Whatsapp, fica a certeza de que sem a Associação Ativista no Comdema, o caminho fica alguns metros mais aberto para aprovações que agradariam bastante os planos municipais, mas nem tanto o plano ecológico.
Façamos uma aposta
Há certo tempo a “Estação de Tratamento de Esgoto” de Bento caiu na graça popular, porém sem a devida atenção. Ainda há dúvida sobre como será apresentada a possibilidade de ligação para os moradores dos bairros “contemplados” pela obra. Ninguém sabe se haverá algum tipo de contrapartida da Corsan aos que vão se ligar à rede, ou mesmo se a cidade obrigará a ligação por parte dos munícipes, que deve custar em média R$ 400. Eu aposto que, com a lerdeza que esse assunto vem sendo tratado, a obra vai ser entregue, ninguém vai se ligar, e o caos será instaurado por meio de decretos atravessados e matérias aprovadas em regime de urgência. É triste, mas esse é o modus operandi da Capital do Vinho.
Cadeira cativa no Atlas da Violência?
Há muito, nós, como imprensa, pisamos e repisamos a cicatriz no nome de Bento Gonçalves gerada pelos indicadores de violência dos últimos anos. Uma ferida profunda que afasta turistas e assusta a população. Nas últimas semanas, várias pessoas perderam a vida na guerra do tráfico, imposta pela rivalidade de facções instaladas na cidade. São 48 assassinatos, apenas 5 a menos do que o registrado em 2018, nosso ano mais sangrento. Por certo, com estes resultados, ao menos por mais dois anos figuraremos no topo da lista de cidades mais violentas do RS. E por mais que se diga que este sangue está nas mãos de quem consome drogas, a verdade é que esta é uma de nossas maiores falhas como sociedade. A marginalização pelo olhar, o desemprego e o ambiente desigual não são combatidos com policiamento ostensivo. Façamos campanhas para conscientizar sobre o não uso de drogas, sim, mas também atentemos para as pessoas à mercê da pobreza. De que nos vale trocar traficantes e homicidas por ladrões, estelionatários e picaretas? Se não pensarmos neste sentido, manteremos cadeira cativa no Atlas da Violência.
129 motivos publicitários
No fim das contas, vale o que está entregue ou o que está previsto? Sim, pois se o que conta é o primeiro, o Governo Municipal está bem aquém do que deveria quanto à infraestrutura prevista para 2019. 68% abaixo, para ser mais preciso. É complexo afirmar se houve falha no planejamento das mais de 120 obras prometidas ainda em 2018, se tudo não passou de propaganda política – até porque inspirou vários outros prefeitos da região a lançarem seus “pacotes de obras” logo em seguida -, ou se a arquitetura do plano já previa a entrega de boa parte das obras, principalmente as mais complexas, em pleno ano eleitoral. No meu entender, uma promessa feita com tanta propaganda, mas com prazo de entrega não cumprido é ato publicitário.
Esse não é o trabalho, amigos
Aos que ainda se aventuram em acompanhar as sessões ordinárias da Câmara de Vereadores, devem ter reparado que nos últimos encontros, poucos projetos que tenham a comunidade como foco, à parte de aberturas de créditos e nomes para ruas, foram votados. Mesmo assim, as sessões duram mais de 2h. Por quê? Pois nosso parlamento municipal segue como um campo de batalha, travado nos frontes do “restabelecimento da verdade” e “eu tenho ética, você não”. Que o processo de cassação do vereador Camerini ia dar o que falar, todos já imaginavam. Entretanto, o nível ao qual a situação chegou é lamentável. Ataques diretos a familiares, atos de espionagem, indecoro desvelado, cartazes pejorativos e gritos de fúria não fazem justiça à importância do cargo de parlamentar. A possível denúncia para rescisão do mandato deve chegar à Ordem do Dia em pouco tempo. Mas, sem dúvida, após o trânsito em julgado, haverão muitos outros temas para digladiar, marca registrada desta legislatura. Quem sabe, até 2020 entendam que não lhes pagamos com essa finalidade.