Direção da Marcopolo, principal montadora de ônibus do país, detalha como está a frota de circulação no estado
Apesar da recente popularização, os veículos elétricos não são uma novidade. Eles existem desde o século 19, quando pesquisadores começaram a explorar o desenvolvimento de veículos movidos a bateria. Os ônibus elétricos, ao invés de diesel, ou armazenam a eletricidade a bordo, geralmente em uma bateria, estes que são os modelos mais populares; ou são alimentados por uma fonte externa, como os trólebus , que recebem energia elétrica de duas hastes metálicas no teto conectadas à rede aérea.
História dos veículos elétricos – ascensão, declínio e ressurgimento
Em 1835, o estadunidense Thomas Davenport construiu o primeiro veículo elétrico, uma pequena locomotiva, movida por um motor de eletricidade. A criação do primeiro carro elétrico se deu em 1890, também nos Estados Unidos, no estado de Iowa, onde William Morrison construiu um veículo que podia acomodar seis passageiros e atingir até 20 km/h, podendo viajar por 160 km sem a necessidade de ser recarregado.
Esse invento impulsionou as montadoras, e nos anos 1900, os carros elétricos atingiram seu auge de popularidade nas ruas dos Estados Unidos, porém, dependiam de uma estrutura de carregamento ainda escassa. Em contraste, os carros a combustão tinham maior alcance e potência, especialmente após o Ford Model T, lançado em 1908. A produção em massa do Model T reduziu significativamente o custo dos carros a gasolina, tornando-os mais acessíveis e levando ao declínio dos veículos elétricos.
O primeiro carro elétrico, construído por William Morrison; e o Ford Model T, veículo que consolidou os carros a diesel no mercado
Na década de 1970, a crise causada pelo embargo da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) fez o preço do petróleo disparar. A escassez e o custo elevado reacenderam o interesse em alternativas de transporte, incluindo os veículos elétricos, pois a crise destacou a vulnerabilidade da dependência de combustíveis fósseis. Isso estimulou pesquisa e desenvolvimento em mobilidade elétrica, que nas décadas seguintes foi impulsionada por novas preocupações ambientais e pela necessidade de independência energética.
Devido a recente preocupação com a poluição do meio-ambiente, estes veículos, que haviam sido bastante populares no começo do século 20, voltaram a se destacar. A China foi pioneira na adoção do ônibus elétrico como uma alternativa de transporte sustentável. Atualmente, o país possui mais de 400 mil ônibus movidos por energia em circulação, representando cerca de 99% da frota global.
Circulação no estado
Na Serra Gaúcha, a Marcopolo, com sede em Caxias do Sul, é a principal montadora de ônibus do país. Ricardo Portolan, diretor de operações comerciais internas e marketing da empresa, aborda os projetos de ônibus elétricos que a fabricante tem em andamento. “O Attivi Integral é o primeiro ônibus da Marcopolo com chassi próprio e 100% elétrico. Desenvolvido totalmente no Brasil, predominantemente com itens fabricados por empresas nacionais, inclusive componentes eletroeletrônicos, o modelo consolida a expertise da engenharia automotiva brasileira”, destaca.
Portolan também detalha as características do veículo. “Possui capacidade para 80 passageiros, além de uma autonomia de até 250km e tempo de carga de até 4 horas. Além disso, a Marcopolo tem atualmente cerca de 1.000 ônibus elétricos (incluindo chassis de outras marcas) e híbridos circulando no Brasil e no exterior”, completa.
O diretor de operações comerciais destaca que os ônibus elétricos já são uma realidade aqui no Rio Grande do Sul. “Atualmente, são oito modelos do Attivi Integral em circulação pelas ruas de Porto Alegre. Além de testes já realizados com o veículo em outros municípios, como Curitiba-PR, Juiz de Fora-MG, Camaçari-BA, entre outros”, pontua.
O Attivi, primeiro ônibus da Marcopolo com chassi próprio e 100% elétrico, conta com oito modelos em circulação por Porto Alegre (Imagens: Marcopolo / divulgação)
Ele segue abordando os desafios requeridos para a circulação de um ônibus elétrico. “Vivemos um processo de transição entre os motores movidos a combustão e elétricos e isso envolve investimento em infraestrutura das cidades para que tenham condições de receber veículos mais sustentáveis. Diante disso, acreditamos que uma alternativa viável é a implantação de diferentes propulsões, como modelos elétricos, híbridos e movidos a hidrogênio”, explica.
Portolan finaliza reforçando os benefícios dos veículos elétricos, além da sustentabilidade e preservação do meio ambiente. “O principal benefício é usar uma matriz energética limpa, com combustível renovável em seu ciclo de vida. A adoção desses modelos traz uma série de benefícios para a sociedade: eles emitem menos poluentes e menos ruídos, além de possuir menor custo de utilização e de operação”, detalha. Ele segue reforçando o compromisso da empresa com a sustentabilidade. “A Marcopolo está impulsionando a mobilidade sustentável em busca da descarbonização do transporte por meio da implementação de ônibus elétricos e híbridos. Além disso, incentivamos pesquisas relacionadas ao biodiesel, diesel verde e gás natural, fontes de energia renovável que podem substituir o uso de combustíveis fósseis”, conclui.
Desafios enfrentados
Apesar de minimizarem os impactos no meio ambiente, se mostrando como alternativas de transporte sustentáveis, os ônibus elétricos ainda enfrentam alguns problemas. Um deles, é justamente a questão da infraestrutura, que demanda investimento, e a necessidade de ter pontos de recarga nas garagens ou terminais. A captação de recursos, pelo poder público, para investimentos no desenvolvimento de transporte e infraestrutura urbana torna-se crucial. Uma vez que a transição energética exige planejamento, financiamento e cooperação com empresas privadas. A quantidade de energia necessária, cerca de 1.59 KWh/KM, um custo equivalente a 50 centavos por quilômetro rodado, é outro entrave. No caso dos trólebus, eles acabam se limitando a áreas com rede aérea de energia.
Esses motivos, limitam a atuação, fazendo com que os ônibus elétricos, no momento, atuem apenas como transporte urbano. Atualmente, eles representam menos de 1% da frota nacional de ônibus, com cerca de 578 veículos em circulação. Apesar da baixa porcentagem, o Brasil ainda é o país com a maior circulação na América Latina.