As fortes enchentes que devastaram Bento Gonçalves e região em maio de 2024 deixaram não apenas famílias desabrigadas, mas também um grande número de animais em situação de risco. A resposta a essa emergência veio através de um esforço coordenado entre o poder público, ONGs e voluntários, que atuaram no resgate e acolhimento dos animais afetados.
O trabalho de resgate e acolhimento foi coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente, liderada pelo Secretário Volnei Tesser, que explicou o plano de ação emergencial. “Houve a aquisição, de forma emergencial, de 1.200Kg de ração para cães (adultos e filhotes) e gatos (adultos e filhotes); Articulação com setores da municipalidade, para ampliar, de forma emergencial, a oferta de vagas para cães e gatos em abrigo contratado pelo município e iniciamos uma campanha para recebimento de doações para animais vitimados/ resgatados por eventos climáticos ocorridos no município, tais como: rações, remédios, cobertores, casinhas, coleiras, cordas, materiais de higiene e limpeza, toalhas, potes para alimentação, entre outros”, pontua Tesser.
A alocação dos animais naquele período foi no Salão da Comunidade Nossa Senhora do Rosário, na Sede do Distrito de Faria Lemos, onde ocorreu as operações de resgate de pessoas pelas forças de segurança, mediante a disponibilização de doação de ração aos animais, atendimento veterinário, triagem, encaminhamentos para abrigo, acolhimento aos animais das famílias resgatadas das áreas de risco, apoio aos cães das forças de segurança quanto às suas necessidades, articulações com as forças de segurança para resgate de animais que se encontravam em áreas de risco, entre outras situações relacionadas.
Segundo o secretário, ainda houve uma reunião com protetoras independentes para informar quanto às ações emergenciais a serem desenvolvidas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente neste momento de calamidade, bem como, quanto aos serviços prestados pelo Departamento Municipal de Bem Estar Animal.
Resgate e acolhimento
As equipes de resgate, em colaboração com voluntários, trabalharam para salvar os animais que estavam presos em residências ou perdidos em áreas de risco.
Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Bento Gonçalves, Gustavo Kist, foram resgatados outros animais além de cães e gatos. “Foram realmente momentos marcantes de um elevado grau de complexidade, onde inicialmente nós estabelecemos uma pirâmide de prioridades na qual a gente priorizou a vida humana. Foram mais de 1150 salvamentos humanos ao longo dessa operação de salvamento e na sequência nós buscamos valorizar também a vida dos animais. Resgatamos inúmeros animais: cães, gatos, mas também pássaros que estavam presos dentro de residências. Também teve o caso marcante de um servo filhote que a gente conseguiu resgatar e devolver ao seu habitat natural. Na nossa região teve 284 deslizamentos, conforme a Defesa Civil, e mesmo assim a gente conseguiu um resultado exitoso, apesar das perdas, pois diante do cenário caótico, nós conseguimos estruturar e trabalhar em conjunto para preservar o máximo de vidas possível”, afirma.
Kist evidencia o trabalho de resgate: “Posteriormente, a gente encaminhou para o SAMU Pet, tínhamos veterinários voluntários também ali na região de Faria Lemos, a gente centralizou a entrega dos animais feridos ali naquela região”, conta.
A operação de resgate também envolveu animais de criação, como galinhas e cavalos, que receberam atendimento nas áreas mais afetadas. “Os animais cujos tutores foram localizados permaneceram sob os cuidados do município até o restabelecimento dos seus donos em local apropriado para recebê-los em condições, sendo que, os demais que foram abandonados seguiram para o programa de adoção responsável, sob a coordenação do Departamento Municipal de Bem Estar Animal, encontrando-se em abrigo contratado pelo município. No período da calamidade climática, foram atendidos 91 animais, dos quais 45 permaneceram em abrigo contratado pelo município, sendo que atualmente 11 encontram-se abrigados”, frisa Tesser.
Segundo o secretário, durante o ano, de forma rotineira, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, através do Setor de Fiscalização Ambiental e do Departamento Municipal do Bem Estar Animal, bem como, em ações conjuntas com a Polícia Ambiental (PATRAM) e outros órgãos de segurança pública, realiza vistorias e atendimentos de denúncias de maus tratos, muitas vezes acompanhados por médicos veterinários, podendo avaliar as condições clínicas dos animais, verificando a necessidade, ou não de resgate.
Tesser descata que não há um número exato de animais que vieram a óbito em função das catástrofes climáticas, mas que 80 animais retornaram para seus lares ou foram adotados.
União de esforços
Os órgãos públicos contaram com a ajuda da comunidade local e de outras entidades. “O município de Bento Gonçalves recebeu a doação de 6.312 kg de ração para cães, gatos e outros animais, bem como, cobertores, roupinhas, casinhas, materiais de higiene e limpeza, medicamentos, entre outros, doados pela população em geral, entidades governamentais e, também, provindos de outros Estados”, pontua.
A situação da catástrofe climática necessitou de uma união de esforços para resgates dos animais, momento em que houve o apoio mútuo entre todos os setores públicos, protetores independentes, população em geral e ONGs. “O município assumiu de imediato toda a logística e custos que envolvem os cuidados necessários para manutenção dos animais resgatados, que foram entregues para a equipe do Departamento Municipal de Bem Estar Animal, mediante atendimento médico veterinário, estadia, abrigo, alimentação, medicação, divulgação, localização e devolução para os tutores”, ressalta Tesser.
Papel das ONGs
ONGs locais também tiveram um papel fundamental no acolhimento de animais afetados.
A ONG Patas e Focinhos, embora não tenha participado diretamente dos resgates nas áreas de risco, desempenhou um papel essencial ao acolher animais de famílias que foram evacuadas em razão das catástrofes e não tinham como levar seus animais de estimação. “Os resgatados que estão conosco não estão para adoção, pois eles já possuem donos; Estamos somente acolhendo eles, até os tutores poderem retornar aos seus lares”, revela a voluntária da ONG, Laisa Favero Filippi.
Além disso, a ONG atuou como um ponto de apoio ao receber doações de rações e outros materiais necessários para os cuidados com os animais resgatados.
Ao longo de 2024, a ONG já abrigou cerca de 50 gatos e 40 cães em lares temporários. No momento, eles estão cuidando de 17 gatos e 21 cães, que foram coletados tanto em decorrência das enchentes quanto em outros momentos.
A principal dificuldade enfrentada pela ONG é a necessidade constante de ração e lares temporários para os animais resgatados. Mesmo com o apoio da população local, que tem sido generosa ao fornecer doações, a demanda por alimentos e outros materiais essenciais nunca cessa, especialmente devido ao número crescente de cães e gatos sob sua tutela.
Entre os voluntários e organizações que se mobilizaram, a ONG Amigos Pet BG desempenhou um papel importante no acolhimento de animais afetados.
Morgana Formaleoni, que é tesoureira da instituição, relata que, embora a ONG não tenha participado diretamente dos resgates, ela como protetora dos animais, foi voluntária e colaborou com as entidades: “Foram encontrados muitos animais de grande porte com fome e animais de pequeno porte amarrados ou perdidos em meio ao caos de barreiras e casas abandonadas”, explica Morgana.
Entre os diversos animais resgatados, a Amigos Pet BG assumiu a responsabilidade por uma gata, que foi levada a um hotel especializado. Todos os custos com o abrigo e cuidados da gata foram arcados pela ONG, e, após o processo de adoção, ela encontrou um novo lar.
Além disso, a ONG também liderou castrações de nove cães no município de Santa Tereza, que foram devolvidos aos seus donos após o procedimento. Atualmente, a ONG ainda precisa pagar as despesas dessa ação, que estão acumuladas em uma clínica veterinária local.
A Amigos Pet BG atualmente cuida de três animais, mas nenhum é remanescente da enchente, como a gatinha Aurora, que foi adotada mais recentemente.
O custo para mantê-los, incluindo a compra de rações especiais e medicamentos, é elevado. “Cuidar desses animais é caro, por isso estamos sempre arrecadando dinheiro para pagar as contas. Os animais que estão sob nossa responsabilidade já são idosos e o custo se torna alto para comprar ração especial e medicações”, comenta Morgana.
Embora não esteja acolhendo novos animais no momento, especialmente por conta da dificuldade de adoção de animais idosos, a ONG continua buscando apoio financeiro. “As doações são fundamentais para que possamos continuar nosso trabalho”, reforça a protetora de animais.
Mesmo que o foco principal da Amigos Pet BG não seja o resgate emergencial, o impacto da organização é significativo. A gata resgatada durante as enchentes já foi adotada, e os nove cães castrados também retornaram para seus donos. A ONG mantém uma rede de apoio para garantir que esses animais continuem recebendo os cuidados necessários
Finais felizes
Várias histórias de resgate e adoção se destacaram ao longo do processo. A gatinha Aurora foi adotada por Érica Rech, e recebeu esse nome por ter sido resgatada no Vale Aurora. “Uma amiga mandou um post sobre a Aurora estar para adoção, foi a veterinária Renata Benini que estava procurando um adotante para ela e eu resolvi adotar, pois sempre tive bichinhos e há pouco tempo tinha me mudado e estava sozinha, queria uma companhia e a Aurora parecia perfeita pra isso”, conta Érica.
Ela conta sobre como encontraram a gatinha: “Quem fez o resgate foi a veterinária Renata Benini. A minha gatinha foi encontrada em uma casa abandonada, depois da enchente na Linha Aurora. Depois do resgate, Dra. Renata ficou cerca de três meses procurando alguém para adotá-la”, conta.
Érica finaliza dizendo que Aurora está sendo muito bem cuidada. “Ela está super bem, se adaptou rápido a casa, virou filha única e está sendo muito mimada”, conclui.
Outra história comovente é a de Tiane Villa, que adotou uma gatinha no período crítico das enchentes. “Achei bem no período das chuvas. Estava na rua, toda molhada, toda assustada miando muito. Não sei se foi abandonada ou se perdeu”, relembra.
Agora a Moli, o pet adotado por Tiane tem um novo lar. “Ela está muito bem, se adaptou com os outros animais que tenho. Faz duas semanas que ela foi castrada e ela é muito fofa. Tenho seis gatos no total, todos adotados”, enfatiza.
Embora muitos animais tenham sido resgatados e já estejam em segurança, o desafio de manter os cuidados necessários persiste. Tanto o município quanto as ONGs continuam precisando de doações e apoio da comunidade para garantir que os animais ainda abrigados possam ter uma vida digna.
Para doar para a ONG Amigos Pet BG é possível fazer através do Pix: 40.380.288/0001-40.
Já para doar para a Patas e Focinhos o Pix é: 18.483.041/0001-41. Para quem quiser contribuir mensalmente, as duas ONGS oferecem a opção de doações por boleto.
A Patas e Focinhos também dispõe de lugares espalhados pela cidade para doações de ração, cobertas, remédios, coleiras, guias e potes. São eles: Agropet Furlanetto, República dos Animais, Agro Pet Botafogo, Pet Feranello, Agropet dos Anjos, Agropet Cantinhos dos Animais, Lucky Banho e Tosa, Buckel Agrocenter, Petiscão e Petisgato, Recanto dos Animais, Spa do Pet, Central de Rações, Fidely, Pet Shop Framello e Recanto Nativo.