O menininho gosta de churrasco, que é uma coisa que vem do açougue, aprecia frango, que vem do mercado, come ovos, que vêm da caixinha de isopor. Ah! E o leite, que vem da latinha amarela.
Na escolinha, “Atirei o pau no gato” virou “Não atire o pau no gato”.
E “O cravo não brigou com a rosa”, mas a encontrou “debaixo de uma sacada”, sendo que “ele ficou muito feliz” e ela, “encantada”.
O Lobo Mau só deu um susto na vovó e jamais foi estripado pelos lenhadores. Inclusive, o gurizinho vestiu a personagem durante um ano inteiro, depois que o lobo deixou de ser panaca e queimar o bumbum no caldeirão postado embaixo da chaminé da casa de tijolos do porquinho Prático.
O Homem Aranha está em alta agora, com suas teias que saem das mãos e atingem distâncias calculadas. Ninguém consegue se mover enredado naquelas armadilhas elásticas e adesivas. Mas ele já ganhou as botas do Capitão América, outro super-herói, que vai salvar o Brasil dos políticos corruptos. Opa! Por enquanto, só vai capturar os bandidos… se bem que é tudo a mesma coisa.
O baixinho se amarra em histórias e já demonstra interesse por contos assustadores, com tiranossauros que comem gente, “de mentira”, e fantasmas que “não são de verdade”, ele garante, quando eu fico com “medo”. Quer ver o tubarão que engole pessoas, mas ainda não descobri se ele pensa ser fato ou ficção.
Antes de dormir, pede sempre uma historinha, na qual o menininho viaja até o sono dobrar o pai ou a mãe. Então ele fecha os olhinhos e descansa a curiosidade, porque sabe que, no outro dia, a aventura continua.
Numa noite dessas, tendo esgotado o acervo de histórias fantásticas, o pai catou, no fundo do baú, um caso real e deu uma repaginada para adequá-lo à idade do baixinho.
Era do tio X, que encontrara, no pátio, um lagartinho faminto, que foi acolhido, ganhando casa (gaiola) e comida. O narrador descreveu o bichinho, que tinha quatro perninhas, olhos com pálpebras, escamas esverdeadas, rabinho, coisa e tal. E que tomava mamadeira que nem um bebê. “Que nem as ovelhinhas?”, acrescentou o menininho. Sim, que nem as ovelhinhas que ele alimentara na Casa da Ovelha. Com essa imagem meiga na cabeça, ele dormiu.
No dia seguinte, o garotinho pediu pra falar com o tio ao telefone.
-Tio X, onde tá o largato (lagarto) que você engordou?
A resposta veio alta e clara:
-Eu comi!
O menininho paralisou por um instante. Acho que ainda está digerindo a informação. Bom, depois disso, ele já pode saber de onde vêm as carnes…