Quando pequena, quase toda menina da minha época brincava de professora. Muitas, ao crescerem, fizeram disso sua profissão. Eu me pergunto por que hoje já não é mais assim. Ainda lembro de todas elas, da que sempre vestia vestido florido e regata, da profe brava com cheiro de cigarro e dentes amarelos, da mais velhinha que pintava unhas e lábios de vermelho, da baixinha que falava da sua vida aos alunos na tentativa de desabafar, da que vestia as melhores roupas, da bonitona que vinha de minissaia, da que gaguejava de nervoso, enfim de todas elas. Acho que depois da minha mãe, as mulheres que mais eu temia e admirava eram minhas professoras. Saí das escolas em que estudei como aluna e voltei, tempos depois, como professora, convivendo com as minhas ex-profes como amigas. Que difícil.

Eu ainda carregava no peito o medo de não decepcioná-las. Queria continuar parecendo inteligente, meiga e as chamando de “profe”. Quando uma delas soltou um palavrão em uma reunião de escola, eu simplesmente impactei. Como assim? Minha profe?

Eu demorei pra desfazer a relação entre profe e aluna e a ligar a de colegas. Nem sei se eu queria. Para mim, elas estavam em um patamar inatingível – as que detêm o saber, as que sabem (quase) tudo, as que são ricas, têm três meses de férias, são estudadas e assim vai. Para mim, ser professora era atingir um estatus supremo de vida profissional, era ter discípulos; discípulos não, fãs. Era ter fãs, fã-clube, as mais amadas.

Quando fiz meu estágio de magistério e, posteriormente, de faculdade, senti-me realizada. Isso era mesmo o que eu queria, embora fossem outros tempos e os professores já não estavam mais com essa bola toda.

Eu queria, com meu jeito de ser, marcar a história deles. Ser inesquecível por uns instantes. Logo depois, na vida adulta, comecei a trabalhar na profissão e liguei no automático. A gente nem se percebe mais. Faz o que sabe, como rotina e fica por assim. Esperando o feriado, os três meses de férias (que não existem), a valorização da classe ao Estado. Em cada término de ano, a gente celebra o que terminou e morre de saudade dos que partem para outra etapa, porque a gente tem um sentimento de posse com nossos alunos.

Mesmo que as pessoas façam cara torta e pensem “coitada”, quando dizemos que somos professores, a verdade é que todos admiraram os seus e precisam deles para contribuir com a educação dos seus filhos.
Muitos, ainda imitam comportamentos e falam nosso nome em casa, até nos sonhos ou com o nome de bonecos. Ta aí o verdadeiro significado de influencer. Algumas famílias se preocupam em como ensinamos ou o que eles aprendem, mas poucos questionam como eles realmente são em uma sala de aula. Respeitosos? Participativos? Exemplos?

Se o professor tem esse peso aos demais, por que todos não lutam para a classe que promete ser extinta daqui a alguns anos? Será mesmo que a internet pode substituir aquele que educa, que inspira, que age também pela emoção e aconselha, e, às vezes, finge que não vê para ajudar e motiva e se preocupa como se fossem seus?

Não sei o que esperam do futuro. Eu espero uma coisa só. Quando seus filhos pedirem conselho sobre a profissão que podem seguir, deixe-os escutar seus corações e se basearem nos que acreditam como exemplos. Nós também salvamos vidas. Só que há os que ainda não acreditam.