Recentemente, no dia 31 de janeiro, os senadores do Congresso dos Estados Unidos ouviram, em audiência pública, os cinco maiores líderes das redes sociais.
Cobrados pela sociedade americana, ali representada em grande parte por pais e mães que perderam seus filhos por conteúdos publicados nas redes, o dono do Facebook ouviu, sem qualquer filtro, uma acusação direta do senador republicano Lindsay Graham: SENHOR ZUCKERBERG, EU SEI QUE NÃO É INTENCIONAL, MAS O SENHOR TEM SANGUE NAS MÃOS.
Intencional ou não, após veiculadas nas redes sociais, até mesmo a mais singela e inocente postagem pessoal, requer a devida cautela e prudência necessária, quanto mais se proveniente de organismos públicos, o que se entende, no mínimo, tenha sido previamente analisada antes da decisão pela publicação, pois os efeitos na vida real podem ser desastrosos.
Se o velho ditado ainda vale – nem tudo que reluz é ouro –, hoje, o conhecimento está a reluzir em razão da IA, inteligência artificial, e, assim, está cada vez mais difícil conceber com segurança o que é verdade, o que é mentira, pois facilmente somos traídos pelos nossos próprios olhos, pelos nossos próprios ouvidos e sim, pela nossa própria inteligência.
A propósito, quisera eu ter sido vítima de tal traição digital, quando me deparei com postagem de vídeo no telão do aeroporto, o qual advertia as pessoas que, se porventura estivessem se dirigindo para trabalhar em lavoura no SUL do país, poderiam acabar sendo escravizadas por dívidas e submetidas a trabalhos forçados.
Não bastasse o sentimento descarado de xenofobia internalizada no nosso próprio país, tal vídeo tem por cenário de fundo a cultura da uva, ou seja, uma alusão direta à nossa região vitivinícola, à Serra Gaúcha.
Não é de hoje que sofremos com a propaganda enganosa; outrora, lá pelos idos de 1875, prometeram graciosamente “la cuccagna” aos nossos imigrantes italianos, a qual se viu, não passava de falsa promessa de abundância natural, sem esforço, ao invés, somente se concretizou pela coragem, fé e trabalho de mãos calejadas. Feita “la cuccagna” e se tornado uma das regiões mais ricas do país, agora novamente a propaganda enganosa, em tom de irresponsável generalização, tenta emudecer a verdade ao discriminar nossa terra e nossa gente e ao que parece, nos penitencia com a execração pública, bem como nos penaliza pelo progresso. Cabe-nos minimamente questionar a quem interessa tal discriminação. Com o devido respeito, engana-se quem pensa se tratar de um exagero interpretar dessa forma, pois a discriminação presente em tal vídeo, mesmo que interpretada inocentemente como subliminar, não ataca somente a honra de cada cidadão, de cada agricultor, de cada colono com muito orgulho da região da Serra Gaúcha; ataca como um todo o SUL do país, ataca diretamente o Estado do RS, sua reputação e, com ela, possíveis investimentos econômicos, os quais sabemos, mesmo já assinados, poderão voar, ou ir de carro, de um porto alegre para um porto seguro.
Frisa-se, sempre será legítima a publicidade quanto à defesa de interesses individuais e coletivos por parte de nossas instituições públicas, a quem cabem tais prerrogativas legais. Entretanto, há de se questionar os meios, pois o conteúdo e publicação do referido vídeo, tal como está, nos rotula pelo local que nascemos ou decidimos construir nossas vidas, deixando no ar o forte odor nauseante da discriminação às raízes de um povo, ao seu trabalho e à sua história.
Não nos esqueçamos, ainda vivemos numa DEMOCRACIA, a qual, assim entendo, na melhor concepção do termo – DEMOCRACIA – mesmo que imperfeita, a observância da LEI jamais poderá servir como uma gangorra a diminuir e/ou discriminar cidadãos de quaisquer costões e rincões, sob pena de não fazer o seu mister, ou seja, a JUSTIÇA!
Pensar de outra maneira é flertar perigosamente com o passado sombrio da humanidade, lastreando o caminho para a intolerância, para a segregação, semeando e regando perigosamente a semente da erva daninha da discriminação.
Por outro lado, momentos como este, onde se faz necessário resguardar a integridade e honra de um povo, reconhecido pelas origens de sua epopeia migratória, providencial a célebre frase de Martin Luther King: O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS, MAS O SILÊNCIO DOS BONS.
Quisera vejamos por parte de nosso Governador do Estado, antes mesmo de publicada esta coluna, em defesa de nosso ESTADO, da SERRA GAÚCHA e em especial dos justos homens e mulheres de boa vontade que aqui labutam diariamente, a manifestação pública de repúdio à discriminação de que somos vítimas, sem qualquer bairrismo – pois assim nos taxam há muito tempo –; apenas a mesma solidariedade e notoriedade que prestara ao povo baiano quando das denúncias de trabalho escravo.
A propósito, que a tão esperada manifestação de nosso governador do Estado venha a se somar às providenciais manifestações já publicadas pelo nosso prefeito Diogo Siqueira, igualmente pelo nosso deputado estadual Guilherme Pasin, e se tornem estas uma espécie de catalizador a encorajar mais e mais polidos, respeitosos, porém firmes notas de repúdio em favor de nossa região, assinadas por prefeitos, câmeras de vereadores, entidades civis e empresariais (OAB, CIC, Sindicatos etc.) contra a descabida e sórdida discriminação encrustada em tal vídeo. Continuemos, pois, a cantar em prosa e verso, em alto e bom tom os valores de nossa terra “onde tudo que se planta cresce o que mais floresce é o amor”. Para tanto, nos cabe extrair pela raiz a erva daninha da discriminação, a qual ameaça o fruto mais nobre da humanidade, o AMOR!
COM ORGULHO, EU SOU DO SUL!
Vamos em frente!