Em entrevista exclusiva ao Semanário, dirigente reforça comprometimento da empresa na melhoria de serviços e explica sobre situações recorrentes, como é o caso da falta de água em diferentes bairros da cidade
As constantes reclamações de moradores de Bento Gonçalves sobre a falta de água seguem na pauta da gerência da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan/Aegea). Desde o início do ano, diversas situações sobre a escassez no fornecimento geram desconforto entre população e a empresa. Em justificativa, o superintendente regional, Lutero Cassol, afirma que o problema, muitas vezes, é causado por ações acidentais de terceiros e pela falta de energia elétrica, que impede o bombeamento da água até as casas. Cassol garante que, apesar das mudanças em razão da privatização da companhia, serviços seguem dentro da normalidade e afirma que o sistema de abastecimento no município está em plenas condições para atendimento aos usuários.
Considerado como essencial, o abastecimento de água é um serviço que não pode ser interrompido. Na tentativa de minimizar a situação, Cassol, recebeu a reportagem do Semanário para esclarecer dúvidas e apresentar investimentos de curto, médio e longo prazos que a estatal, agora privatizada, deve realizar na cidade.
Jornal Semanário – Com a mudança no controle acionário da Corsan, em decorrência da privatização, quais as principais ações realizadas nos primeiros meses? E o que está sendo preparado para o primeiro semestre desse ano?
Lutero Cassol – A atuação na melhoria das estruturas e da operação dos sistemas estão sendo realizadas de forma planejada e com recursos garantidos para trazer segurança operacional, regularidade do abastecimento e qualidade na água distribuída à população. Algumas ações já foram finalizadas: é o caso da implantação de dois poços artesianos no município. Outras estão em andamento, como a instalação de uma estação de tratamento de água compacta para a ampliação na capacidade de tratamento, além do reforço no sistema de distribuição, através do redimensionamento de tubulações e substituição de redes precárias. Juntamente com essas melhorias, também estamos investindo na otimização de processos, melhorando a eficiência do sistema e olhando para áreas essenciais como a redução de perdas hídricas, com o objetivo de entregar mais que a nossa obrigação. Estamos comprometidos com saúde, qualidade de vida, preservação ambiental e o desenvolvimento de Bento e do Rio Grande do Sul.
JS – Constantemente, recebemos dos leitores, inúmeras reclamações de falta de água em Bento Gonçalves. O que causa a interrupção no abastecimento de água nos municípios? E o que está sendo feito para minimizar esses problemas, visto que isso é uma situação histórica.
LC – A interrupção no abastecimento de água ocorre por inúmeros motivos. Podemos listar, entre eles, ações acidentais de terceiros que, ao executar determinado serviço, podem acabar rompendo alguma tubulação, e também a falta de energia elétrica, que suspende o bombeamento feito por motores e ocasionar a interrupção no fornecimento de água. Algumas ações emergenciais ou programadas de aprimoramento e/ou manutenção do sistema, como a troca de redes precárias ou a limpeza de reservatórios, também podem causar oscilações ou parada no abastecimento por um determinado período.
A Corsan sempre prezou por fazer melhorias para otimizar o sistema de abastecimento de água nos 54 municípios na região de abrangência da Superintendência Regional Nordeste, da qual Bento Gonçalves faz parte. A partir da chegada do novo controlador, o Grupo Aegea, a Companhia tem intensificado os investimentos e reforçado o atendimento para agilizar obras em andamento e tratar cada município com a atenção que suas prioridades e peculiaridades exigem.
JS – Outra reclamação é sobre a qualidade da água. Em alguns casos, moradores apontam coloração escura, com cheiro. Por que isso acontece e como a Corsan pretende melhorar isso?
LC – A Corsan segue rigorosamente as exigências da Portaria 888/21 do Ministério da Saúde, conforme plano de amostragem municipal protocolado na Vigilância Sanitária. Os requisitos de coleta, análise e tratamento de água atendem aos mais altos padrões dos parâmetros estabelecidos.
De qualquer forma, caso o usuário perceba qualquer alteração de qualidade, deve contatar a Companhia por meio dos canais de atendimento (app Corsan, Unidade de Atendimento Virtual do site www.corsan.com.br, ligações gratuitas pelo 0800.646.6444 ou WhatsApp 51 99704-6644) para solicitar uma verificação da situação.
Vale ressaltar que a responsabilidade da Companhia vai até o hidrômetro da residência, mas que há medidas que são obrigações do consumidor e também podem interferir na qualidade da água. É o caso da limpeza dos reservatórios, seguindo as recomendações de periodicidade da Vigilância Sanitária.
JS – Buracos de obras. Quais os principais desafios da Corsan em minimizar esses efeitos? Recentemente, um veículo acabou sofrendo danos na avenida Planalto por causa de um buraco.
LC – Boa parte das intervenções no sistema de distribuição de água, tanto para melhorias programadas quanto para manutenções emergenciais decorrentes de vazamentos, necessitam de escavação.
A Companhia trabalha com fiscalização rigorosa para que as empresas contratadas prestem serviço atendendo às normas de segurança vigentes, sinalização adequada e cumprimento de prazos contratuais. No entanto, em situações em que ocorra alguma eventualidade, o usuário pode contatar imediatamente a Companhia para verificação das responsabilidades e atendimento do ocorrido.
JS – Temos Estação de Tratamento de Esgoto no bairro Barracão, construída em 2017. Como está a situação do tratamento de esgoto hoje em Bento? Há projeção de novas estações, ampliação das já existentes? Como a Corsan trabalha para suprir as demandas de uma Bento Gonçalves em crescimento habitacional e estrutural?
LC – A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Barracão atende os bairros São Bento, Botafogo, Santo Antão, Santa Rita, Santa Marta, Fenavinho e Planalto. Atualmente, temos 1.141 ligações disponíveis, sendo que a estação tem capacidade para tratar 40 litros por segundo, o que equivale a cerca de 5 mil imóveis. A Corsan está iniciando um lote de novas ligações para os próximos meses e também dando andamento a um projeto que vai ampliar a capacidade de escoamento do esgoto tratado.
JS – Para os próximos anos, na área de tratamento de esgoto. O que a população pode esperar?
LC – O principal eixo do programa de investimentos no Estado é, sem dúvida, a universalização da cobertura da rede e sistema de tratamento do esgotamento sanitário, que deve passar dos atuais 20% para 90% em 2033, prazo estabelecido por lei federal para a universalização dos serviços de saneamento no Brasil. Um total de 258 municípios gaúchos vão passar de zero para 90% de acesso na próxima década, portanto é um investimento robusto a se fazer, demandando a instalação de mais de 20 mil quilômetros de tubulações para condução do esgoto das residências até as estações, onde serão adequadamente tratados. Ou seja: dos nossos R$ 15 bilhões programados até 2033, a maior parte vai compor obras de esgoto.
JS – Sabemos que um sistema de água é algo complexo. Nos dê sua visão e experiência sobre como é possível melhorar o abastecimento e o desperdício de água potável?
LC – Em um sistema de abastecimento, além da conscientização da população, ações para melhorias e modernização dos sistemas devem e precisam ser constantes. Por isso, uma das principais frentes da Companhia diz respeito à redução de perdas no sistema de distribuição, a fim de preservar os mananciais e também garantir a disponibilidade de abastecimento contínuo aos usuários. Investimentos em geofonia, controle e acionamento de válvulas, bem como acompanhamento de níveis e monitoramento remoto da operação, são exemplos de medidas com a finalidade de reduzir as perdas de água dos sistemas. Além disso, no dia a dia são realizadas obras como substituição de tubulações precárias e adequações das pressões nas tubulações, através de válvulas redutoras de pressão, que otimizam o fornecimento de água para as cidades.
JS – Quais os principais problemas que vocês encontram na questão de infraestrutura de água em Bento? E quais os prazos para minimizar essa situação?
LC – Atualmente, o sistema de abastecimento no município está em plenas condições para atendimento aos usuários, com ações permanentes de atenção à eficiência da operação. Intervenções para melhorias e incrementos de vazão estão no plano de investimento da Companhia para os próximos anos.
JS – Hoje, quantos funcionários a Corsan tem em Bento. Há carência em alguma área? O que a empresa pretende fazer nesse sentido, uma vez que a cidade de Bento Gonçalves cresce em número habitacional e estrutural.
LC – Na Unidade de Saneamento de Bento Gonçalves, localizada na área central, atuam 42 funcionários que atendem às demandas do município. Apesar de estarmos em um momento de transição, onde momentaneamente temos uma rotatividade de funcionários, a Corsan trabalha com número adequado de colaboradores para os desafios do dia a dia da operação.
JS – Tempo de resolutividade dos problemas apresentados pelos clientes: qual a média? E em alguns casos em que a situação não é tão célere, o que causa a demora? Há perspectivas de melhoria nesse sentido?
LC – A Corsan prioriza a agilidade e a qualidade no atendimento, colocando as prioridades da população sempre à frente. O cumprimento dos prazos é um ponto chave da nossa prestação de serviços, para o qual estamos sempre atentos a fim de garantir a melhor assistência e excelência no atendimento a todos os nossos usuários.
Falta de água é reclamação constante em Bento
Moradores de bairros afetados pela situação relatam que o problema é contínuo. No bairro Aparecida, Maria Rejane Kael Jorge, de 56 anos, relata que a falta de água ocorre diariamente, principalmente no final da tarde, quando retorna do trabalho. “A gente chega em casa cansado, depois de um dia de trabalho intenso, querendo, ao menos, tomar um banho e não tem um pingo sequer de água. Por causa da falta, já queimei dois chuveiros”, conta.
A situação também afeta a vida da família da aposentada Mairi Nascimento da Silva (foto), 70, moradora do bairro Conceição. Seguidamente, as torneiras de sua casa não recebem água. Em diversas ocasiões, o problema se estendeu durante todo o dia e só normalizou durante a madrugada. Mesmo possuindo caixa d´água, que minimiza o problema, a dona de casa já precisou, inúmeras vezes, abastecer residências vizinhas. “Já perdi a conta de quantas vezes eu enchi chaleiras dos vizinhos para beberem, porque não tinham em casa”, afirma.
Ela revela que a situação prejudica, além do dia a dia, as tarefas domésticas, como é o caso da limpeza do imóvel. “Quando a falta de água ocorre seguido é um caos. A gente precisa limpar a nossa casa e não consegue”. Ela recorda que até a semana passada, a situação era mais recorrente, porém, nos últimos dias, parece ter sido normalizada.
No bairro Verona, o problema também é apontado como um dos principais imbróglios entre a Corsan e comunidade. Morador da região, Jorge Miguel Valduga, de 34 anos, afirma que ao longo de anos, o problema sempre esteve presente e nunca foi solucionado. Para ele, a construção de um reservatório poderia melhorar o serviço. “Moro há 20 anos no bairro e sempre ocorrem situações de falta de água. Foi prometido sanar este problema com a construção do reservatório, feito próximo a descida do Imigrante (bairro). Mas desde que foi construído só piorou”, revela.
Segundo Valduga, em setembro do ano passado, quando ocorreram períodos de chuvas intensas, o bairro ficou cerca de quatro dias sem o fornecimento de água. Cinco meses depois, o problema persiste. “Hoje, quando acontece, a gente fica uns dois dias esperando a situação normalizar. Sorte que tenho caixa d’água. Mas, quando chove, é quase certo que vai faltar. Já tentei falar com alguns vereadores, para ver se tinha possibilidade de buscar uma solução com a Corsan, no intuito de resolver os problemas, mas nada foi feito. É complicado ficar sem água sempre e, ainda mais complexo em outros bairros que ficam por cinco, seis dias sem água”, afirma.