O tempo, neste verão, está completamente bipolar. Ou tripolar.  Amanhece anunciando chuva, depois deixa escapar uma descarga de radiação solar tão quente que frita até pensamento e, em seguida, vai jogando nuvens cúmulos no céu. Quando a gente vê, caiu um dilúvio que até traz certo alívio, como diz a canção. O ciclo se repete durante o dia, há três ou quatro semanas. Embora previsível, o ritual sempre me pega desconectada do mundo real, o que me leva à história da bermuda chinesa. 

Comprei uma bermuda descolada e versátil pela Internet. Não era a famosa bermuda inteligente, com cristais bioativos que emitem radiação infravermelha que inibe a celulite e queima gordura, prometendo te deixar com os culotes da Gisele Bündchen. Isso não fez minha cabeça. Agir sobre determinados pontos sem levar em consideração o todo, sem respeitar a proporcionalidade do conjunto?! Vá que funcionasse mesmo!

 Então fui mais inteligente. Adquiri uma de marca – marcava bem as coxas – e resolvi dar uma aguada pra ela ficar mais soltinha. Estendi no varal, lá pelas dez de uma segunda-feira ameaçadora. Ao meio-dia, caiu o primeiro toró da semana, sem que eu tivesse tempo de recolher a peça importada. Tudo bem – pensei. Vai secar em vinte minutos. Ela secou e ganhou um centímetro de brinde, mas, por pura preguiça, não a recolhi. No mesmo dia, caiu o segundo toró. Anoiteceu, e ela, estendida no varal como se fosse a pele de um tigre assustado. No outro dia, secou, mas, adivinhem: eu estava no meu cochilo da tarde quando choveu. Com isso, ela aumentou mais alguns centímetros. Quase recolhi a danada, úmida mesmo. Acabei deixando-a no varal para secar com o solaço do dia seguinte previsto pelo rapaz do tempo. E secou, é claro. O problema é que só me lembrei dela na hora em que a chuva embalava minha sesta, como de costume.

O círculo vicioso continuou durante a semana inteira. Pela manhã, ela secava e, à tarde, bem na hora do meu merecido descanso, ela dançava na chuva e ia se transformando…

Quando a barra atingiu o chão, recolhi o modelito.  Os banhos diários e a ação da gravidade mexeram com seu DNA, fazendo com que passasse por transformações da moda.  Foi concebida como bermuda, passou pela calça Capri, experimentou a Cigarrete, ganhou mais espaço e se aproximou a uma Pantacourt, resvalou para a Saruel, mas saiu do varal, metamorfoseada em exótica e transparente Pantalona de harém, digna de “Geannie é um Gênio”.