Clacir Rasador
Envelhecer é o preço a pagar por viver mais a cada milésimo de segundo, o que acredito ser justo, porém, a diferença está em que moeda pagamos, ou pior, se ficamos em débito pela forma como usamos o tempo.
A propósito, embora não saibamos o dia D, da despedida, e este é o maior benefício da dúvida a cada dia em nosso favor, a ciência define os 50 anos como um marco biológico na vida dos humanos.
Com estradas diferentes, mas que se cruzam e se entrelaçam, as pessoas se referem aos 50 anos como a chegada ao meio da viagem.
Nessa curva dos 50, as lembranças das experiências e viagens se acumulam e alguns caminhos são impossíveis acessar novamente, embora lá estão, no espelho que somos ao olhar pelo retrovisor do tempo.
Uma das passagens mais divertidas ou que pelo menos deveria ser, cantada em prosa e verso – a aurora da minha vida, disse o poeta Casimiro de Abreu – estaria sinalizada por uma placa no caminho, suja de barro, marcada pelo formato dos gomos de uma bola de futebol num campinho de chão batido, linhas de serragem pintadas com cal e goleiras de eucalipto. Lá ficou a saudosa infância.
Acessar a lembrança da primavera, em noites quentes, correndo livre pelas ruas de chão batido, esperando que a mãe deixasse “só mais um pouquinho”, brincando de esconde-esconde, entremeio folhas de capim alto e o pisca-pisca dos vagalumes.
Aliás, onde estarão os vagalumes a iluminar a infância de hoje? Por um momento me penitencio por tantos que iluminaram meu caminho e foram capturados, transformados em lanternas de saquinho plástico.
Contudo, leio que a poluição e as luzes artificiais os têm arrebatado, mas, segundo os biólogos, basta criar um ambiente propício e eles voltarão a iluminar novas infâncias.
Esses pirilampos, até mesmo o seu desaparecimento, acendem uma luz para nossas vidas, nos levam a refletir se a poluição da rotina não tem apagado aqueles nobres sentimentos de criança que tínhamos na infância.
Sim, algumas traquinagens, tal qual um puxão de cabelo, um tranque, ou até mesmo aquela ameaça nada velada – “te pego na hora da saída” – não eram tão nobres assim, mas certamente ao seu tempo nada mais eram do que ser criança.
Quisera resgatar aquela facilidade de fazer amizades e igualmente de refazê-las, sem mágoas, sem ressentimentos, muitas vezes sem sequer um pedido de desculpas, apenas um olhar, uma carinha de arrependimento e vamos em frente viver a vida.
Sempre é tempo de resgatar seus vagalumes, mas…, conselho: não deixe de fazê-lo após os 50, pois essa moeda vale ouro e o céu também (Mt. 19:14).