Com as eleições municipais de 2024 se aproximando, o cenário político local apresenta uma vasta quantidade de políticos com as mais diversas características. Utilizando as informações disponibilizadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos candidatos, e que são de responsabilidade dos próprios, foram analisados os perfis dos 21 candidatos a prefeito e de seus 21 vices nas cidades de Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Farroupilha, Garibaldi, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza.
Contexto atual
É impensável dissociar as eleições deste ano das enchentes que afetaram o estado no mês de maio. Em algumas cidades, houve uma diminuição no número de candidatos em relação aos anos anteriores. O sociólogo e consultor político Renato Zanella destaca, de diferentes maneiras, como os desastres climáticos afetaram o pleito eleitoral de 2024. “Em algumas cidades, a resposta eficaz às enchentes pode ter desestimulado a concorrência, resultando em um número reduzido de candidatos. Quando um prefeito ou grupo político é amplamente reconhecido por sua gestão durante a crise, potenciais adversários podem considerar suas chances de vitória reduzidas, optando por não concorrer”, afirma.
Zanella também destaca que as ações durante as enchentes podem ser exploradas nas campanhas. “Candidatos podem usar seus feitos durante a crise como um ponto central de suas plataformas eleitorais, destacando suas realizações e comprometimento com a comunidade. Por outro lado, candidatos da oposição podem criticar a resposta às enchentes, apontando falhas ou propondo alternativas para a gestão de crises futuras”, completa, mostrando a dualidade gerada pela tragédia.
O sociólogo também reforça a importância da união da população, durante e após o período de crise, em certas cidades. ” A solidariedade e o engajamento comunitário durante e após as enchentes podem fortalecer a coesão social e a participação política. Comunidades que se uniram para enfrentar a crise podem estar mais engajadas politicamente, o que pode influenciar a dinâmica eleitoral, aumentando a participação nas urnas e o apoio a candidatos que demonstraram liderança comunitária”, analisa. Por fim, para Zanella, o plano de reconstrução dos lugares afetados também é um elemento crucial neste processo. “Candidatos que apresentem planos concretos para a recuperação econômica e social podem levar vantagem. A capacidade de abordar questões como habitação, emprego e infraestrutura de forma eficaz pode ser um diferencial importante”, comenta.
Bens declarados
Quando um candidato registra sua candidatura, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) exige que ele declare a quantia em bens que ele possui. Os gráficos abaixo mostram quanto os candidatos de cada cidade declararam, junto da média. É válido ressaltar que a concentração de renda em um único candidato pode aumentar significativamente o valor médio de cada município.
Cor / raça e gênero dos candidatos
Entre os 42 políticos analisados, 41 (97.6%) se identificam como brancos; Apenas um se declara da cor/raça preta; E nenhum se define como amarelo, pardo ou indígena.
Quanto ao gênero, 10 (23.8%) dos candidatos são mulheres e 32 (76.2%) são homens. Bento Gonçalves é a única cidade analisada, onde não há mulheres concorrendo à prefeitura ou ao cargo de vice. Todos os outros municípios da região possuem ao menos uma candidata na disputa.
Zanella comenta este cenário, onde a maioria dos candidatos são homens. “Historicamente, a política tem sido um campo dominado por homens, refletindo estruturas patriarcais que limitam o acesso das mulheres a posições de poder. No entanto, nas últimas décadas, movimentos feministas e de direitos civis têm lutado por maior representação e participação das mulheres em todas as esferas da sociedade, incluindo a política. Essas lutas têm resultado em mudanças legislativas e culturais que incentivam a participação feminina”, destaca.
O sociólogo também aponta a importância de medidas que incentivem a participação feminina na política. “Muitos países, incluindo o Brasil, implementaram legislações que promovem a igualdade na política. As cotas de gênero, por exemplo, exigem que uma porcentagem mínima de candidaturas seja ocupada por mulheres. No Brasil, a Lei das Eleições (Lei no 9.504/1997) determina que cada partido ou coligação deve preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”, finaliza, destacando o impacto que essas medidas têm no que diz respeito à participação de mulheres na política.
Zanella encerra ressaltando que tende a ser cada vez mais comum vermos mulheres disputando eleições. “O fenômeno da crescente participação das mulheres na política tende a continuar crescendo, impulsionado por mudanças legislativas, culturais e institucionais. A implementação de cotas de gênero, a evolução das percepções públicas, o aumento do acesso à educação e ao mercado de trabalho, o apoio de organizações e redes de solidariedade, e o impacto positivo da representação feminina são fatores que contribuem para essa tendência. A presença de mulheres na política também enriquece o processo democrático”, ratifica.
Idade dos candidatos
Entre os analisados, as idades variam entre 32 e 76 anos. Com a média e mediana geral de idade sendo 54 anos. 36 deles, totalizando mais de 85%, têm entre 40 e 70 anos. Zanella explica o porquê de a maioria dos candidatos estarem nessa faixa etária. “A construção de uma carreira política sólida e de liderança reconhecida frequentemente exige tempo. Os candidatos mais velhos geralmente possuem um capital social e político acumulado ao longo de décadas, incluindo redes de contatos, experiência administrativa e reconhecimento público. Esse capital é essencial para obter apoio partidário e popular, o que pode explicar a predominância de candidatos entre 40 e 70 anos”, explica. O consultor político também aborda o empecilho financeiro e desafios profissionais, fatores que geralmente dificultam a candidatura de jovens. “A campanha eleitoral demanda recursos financeiros significativos. Candidatos mais velhos, que já possuem carreiras estabelecidas, têm maior probabilidade de ter acesso a esses recursos, seja por meio de economias pessoais, doações ou apoio de grupos de interesse. Os jovens, por outro lado, podem enfrentar dificuldades financeiras para arcar com os custos de uma campanha competitiva. A necessidade de estabelecer uma carreira, formar uma família e alcançar estabilidade financeira pode competir com o tempo e os recursos necessários para uma campanha eleitoral”, ressalta.
As estruturas partidárias, que prezam por experiência e continuidade, também são empecilhos. “A cultura política local influencia a baixa participação dos jovens. Em muitas regiões, a política é vista como um campo reservado para indivíduos mais velhos e experientes”, afirma.
Zanella finaliza explicando os motivos de ser cada vez mais comum uma figura experiente do partido se candidatar ao lado de um político jovem em ascensão, ou vice-versa. “É uma estratégia de mentoria e sucessão. O candidato mais jovem tem a oportunidade de aprender e ganhar experiência ao lado de um líder estabelecido, preparando-se para futuras candidaturas. Isso também sinaliza aos eleitores um compromisso com a continuidade e a renovação dentro do partido”, destacando como essa prática garante uma renovação e consequentemente atrai eleitores mais jovens, unindo a experiência com a inovação e a renovação.
Candidatos à reeleição
Dos 21 candidatos a prefeito, cinco buscam a reeleição em 2024. Diogo Siqueira em Bento Gonçalves; Sérgio Chesini em Garibaldi; Everson Kirch em Carlos Barbosa; Adiló Didomenico em Caxias, e Gisele Caumo em Santa Tereza. Apenas Siqueira e Kirch seguem com o mesmo vice da gestão vigente, totalizando sete de 42 (16.6%) candidatos em busca da reeleição.
Grau de escolaridade
Entre os analisados, mais de 70% possuem um diploma de ensino superior, um aspecto frequentemente considerado pelos eleitores para definirem seu voto, ou julgarem a competência de determinado candidato. Zanella explica o motivo da população ir para esse caminho. “É importante destacar que essa percepção pode ser influenciada por fatores culturais, sociais e econômicos. Em algumas comunidades, a experiência prática e a conexão direta com os eleitores podem ser mais valorizadas do que a educação formal”, destaca.
O sociólogo comenta diversos pontos que tornam um candidato com diploma mais atraente para o público geral, destacando que em alguns lugares a educação formal se sobressai, mostrando que o candidato possui um nível básico de conhecimento e habilidades, aumentando a confiança do eleitor.
Porém, Zanella alerta que o diploma não deve ser o único critério adotado para a escolha de um candidato, ou, para definir sua capacidade. “Enquanto a conclusão do ensino superior pode ser um fator positivo e influenciar a percepção dos eleitores, ela não deve ser o único critério para avaliar a qualidade de um candidato. Uma análise mais abrangente é essencial para uma escolha informada e responsável. Um diploma não garante necessariamente competência política ou ética. Existem vários outros fatores que devem ser considerados ao avaliar a qualidade de um candidato”, finaliza. Zanella traz a experiência política, a integridade, a ética, as habilidades como líder, o histórico de realizações e a relação do candidato com a comunidade como outros fatores a serem levados em consideração em uma disputa em nível municipal.
Com os dados levantados, o perfil médio de um candidato nas cidades analisadas, pode ser definido como um homem branco de 54 anos, com diploma de ensino superior e bens na casa dos R$1.2 milhões.
Imagens e gráficos: Augusto Arcari