No domingo, 6 de outubro, os eleitores de Bento Gonçalves escolheram os 17 vereadores que representarão a cidade no Poder Legislativo pelos próximos quatro anos, esses que serão responsáveis pela criação de leis municipais e pela fiscalização do trabalho do Poder Executivo. Entre as principais leis que são responsabilidade do Poder Legislativo, está a Lei Orçamentária Anual, que define como e onde os órgãos públicos da cidade irão investir o dinheiro dos contribuintes. O cientista político Fredi Camargo analisa a dialética entre os dois poderes. “O Executivo no Brasil ainda é o maior foco do eleitor e dos políticos pela nossa cultura política geral, onde o modelo monarquista absolutista ainda rege a cabeça das pessoas, mesmo passados mais de 130 anos de sua queda. Nesse modelo o Imperador (ou Rei) era o centralizador do poder. De certa forma ainda há essa mentalidade, onde muitos pensam que o prefeito é “o Rei” do município”, destaca. Camargo segue enfatizando a importância do Legislativo.  “Este é o poder que realmente dita as regras, e que deveria ser o mais valorizado. A eleição da presidência da Câmara deveria ser acompanhada de perto pela população, pois o presidente deste poder é importante para que o andamento das questões de regramento das ações administrativas seja o melhor possível, mas não é assim que ocorre em ampla maioria dos casos, exatamente pela cultura política brasileira ser como é”, finaliza.

Na 19° Legislação da Câmara de Vereadores da Capital Nacional do Vinho, alguns nomes exercerão o cargo pela primeira vez, enquanto outros retornam para o terceiro ou quarto mandato. Todos os 17 parlamentares eleitos são de partidos que, ou apoiaram a candidatura de Diogo Siqueira para prefeito, ou  a de Paulo Caleffi, ambos candidatos de direita. Camargo analisa os motivos que fizeram com que a esquerda perdesse espaço no cenário político. “Não é só a ascensão da direita o fator que diminuiu o espaço da esquerda. Vejo que a esquerda se distanciou do povo, sua principal base de sustentação, quando se esqueceu de prestar mais atenção nos problemas reais da população e passou a pautar causas comportamentais. As pessoas não querem discutir certas questões antes de saber que terão uma segurança alimentar e habitacional, por exemplo”, destaca. Visando as características dos parlamentares eleitos, e utilizando os dados disponibilizados ao site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos candidatos, esses que são responsabilidade dos próprios, foi traçado o perfil dos 17 vereadores eleitos em Bento Gonçalves.

Bens declarados

O total de bens declarados pelos 17 vereadores é de R$ 11.771.484,71. Totalizando uma média de R$ 692.440,28 para cada vereador. A parlamentar com a menor quantia declarada é Letícia Bonassina (PL), sem valores declarados no site do TSE; seguida por Moisés Scussel (MDB), que declarou R$ 31.143,66. O político com a maior quantia em bens é Gilmar Pessutto (União Brasil), com R$ 3.162.291,29; seguido por Volmar Giordani (Republicanos), que declarou R$ 1.911.116,17.

Grau de escolaridade

Dos 17 parlamentares eleitos, nove possuem ensino superior completo, totalizando 52.9%; Sidi Postal (PL) possui curso superior incompleto; seis edis possuem o ensino médio completo; e Sidi (PSDB) possui apenas a conclusão do ensino fundamental.

Vereadores reeleitos e histórico na política

Oito dos 17 parlamentares, 47%, foram reeleitos. Enquanto onze, 64.7%, já foram vereadores anteriormente, incluindo Alcindo Gabrielli (MDB), que também já foi prefeito e vice-prefeito de Bento Gonçalves. O parlamentar com a maior experiência na Câmara é Gilmar Pessutto (União Brasil), que irá para o quarto mandato. Alcindo Gabrielli (MDB),  Anderson Zanella (PP), Eduardo Vírissimo (PP), Moisés Scussel (MDB), Sidi (PSDB) e Volnei Christofoli (PP) irão exercer o terceiro mandato. Zanella, pela primeira vez como vereador eleito, já que nas outras duas ocasiões assumiu por suplência. Os estreantes na Câmara são: Joel Bolsonaro (PL), Letícia Bonassina (PL), Lúcio Lanes (PDT), Luis Carlos ‘Caco’ de Mari (PSDB), Sidi Postal (PL) e Volmar Giordani (Republicanos).

Situação com o Poder Executivo

Dez dos 17 vereadores, incluindo os sete mais votados, são de partidos que estiveram coligados com a chapa do prefeito reeleito Diogo Siqueira (PSDB). Já os outros sete parlamentares, são de partidos que estiveram coligados com a campanha de Paulo Caleffi (PSD). Dados que indicam que 58.8% dos edis eleitos deverão atuar como aliados do Poder Executivo.

Profissão dos vereadores

Entre os 17 eleitos, a profissão dominante é a de “vereador”, ocupação exercida por sete parlamentares, 41.1%, sendo todos eles candidatos reeleitos. Em segundo lugar, vem a profissão de “empresário”, exercida por três parlamentares: Letícia Bonassina, Lúcio Lanes e Volmar Giordani. Ainda com mais de um edi, aparece a profissão de “vendedor pracista e semelhantes”, ocupada por Joel Bolsonaro e Volnei Christofoli. Advogado, comerciante, agricultor, corretor de imóveis e “outros” também estão entre as profissões de vereadores eleitos.

Gênero e raça / cor

Após 12 anos, Bento Gonçalves voltou a eleger uma mulher no Poder Legislativo. Letícia Bonassina (PL) é a única mulher eleita para exercer o poder na 19° composição da Câmara de Vereadores de Bento. A última mulher que ocupou o cargo na Capital Nacional do Vinho, havia sido Neilene Lunelli (PT), eleita em 2008 e 2012, e que exerceu o mandato até 2016. Camargo analisa o motivo dessa baixa participação feminina na política. “A questão é extremamente cultural. Nosso país ainda é patriarcal, mesmo tendo a população feminina como majoritária. As cotas de gênero são mecanismos que servem para diminuir essa cultura dominante, mas mesmo assim ainda teremos um bom tempo para que a equidade seja realidade”, pontua. No que se diz a respeito a raça / cor, 16 vereadores eleitos (94.11%) se declararam como “brancos” ao TSE. Lúcio Lanes (PDT) se definiu como “pardo”.

Idade

A faixa-etária dos vereadores eleitos varia entre 27 e 62 anos. Com a representação mais jovem sendo a de Letícia Bonassina (PL), eleita aos 27 anos, seguida de Thiago Fabris (PP), que aos 34 anos foi reeleito para o segundo mandato. Já o vereador mais velho é Edson Biasi (PP), com 62 anos e 11 meses. A média de idade dos parlamentares eleitos é de 47.5 anos, enquanto a mediana é de 48 anos. Construir uma carreira política sólida demanda tempo e dinheiro, fatores que acabam sendo um empecilho para candidatos mais jovens, e consequentemente faz com que a população e os próprios partidos priorizem políticos mais experientes, esses que geralmente já se encontram em posições consolidadas no funcionalismo público ou privado.

Com os dados analisados, conclui-se que o perfil médio de um vereador eleito em Bento Gonçalves, é um homem branco de 47,5 anos, de direita, aliado do Poder Executivo, com bens na casa dos R$700 mil e experiência na política local.

A missão dessa nova legislatura será conciliar a continuidade de projetos com a capacidade de fiscalizar e propor novas soluções que atendam às demandas crescentes da população e aos desafios do desenvolvimento local.

Imagens e artes: Augusto Arcari