Jane Krüger
Em todas as culturas e em todos os tempos na história, as pessoas procuram
indivíduos nos quais possam se inspirar/imitar, reais ou imaginários, de carne e osso ou
simplesmente heróis de filmes ou desenhos. Pessoas que representem os mais altos valores e
que geralmente, persigam uma causa válida mesmo que, diante de grandes adversidades.
Reverenciamos e estudamos heróis de Moisés a Gandhi, Martin Luther King a personagens
como o Super-Homem ou Mulher-Maravilha, na esperança de nos inspirarmos ou até mesmo,
nos tornarmos parecidos com eles.
Nosso mundo e nossos filhos necessitam desesperadamente de modelos dignos a
serem seguidos. Heróis autênticos. Pessoas íntegras, cujas vidas nos inspirem a ser
melhores, a subir mais alto, a nos destacar. Isto sempre foi verdade. É bem provável que
seja esta a razão por que as biografias de grandes homens e mulheres trazem tanta fascinação.
Nós como educadores ou profissionais das mais diversas áreas, pais ou simplesmente
como cidadãos, também podemos ser heróis! Podemos deixar uma marca indelével, alcançar
um objetivo inatingível ou dar uma contribuição à sociedade de forma a sermos lembrados e
criar impacto de maneira que deixemos o mundo melhor do que o encontramos.
Ter o objetivo de ser a diferença, de fazer um mundo melhor, nos faz cruzar oceanos,
lutar contra bactérias numa cirurgia, procurar recursos no subsolo e tentar mudar toda e
qualquer situação hostil e desumana. Mas afinal, o que é ser um herói?
Eles surgem de várias maneiras e estão em muitos lugares. É o herói que descobre
uma nova droga, leva um amigo para o hospital, divide uma sinfonia com o mundo, senta-se
e conversa com um velho ou mendigo na rua. É o herói e a heroína que levanta todos os dias,
mesmo cansado(a) e vai trabalhar para conseguir o sustento de seus filhos. É o herói que
deixa seus órgãos para serem doados. É o herói que faz a diferença… para sua família,
comunidade, para o mundo e enfim, para si mesmo. Afinal, ninguém é herói por acaso e sim,
por decisão, por caráter.
Se isso é verdade, se a maioria de nós tem um desejo inato de ser heróis, por que então
não estruturarmos nossos lares com mais aconchego e calor humano? Por que não incluirmos
em nossas escolas e universidades matérias que não só façam nossos filhos e jovens
crescerem intelectualmente, mas que também possam amadurecer emocionalmente? Que
aprendam a gerenciar suas emoções e impulsos a fim de não sucumbirem diante das
adversidades da vida, desistindo nos primeiros ventos da incomparável aventura que é viver?
Por que não equipamos nosso ambiente de trabalho de forma que ele possa apoiar nossas
aspirações? Por que não criamos um local de trabalho condizente com nossos sonhos, ao
invés de tentar esquecer o momento em que se deixa o escritório ou empresa?
Em Corporate Cultures, Terrence E. Deal e Allen A. Kennedy enfatizam a necessidade
atual de heróis não só nos campos de batalha e movimentos sociais, mas nas salas de
diretorias e nas fábricas. É incongruente pensar em ser um herói em sua comunidade,
departamento ou no trajeto do ônibus? Um herói deixa uma marca e estabelece um padrão.
Nós podemos fazer tais coisas num prédio em chamas, mas também podemos realizar a
mesma coisa no dia-a-dia, no trabalho, em casa, na rua, na escola ou com os vizinhos. Nós
somos responsáveis por fazer dessa vida tudo o que ela pode ser.
Se cumprirmos nossa obrigação e dever, independente de qual seja, com um completo
investimento de energia, alegria, concentração e espírito voluntário, deixaremos uma marca
heroica todos os dias, baseada em atitudes conscientes construídas sobre o alicerce do caráter
íntegro, que não passa despercebido e não semeia sem colher seus frutos.
Grandes homens e mulheres inspirados em um caráter inabalável deixaram sua marca
na história e consequentemente, o mundo nunca mais foi o mesmo depois que deixaram esta
terra. A partir do momento em que nós simplesmente ousarmos sonhar e acreditar que mesmo
com simples ações podemos fazer uma grande diferença, então não viveremos só um sonho,
mas sim, uma realidade que pode ser mudada.
Assim que declararmos como Martin Luther King Jr. “I have a dream”… e ousarmos
sonhar, rompendo com o medo e mergulharmos na beleza infindável da vida, poderemos sim,
fazer a diferença por onde passarmos. Assim como homens e mulheres, simples homens e
mulheres que resolveram acreditar em seus sonhos, que também sabiam que era certo lutar
por aquilo que almejavam, embora seu sonho pudesse custar suas próprias vidas.
Martin ousou sonhar pela liberdade efetiva de seu povo e daria a vida por isso. Diante
deste testemunho vivo de que baseados naquilo que acreditamos, que atitudes temos tomado
para que os nossos filhos sejam livres e não escravos de uma mídia manipuladora e
controladora? Não sejam contaminados diante de apelos de colegas sem caráter? Que ações
têm pautado nosso cotidiano para que vejam em nós que ainda vale a pena sonhar?
Existe uma recompensa em ter um propósito, mesmo que pautado em pequenas ações
como desejar um bom dia ao vizinho que eu encontro, um “por favor” e “muito obrigada”,
um “com licença” aos que me rodeiam. Diante disso, qual tem sido minha conduta no transito
enquanto levo meus filhos para a escola? Que posicionamento tenho tido diante dos
acontecimentos que temos visto na sociedade? O que afinal, meu filho vê-me fazer se alguém
me dá um troco errado no caixa de um lugar qualquer? Como ele me vê tratando um garçom
ou um policial na estrada? São estas e outras atitudes que talvez julguemos até mesmo banais
e fúteis que constroem neles um caráter íntegro ou deformado. Vidas que vão salvar ou matar. Amigos ou inimigos. Heróis ou Ladrões. Honestos ou corruptos.
Segundo o Dr. Roberto dos Santos, PhD, “Limitados, porém, capazes; os homens
devem no âmbito geral do saber, procurar, a integridade moral e intelectual de todos os seus
ensinamentos, soluções para os problemas que envolvem toda sua dimensão”. Desta maneira,
para que esta integridade se desenvolva e crie raízes em nossas crianças “Será necessário e
inevitável uma atitude”. Um coração bem formado é aquele que aprendeu a renunciar.
Renunciar não é resignar-se. Ao contrário. A renúncia é a suprema felicidade, como a
bondade é a suprema sabedoria.