Pelo menos oito pilotos, que iniciaram sua formação em Bento Gonçalves nos últimos anos, voam por companhias aéreas de grande porte
A maioria das companhias aéreas exige que os pilotos tenham, pelo menos, 500 horas de voo para controlar os grandes aviões que transportam passageiros. Mas antes de chegar nessa fase, é necessário passar pelo curso de piloto privado, de piloto comercial e de piloto de linha aérea. No decorrer do processo, muitos desistem ou não chegam a voar em linhas, uma vez que vislumbram outras alternativas na aviação ou encontram muitas dificuldades para aprender a pilotar.
Em Bento Gonçalves, o Aeroclube oferece a primeira etapa do procedimento, sendo que a previsão, para este ano, é de formar oito novos pilotos privados. Dos que iniciaram a carreira no Aeroclube nos últimos sete anos, pelo menos oito estão voando por companhias aéreas de grande porte.
O curso de piloto privado é dividido em duas etapas. Na primeira, o aluno tem aulas teóricas sobre meteorologia, motores, teoria de voo, bem como outras disciplinas. Na segunda, o aluno precisa pilotar 40 horas, sendo que mais ou menos na 19ª acontece o primeiro voo solo.
De acordo com o instrutor de voo do Aeroclube de Bento Gonçalves, Alexandre Pereira, o primeiro passo para a carreira da aviação consiste nesse curso, oferecido pelo Aeroclube. “O período de duração das aulas teóricas é de mais ou menos dois meses. A Agência Nacional de Aviação (Anac) exige pelo menos 35 horas de voo, mas quase sempre é necessário um pouco mais”, explica.
Após a parte teórica, o candidato a piloto passa pelo teste da Anac e pelo exame aeromédico. Cumprindo os requisitos exigidos pelo órgão, é possível começar a voar. “No ano passado nós tivemos uma meteorologia bem ruim aqui, fez com que formássemos menos pilotos. Tudo varia pela questão meteorológica”, enfatiza Pereira.
O sonho de pilotar
Pereira conta que tinha o sonho de pilotar aviões desde criança e que precisou trabalhar em outras áreas antes de cumprir seu objetivo, devido aos altos custos da carreira na aviação. “Hoje eu tenho 1340 horas de voo, então estou esperando a vaga em uma companhia aérea”, afirma o instrutor.
Ele salienta que o perfil de quem busca o curso é bastante variado, desde pessoas que tem a aviação como primeira opção de carreira, até aqueles que estão consolidados em suas profissões (como médicos ou advogados) e resolvem buscar os ares como alternativa. “A maioria que chega aqui diz que é um sonho que vem desde criança. Eu tive que trabalhar em diversos lugares para conseguir juntar o dinheiro. Trabalhei dez anos em um banco para chegar até aqui”, ressalta.
Pereira afirma ainda que conhece pelo menos 10 pilotos, que iniciaram a formação no Aeroclube, e hoje estão trabalhando como pilotos profissionais. “Tem gente que voa na China, Dubai, Itália. Além disso, tem aqueles que estão trabalhando na linha aérea”, avalia.
As principais dificuldades, de acordo com Pereira, se dão na parte inicial, até o aluno se acostumar com as reações do avião. “Depois de aprender, voar é o mais fácil. O mais difícil é quando tem uma emergência. Por exemplo, tem checklists a executar, tem que saber onde colocar o avião, pousar em um local seguro”, observa.
Ele enfatiza que é necessário muita dedicação e persistência, porque é normal que apareçam obstáculos ao longo do processo de formação. “O número de desistentes é muito grande, mas também tem um número enorme de pilotos se formando. Por outro lado, tem aqueles que começam como aventura e depois enxergam que não é aquilo que queriam”, aponta.
Ainda de acordo com o instrutor de voo, o curso de piloto privado não dá direito a ser remunerado pela atividade. “Com o brevê você pode pilotar, levar alguém junto, desde que não seja remunerado”, enfatiza. Além disso, ele aponta que é um curso caro, já que a primeira parte da formação consiste no investimento de cerca de R$ 18 mil.
Para controlar um avião privado e ser pago pela atividade, é necessário que o piloto tenha licença para voos comerciais. “Aí, se tiver sorte e um bom contato, pode começar a pilotar profissionalmente”, ressalta.
Pereira afirma que costuma ensinar aos seus alunos que voar com aviões grandes está fácil, uma vez que a maioria das funções é automatizada. “É necessário ter uma boa coordenação e um raciocínio rápido para chegar em aeroportos grandes. Mas hoje precisa ser mais um gerenciador de cabine do que propriamente um piloto de pé e mão”, explica
Mesmo assim, ele observa que a experiência de pilotar aviões menores e mais simples é essencial para o aprendizado. ”Depois disso, só vai melhorando. Você vai tendo graus menos difíceis de voar, então quanto maior o avião, mais fácil fica”, ressalta.