Fotógrafos da Serra Gaúcha debatem a importância de Evandro Teixeira, o maior fotojornalista brasileiro, que faleceu recentemente

Na segunda-feira, 4 de novembro, o Brasil se despediu de Evandro Teixeira, um dos maiores fotojornalistas de todos os tempos. Conhecido por registros de momentos históricos da América Latina, como as manifestações estudantis de 1968, no Rio de Janeiro; o golpe de Estado no Chile, em 1973 e o massacre de Jonestown, na Guiana, em 1978.uma enorme perda, que deixa um legado imensurável para todos os fotojornalistas e fotodocumentaristas do Brasil.

Nascido em 1935, em Irajuba (BA), Teixeira teve o primeiro contato com uma câmera pela primeira vez em 1950, quando ingressou no Jornal de Jequié. Em 1958, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira no fotojornalismo, trabalhando como estagiário no Jornal da Noite. Em 1963, iniciou sua passagem pelo Jornal do Brasil, veículo onde Teixeira registrara suas principais imagens, ao longo de mais de 47 anos. Também é conhecido por fotografar exclusivamente em preto e branco, tal qual como muitos outros fotógrafos renomados, como Marc Riboud e Sebastião Salgado.

Na madrugada de 1° de abril de 1964, debaixo de chuva, registrou a tomada do Forte de Copacabana pelos militares. Em Junho de 1968, obteve o seu registro mais famoso: ‘Caça ao Estudante’, uma imagem histórica, realizada durante as manifestações estudantis de 68, que mostra dois policiais perseguindo um manifestante.

Em setembro de 1973, Teixeira foi até o Chile, que em 11 de setembro havia passado por um golpe de Estado, onde o presidente Salvador Allende, eleito em 1970, foi derrubado para a ascensão do general Augusto Pinochet ao poder. O fotojornalista brasileiro ficou retido por mais de 10 dias, até conseguir circular pelo país, com bastantes restrições e um rigoroso toque de recolher. Tornou-se o único fotojornalista a registrar a despedida do poeta Pablo Neruda, morto em 23 de setembro de 1973. Oficialmente, Neruda foi vítima de câncer de próstata, porém, pessoas próximas acusam que o poeta foi envenenado pelo governo militar.

Também fotografou os destroços deixados na cidade de Jonestown, na Guiana, após o massacre promovido pelo fanático religioso Jim Jones, em novembro de 1978, que deixou 918 mortos. No fotodocumentarismo, um dos mais notórios trabalhos de Teixeira, é um especial realizado nos anos 90, onde o fotógrafo foi até o sertão nordestino, e realizou uma série de fotos para publicação em um livro sobre o centenário do massacre de Canudos.

Os trabalhos de Evandro Teixeira demonstram uma grande versatilidade, momentos flagrantes e um testemunho visual que clama por justiça. Seu vasto arquivo conta com fotografias de momentos tensos da história latino-americana, registros documentais, jogos de futebol, eventos com autoridades e ensaios musicais. Entre as personalidades presentes nos registros do fotojornalistas, estão: Pelé, Rainha Elizabeth, Rei Charles, Princesa Diana, João Paulo II, Luiz Gonzaga, Ayrton Senna, Cartola, Leonel Brizola, Vincius de Moraes, Pablo Neruda, Jango, Carlos Lacerda, Lionel Messi, etc.

A fotografia de Evandro Teixeira, reflete também na Serra Gaúcha. O fotógrafo bento-gonçalvense Fabiano Mazzotti, com diversos livros publicados, que contemplam registros fotográficos da história de Bento Gonçalves, destaca a importância de Teixeira. “É um nome de referência. Suas imagens destacam-se na linha do tempo do fotojornalismo brasileiro pelo significado histórico coletivo que alcançaram”, pontua. Ele também aborda as inspirações que Evandro Teixeira proporcionou ao seu trabalho. “Para a fotografia preto e branco, não houve inspiração nele. Quando se inicia no fotojornalismo, Evandro Teixeira é um nome básico de estudo. A pureza e dinamismo de suas imagens capturadas atraem o olhar de qualquer profissional que queira ingressar  nessa área. A mim, me inspirou pelo flagrante das cenas registradas por ele”, destaca.

O fotógrafo e docente caxiense Edson Luiz Corrêa, primeiro fotojornalista da história do Jornal Pioneiro, onde ingressou em 1978, e atualmente professor titular na Universidade de Caxias do Sul (UCS), comenta o legado que Evandro Teixeira deixa para a história do Brasil e da América Latina. “Ele é o maior fotojornalista brasileiro, pois, na maior parte do tempo, ele se dedicou a produzir registros para o jornal. Alguns creditam este posto a Sebastião Salgado, porém, o trabalho dele não é inteiramente fotojornalístico, é mais voltado para registros documentais e autorais”, destaca. Ele segue detalhando os aspectos de Evandro Teixeira que o colocam neste patamar. “Tinha habilidades de um fotojornalista, possuía uma visão única acerca da notícia, sempre trabalhando no jornalismo diário. Este é o legado que ele deixa para o Brasil”, ressalta.

Corrêa também destaca aspectos cruciais que podem ser observados nas fotos de Teixeira por quem quer trabalhar com fotojornalismo. “Olhar as imagens registradas por ele é um grande exercício, pois ele tem uma composição única, tem um senso de oportunidade, uma grande presença de espírito e trabalhou sempre à frente dos outros”, enfatizando o papel preponderante de Evandro Teixeira no fotojornalismo.

A trajetória de Evandro Teixeira reflete não só a habilidade técnica de um mestre do fotojornalismo, mas também um compromisso profundo com o registro autêntico e fiel dos acontecimentos. Ao longo de décadas, sua capacidade de capturar momentos históricos com sensibilidade e precisão fez dele uma referência para gerações de fotógrafos, tornando seu trabalho um patrimônio visual da memória coletiva do Brasil e da América Latina, e que servirá como inspiração para a grande maioria dos fotojornalistas que surgirão daqui para frente.