Muito me chamou a atenção, ao ler no decorrer da semana passada, um texto cujo título era “Quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão”. Coloquei-me a refletir a respeito de seu conteúdo e resolvi dividir meu pensamento com vocês, leitores.

A história, verídica por sinal, girava em torno de um eletricista desempregado, que vive do Bolsa Família, e tentou “furtar” DOIS QUILOS, sim, gente, dois quilos de carne de um supermercado. Foi isso mesmo que vocês leram: um pobre desempregado que tentou levar dois quilos de carne de um mercado do Distrito Federal, bem lá onde tem aquele monte de pessoas honestas que todos nós conhecemos.

Eis que o infeliz foi preso, autuado em flagrante e, para ser liberado, precisaria arcar com a fortuna – para ele era uma fortuna – de R$ 270. Mas da onde ele iria tirar os R$ 270, se não tinha nem dinheiro para comprar dois quilos de carne? Pasmem: os próprios policiais que o prenderam se reuniram para pagar a fiança…

O que mais chama a atenção é que, cerca de 15 dias antes deste episódio, nove empreiteiros que estavam presos em Curitiba devido ao desvio de bilhões de reais apurados na Operação Lava Jato foram liberados pelo Supremo Tribunal Federal sem fixação de nenhuma fiança.

Por este exemplo fica claro o que as pessoas tanto cobram neste país: a tal da justiça, que infelizmente, como advogada, também preciso admitir que não existe para muitos casos.

A lei penal no Brasil se apresenta tão irracional e tão desproporcional que, a cada dia que passa, demonstramos claramente que nossa inteligência está diretamente ligada à nossa demência.

Lamentavelmente, em nossa cultura desigual, racista, machista, consumista, somente quem rouba pouco é tratado como ladrão. Quem muito nos tira, dando todo sinal do porque vivemos nessa imensa desigualdade, é tido como barão.

O eletricista que tentou levar de um mercado dois quilos de carne jamais deveria ter sido preso em flagrante, muito menos ter sido considerado um ladrão. O que ele fez foi um fato atípico – claro que não sou ninguém para julgar sem conhece-lo, porém, creio que o tenha feito por necessidade. Ele não praticou um “crime”.

Claro que não devemos concordar com seu ato, nem defender ninguém que venha a praticá-lo, muito menos achar que ele não deva responder pelo que fez, porém, o que não podemos admitir é que quem provoca grandes e verdadeiros danos ao patrimônio, ao nosso bolso, ao país, possa passar impune.

Realmente, o Brasil é país onde mais existem leis, mas onde menos se aplica. É o país onde as leis talvez até funcionem, mas funcionem muito mais para o ladrão de galinhas do que para o ladrão de milhões. Mas certamente elas não funcionam porque o ditado “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão” é o que mais se aplica neste país.