Vocês se lembram da pintura de Munch, onde um ser humano andrógeno de olhos esbugalhados e boca aberta expressa todo o seu desespero? Acredito que seja a metáfora mais apropriada ao momento vivido pelos professores. Os traços sinuosos e sombrios revelam medo e angústia diante desta situação caótica. As figuras eretas no fundo condizem com a indiferença da sociedade como um todo. O céu vermelho reforça o sentimento de desamparo pelo não reconhecimento da importância de seu trabalho, com salários pífios e parcelados que não lhes permitem viver com um mínimo de dignidade. A ponte é o plano – uma travessia perigosa e difícil que leva a lugar nenhum. Qual a alternativa que lhes resta senão o “grito”?
Ah! “O Rio Grande está à beira do colapso financeiro”, dizem. Um problema que começou há quatro décadas, quando os gestores passaram a gastar mais do que arrecadavam, cuja prática continuou até a conta ficar impagável. Atolado em dívidas, com precatórios vencidos, novos empréstimos, novos Ccs, aumentos cascatas – não ao funcionalismo público – e jeitinhos tipicamente brasileiros, o estado caminha no vermelho, sem condições de remunerar condignamente os professores… Espera aí! Mas como é que tem dinheiro para pagar os gordos salários dos outros poderes? Sem atraso! Por que o ônus é imposto apenas ao executivo?
“Eles têm orçamento próprio”, esclarecem.
Sim, mas a fonte não é a mesma? Não é o povo quem paga através dos impostos? Este mesmo povo que pouco retorno tem em termos de investimentos na Educação?
“São poderes independentes garantidos pela Constituição”, justificam.
Então a Constituição zela por aqueles que andam na contramão do bem comum?
“É cláusula pétrea”, reforçam.
Mas o objetivo das cláusulas pétreas não é impedir que se façam alterações nos direitos fundamentais dos cidadãos?
“É a Lei”, resumem, fechando a porta a outras possibilidades.
Mas não somos todos iguais perante a Lei? E se os governos foram tão pródigos (ou promíscuos?) com algumas categorias, já não é hora de consertar? “Não tem dinheiro”, repetem. E o círculo vicioso se completa.
Parodiando Fernando Sabino, aos professores, servidores de escolas e policiais, “dura lex, sed lex” – a lei é dura, mas é a lei; aos demais poderes, dura lex, sed látex” – a lei é dura, mas estica. E assim os privilégios se mantêm.