O empresário e diretor da Dalmóbile, em entrevista, conta a sua trajetória de vida e faz uma análise sobre a lição de mudanças que a pandemia causou ao setor moveleiro. Dalcin vislumbra um promissor mercado exportador, mas a maior preocupação é com o futuro dos jovens. Além do mais, lança seu olhar sobre a Bento Gonçalves, o Estado e o Brasil que queremos.
Juvenal Dalcin, sócio fundador da Dalmóbile, está à frente da empresa há mais de 40 anos, começando a trabalhar com móveis aos 13. Filho de uma família italiana e com 7 irmãos, seu primeiro emprego foi na Móveis Carraro. “Tive a felicidade de ir na Carraro fazer umas rodas para o meu carrinho de lomba e seu Nelson Carraro me disse para aguardar até o final do expediente. Até lá me pediu para embalar umas cadeiras, e eu embalei. Ele gostou do meu serviço e foi quando comecei a trabalhar na empresa. Nunca esqueço o momento em que cheguei com meu primeiro salário em casa, na época uma nota de cinco cruzeiros e entreguei para minha mãe, que chorou de emoção”, lembra Dalcin.
Na Carraro ele foi crescendo, começou na estofaria e, depois do curso de contador, foi o responsável pelo almoxarifado e pela expedição. O trabalho na Carraro durou 31 anos, mas o amor pela profissão e o talento nos móveis fez com que ele quisesse muito mais. E conquistou.
Da Cladeju à grande potência da Dalmóbile
Trabalho e conhecimento nunca faltaram, e a família sempre esteve presente. Casado com dona Marli, Dalcin tem dois filhos, Juliano e Mateus. O trabalho com móveis fez com que uma nova história surgisse, e a inspiração de um novo projeto veio com o lançamento do biscoito Champagne, em 1976, da fábrica Isabela. “Naquela época nós só conhecíamos a bolacha Maria e de repente uma grande empresa como a Isabela lança um produto totalmente diferente. Naquele ano, fui com meu sogro para São Paulo, e ao entrar em uma pequena confeitaria, percebi que eles também fabricavam o mesmo biscoito, aquilo mexeu comigo, e a ideia de uma fábrica me veio a cabeça”, conta Dalcin.
Ao voltar para Bento contou a história dos biscoitos Champagne para os amigos Cladi Pegoraro e Delvino Peliciolli e surgiu a ideia de montar um negócio. Nasceu então, em 1977, a Industria de Móveis e Esquadrias Cladeju Ltda (nome com a junção das inicias dos três sócios). Mesmo com a empresa, Dalcin não deixou a Carraro de imediato, pois a fábrica estava com muitos pedidos. Primeiramente o acordo era ficar só um ano, mas Juvenal acabou trabalhando por vários, conciliando as duas empresas.
A razão social Cladeju durou até 1997, quando se viu uma necessidade de mudança de nome. A empresa já vinha com outra fábrica e já com produção de componentes para móveis, e o nome Cladeju estava se confundindo com outro estabelecimento de nome semelhante, e foi então que surgiu a Dalmóbile.
A evolução da Dalmóbile
A Dalmóbile é referência em móveis planejados. Com mais de 220 pontos de venda e atuação no mercado interno, possui fabricação totalmente própria na linha de planejados. Unindo alta tecnologia industrial a uma versatilidade marcante, desenvolve produtos alinhados com as tendências, utilizando MDF, laca, vidro, alumínio e tecidos, para um design totalmente customizado para qualquer ambiente, residencial ou comercial. Mas para chegar nessa referência em todo Brasil, muito trabalho foi feito.
Primeiro, fabricação de esquadrias de madeira. Logo a empresa tornou-se fornecedora de importantes fabricantes de móveis, até chegar na marca, em 2009, com os móveis planejados. A empresa ficou localizada no Bairro Santo Antão, em Bento Gonçalves, até 2012, quando foi inaugurada a nova sede, no Bairro Vila Nova. A matriz agora é uma filial.
Na empresa, Dalcin conta com a ajuda dos filhos, que seguem os passos do pai. “O Juliano está há 20 anos comigo. O Mateus é formado em Geologia, queria seguir a carreira de Geólogo, mas na época, quando se formou, com o problema da Petrobras e a da Vale, não tinha concurso e nem emprego, então, ele foi aprender inglês no exterior. Ficou seis meses na Inglaterra e quando voltou escolheu morar em Bento e me ajudar na fábrica. O Mateus está mais no financeiro e o Juliano trabalha na área de exportação e mais diretamente comigo, principalmente em feiras e eventos “, conta orgulhosamente Juvenal, que faz esse ano 40 anos de casado e já tem um netinho, o Vincenzo.
Com a pandemia, algumas adaptações tiveram que ser feitas, e a Dalmóbile também fez alguns cortes. “Estou com 68 anos, e a pandemia fez com que eu me afastasse da empresa, só ia uma vez por semana para fazer umas reuniões. Sacrificamos algumas coisas, procuramos nos readaptar, principalmente para o bem de nossos lojistas. Também nos deparamos com o problema das baixas vendas no início e com o déficit na economia. Graças a Deus o Presidente Bolsonaro concedeu o auxílio emergencial, que foi uma injeção na economia, e nós do moveleiro, fomos muito beneficiados com isso”, fala Dalcin.
A grande dificuldade encontrada até hoje é a falta de matéria-prima, como aço, plástico e chapa de madeira e também o aumento excessivo nos preços, que mesmo com o mercado voltando a ter um giro maior, dificulta a entrega do produto ao cliente. “Na semana passada tivemos que deixar pedidos de lado, porque faltaram 12 tipos de matérias primas, e não pudemos produzir o que era necessário. Tivemos que nos enquadrar nessa nova dinâmica da pandemia. Foi no segundo semestre do ano passado, que conseguimos repetir o resultado de 2019, e nesse ano de 2021, estamos esperando um crescimento de 20%”, projeta o empresário. O segundo semestre deverá ser melhor, já que as pessoas costumam comprar mais móveis nesse período.
Hoje, a Dalmóbile conta com 220 pontos de vendas em todo o Brasil, sendo 140 lojas exclusivas, atuando no mercado residencial forte e também entrando no mercado corporativo. O diferencial são os móveis milimétricos, sob medida. A empresa tem muita tecnologia, inclusive na introdução da cola PUR no mercado moveleiro, sendo a primeira empresa a utilizar esse produto. A Dalmóbile tem em torno de 140 empregados diretos, 25 indiretos e conta com cerca de 22 representantes. Segundo Dalcin, a ideia é entrar forte no mercado internacional. “Estamos montando um departamento de exportação, porque nesse sentido a Dalmóbile perdeu muito tempo. Nosso produto tem muita aceitação lá fora, por isso identificamos a origem do nosso produto, colocando o nosso DNA neles, em todos têm a impressão com a frase ‘Móveis produzidos na Serra Gaúcha’, e são todos 100% MDF”, afirma Dalcin.
No dia 17 de maio a Dalmóbile vai inaugurar seu novo Showroom, no Bairro Santo Antão, onde fica a filial da empresa. Será uma semana de amostras, com pessoas vindo de todos os lugares para acompanhar e prestigiar os lançamentos e produtos da empresa.
O Setor moveleiro e as feiras
A pandemia causou várias mudanças e adaptações no setor Moveleiro, mas para Dalcin, mesmo sendo um momento ruim, abriu horizontes para as empresas. “Foi um momento de tristeza para o povo brasileiro, mas de certa forma o setor moveleiro foi beneficiado. As pessoas começaram a ficar em casa e perceberam que poderiam melhorar o ambiente, e os móveis planejados ganharam com isso”, comenta o empresário. Dalcin também acredita que as feiras estão fazendo muita falta, pois são essenciais para o conhecimento de novas máquinas e produtos. A grande dificuldade do setor, segundo ele, vai continuar sendo a falta de matéria prima, que não vai se regularizar tão cedo, e também a exportação que, de acordo com o empresário, o Brasil deverá evoluir. O país beira apenas 0,5% das exportações de móveis, enquanto a China exporta sozinha 39% e os Tigres Asiáticos, mais de 50%.
Outra dificuldade encontrada é a mão de obra qualificada. “Os nossos jovens hoje, com toda a tecnologia, são muito inteligentes, e nós temos que aproveitar isso. Até esses dias eu ouvi o seu Henrique Caprara falando de Bento Gonçalves, e gostei muito, porque realmente precisamos nos posicionar. Por exemplo, eu quando comecei, a Carraro me deu oportunidade de aprender e viajar. Hoje, sou o Juvenal que sou porque lá atrás alguém me ajudou, e também soube aproveitar. Sou muito grato ao seu Alcindo Donadel, Nelson Carraro e ao Ademar De Gasperi”, comenta Dalcin.
No Parque Industrial de Bento Gonçalves, Dalcin acredita que o setor moveleiro tem participação muito importante: “O SENAI vem contribuindo bastante, mas tem alguns pontos que poderiam ser melhores. Por exemplo, tem empresas que dominam muito a parte mecânica e pneumática das máquinas, mas não a parte eletrônica, e isso tem que acontecer. A tecnologia no setor moveleiro é imprescindível, nós temos um equipamento patenteado na Alemanha, que trabalha em um campo magnético fazendo milhões de operações, sem oferecer desgaste. As empresas precisam despertar para isso e começar a investir mais em todas as tecnologias”, sugere.
A análise do Município, Estado e Brasil
Tudo se modificou com a pandemia, os órgãos governamentais tiveram que se adaptar e buscar soluções, e Dalcin acredita que Bento cuidou/cuida muita bem da sua população, mas precisa investir nos jovens. “Na empresa, buscamos uma forma de incentivar o funcionário. A cada cinco anos de trabalho, ele recebe um salário extra no final do ano, é o dinheiro mais bem investido. De alguma forma, temos que ensinar, incentivar os jovens a trabalhar. O futuro está nos jovens, no adolescente e em tudo que eles podem evoluir em termo de mundo, contribuindo para a sociedade. Cada etapa tem a sua passagem, e o jovem tem que crescer aprendendo valores fundamentais na formação do caráter, do ser humano, saber o que é certo e errado. Viver a vida, aproveitar, desfrutar das coisas boas, mas precisa trabalho e dedicação, fazer a parte dele. Não dar o peixe, e sim, ensinar a pescar”.
Ainda no momento atual, ele cita a importância dos esportes. “Joguei futebol até os 55 anos, gosto muito. A empresa ajuda o Esportivo, temos nossa placa na Montanha dos Vinhedos e incentivamos os funcionários a participarem dos campeonatos e torneios, porque o esporte é vitalidade e contribui para que os jovens fiquem longe das drogas. Vejo nosso campo Municipal, meio abandonado, me dá tristeza”, lamenta o empresário.
Dalcin ainda comenta sobre o Poder Executivo de Bento. “O Pasin governou o município por oito anos e teve uma administração razoável, não foi ruim, mas também não foi ótima. O Diogo assumiu, visitou nossa fábrica, gostei muito dele, tem uma boa visão das coisas, a dúvida é se ele consegue colocar em prática. Capacidade tem, resta saber se terá a força de fazer o que Bento precisa”, questiona.
Analisando também o Rio Grande do Sul, Dalcin é mais severo. “Nosso Estado está falido e fico muito triste em dizer isso. Deveria ser estabelecido um teto aonde vai o nosso dinheiro, colocar um limite. Nosso Estado era o terceiro no Brasil, hoje, se fizermos uma análise muito fria, ele vai para quinto ou sexto, estamos perdendo e os outros estão avançando”, completa o empresário, que ainda cita as más condições da malha asfáltica no Rio Grande do Sul. Segundo Dalcin, o povo gaúcho está à mercê de melhorar.
O sócio proprietário da Dalmóbile faz também uma análise atual do país, e afirma que o Brasil precisava de mudança, com a entrada de Bolsonaro.” Era necessário a mudança de comando do PT, a Petrobras estava sendo assaltada e mal conduzida. A grande virtude do Bolsonaro é combater à corrupção, o problema é que ele não sabe falar, é grosso e acaba criando inimizades, mas, ao menos, deu para ver um país voltando a crescer”, afirma.
Segundo o empresário, o Brasil enfrenta dois problemas, a pandemia e a política, mas acredita que o país conseguiu melhorar, porém, o futuro precisa ser diferente. “Sinceramente, se me chamassem pra ser o Presidente da República eu não iria aceitar, porque não posso trabalhar, fazer as coisas que eu quero, ia ser apenas um fantoche, preso em uma jurisdição”, condena Dalcin.
O olhar de Dalcin para Bento
“Temos que ter um olhar diferente para Bento. Estamos com problemas sérios de mobilidade, e não vai ser o prefeito Diogo quem vai resolver, é um trabalho a longo prazo. Por exemplo, porque não fazer uma estrada para ligar o Bairro Santa Helena com o Vila Nova? Hoje, tem que se fazer uma volta pelo Barracão, pois não há uma rua que cruze esses bairros, e aí eu pergunto, quanto custa essa rua? Um governante precisa fazer as coisas que o município precisa, não de uma minoria. Se tiver que desapropriar, ele tem que desapropriar, porque é em benefício do coletivo”, sugere o empresário.