Setembro se despede meio contido. Antes das dez, impossível saber de suas reais intenções. Na verdade, no mês todo, ele andou transitando entre um friozinho dissimulado e um calorzão antecipado, satisfazendo assim o gosto de cada um. Independentemente do look, ele cumpriu com sua missão, liberando o amor explícito das estações, a primavera.
Flores odorizam o ar, que só encontra bloqueios entre os alérgicos. Nada que a própria natureza não resolva, oferecendo antídotos – pimenta malagueta ou chá de capim limão interrompe até uma sessão de espirros.
No meu jardim, não florescem madressilvas, nem gardênias. Lavanda, só no banheiro, dentro de um pote de plástico bem tampado. Mas a laranjeira, que beleza de noiva! Fechando os olhos, a gente consegue sorver melhor seu aroma cítrico e o floral doce vindo da vizinhança (muros não prendem nem os gatos) e imaginar um mundo paralelo.
Os sabiás voltaram com a corda toda. Nunca antes os ouvi cantar com tanto tesão, e não é do bico pra fora. O canto tem alma. Inclusive a melodia ganhou novas nuanças com a inclusão de sustenidos e bemóis. Deve ser exigência do mercado. Acho até que no mundo animal, as fêmeas estão escasseando, porque a disputa é acirradíssima. Uma profusão de vozes com direito a duetos e duelos intermináveis.
Abro o face, e a primeira coisa que vislumbro é amor. Vejo amor incondicional de pais pelos filhos. Amor sem limites de avós pelos netos. Amor de humanos pelos cães. Amor de cães pelos donos. Amor próprio. Amor pela natureza pródiga. Amor sem lenço nem documentos. Amor gratuito. Amor caridade. Amor sem carências. Amor sem exigências. Amor chama. Amor prãna. Amor sutil. Amor explícito. Amor transcendental…
Estaciono os olhos no amor inocente, hipnotizada pelo sorriso flagrado pela câmera. E meus sentimentos se liquidificam e escorrem diante daquela figurinha miúda, que ainda não despertou para as maldades do mundo, que se emociona com os mistérios da vida e se entristece com as incógnitas da morte… Gostaria de poupá-lo dessas reflexões tão adultas, mas viver é assim mesmo, cada um precisa lidar com suas angústias existenciais e construir a própria história… Mas tão cedo?!
Na falta de palavras, clico num “emoji” e fecho a tela. Numa sincronia perfeita (coincidência?), a porta se abre, e aquela figurinha miúda voa para dentro, enchendo de luz todos os espaços. E eu fico amando e a mando do amor…