Além de mudanças na tabela nutricional, produtos devem apresentar informações simples sobre nutrientes prejudiciais ao organismo como altos teores de açúcar, gordura e sódio
Em vigor desde outubro do ano passado, as novas regras para rotulagem de alimentos vêm sendo cada vez mais percebidas pelos consumidores. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de mudanças na tabela de informação nutricional, devem ser adotados alertas, na parte frontal da embalagem, sobre alguns nutrientes.
O objetivo das normas é melhorar a clareza e legibilidade dos rótulos dos alimentos e, assim, auxiliar o consumidor a fazer escolhas alimentares mais conscientes e adequadas às necessidades individuais. A Anvisa fez as alterações após ter identificado que a forma de declaração das informações nutricionais nos rótulos dos alimentos dificulta o entendimento pelos consumidores.
As determinações se aplicam aos alimentos embalados na ausência dos consumidores, incluindo bebidas, ingredientes e aditivos alimentares. Os únicos alimentos embalados na ausência dos consumidores que não precisam trazer as informações são as águas envasadas.
Principais mudanças
Os produtos terão que apresentar informações simples sobre os nutrientes com relevância para a saúde, como o alto teor de açúcar adicionado e a quantidade de gorduras saturadas e de sódio. Um símbolo em forma de lupa deve ser aplicado na face frontal da embalagem, na parte superior, por ser uma área facilmente capturada pela visão do consumidor, a fim de identificar estes três componentes que podem ser nocivos para a saúde.
Além disso, a tabela nutricional também precisa apresentar algumas características bem diferentes das que vinham sendo utilizadas. Devem ser aplicadas apenas letras pretas e fundo branco, afastando a possibilidade do uso de contrastes que atrapalhem o entendimento das informações por parte de quem as lê. Também passa a ser obrigatória a declaração dos açúcares totais e adicionados, o valor energético e de nutrientes por 100 gramas ou 100 mililitros do alimento e o número de porções por embalagem. Todas estas indicações servem para ajudar na comparação de produtos, podendo ou não afetar a decisão de compra. A tabela devem estar localizada em superfície contínua, próxima à lista de ingredientes, de forma acessível.
Sinal importante
Considerada a maior inovação das novas regras, a rotulagem nutricional frontal tem chamado atenção dos consumidores brasileiros. Para a bióloga Giovanna Alencar Mattia, muitas vezes surge um sentimento de culpa ao comprar um item com o selo frontal. “Tento comer o mais saudável possível, mas na correria do dia a dia, acabo me rendendo a alguns industrializados. Muitos deles têm esse aviso no rótulo, inclusive fiquei assustada com alguns produtos que nem imaginava que era tão prejudiciais à saúde. Mas acabo comprando mesmo assim, pelo costume e pela praticidade. Só que fico me sentindo culpada por estar comendo algo, mesmo sabendo que está cheio de açúcar, sal e gordura”, expõe.
A norma passou a valer em outubro de 2023, mas a Anvisa estendeu o prazo para as empresas se adequarem. Agora, todos os produtos que saem das fábricas precisam estar com o alerta nas embalagens. Ainda podem ser encontradas nas prateleiras produtos sem a lupa no rótulo frontal, que indica que o estoque foi produzido antes da norma ser estabelecida. Porém, até outubro deste ano, todos os rótulos deverão seguir os padrões determinados pela Anvisa.
Embora haja uma unanimidade de que a nova rotulagem representa um avanço no sentido de deixar as informações mais claras ao consumidor, existe uma preocupação sobre eventuais estratégias não saudáveis que a indústria possa adotar para driblar as novas regras, como adicionar outros nutrientes nocivos que não estão contemplados na nova norma. Segundo a ACT Promoção da Saúde, isso correu no Chile, primeiro país a adotar um tipo de rotulagem semelhante. “Houve muita reformulação na indústria para baixar o nível de açúcar e ficar abaixo da necessidade de colocar a advertência no rótulo, mas combinaram aquele açúcar com edulcorante, um tipo de adoçante. Adoçantes não são a solução para menos açúcar”, comenta Paula John, diretora executiva da entidade.
Para a nutricionista Cida Pressanto, a implementação da rotulagem nutricional foi essencial para tentar promover a saúde pública e a conscientização dos consumidores. “Em evidência nos produtos, essas informações ajudam a promover hábitos mais saudáveis, facilitando a compreensão das informações nutricionais e permitindo que os consumidores façam escolhas mais sensatas”, afirma.
Segundo a profissional, o consumo regular desses alimentos aumenta o risco de doenças crônicas como: diabetes, obesidade, hipertensão, doenças cardíacas e renais, além de agravar condições médicas pré-existentes. Ela finaliza trazendo que, mesmo que as mudanças dos rótulos sejam graduais, os consumidores já estão fazendo escolhas mais responsáveis. “Esse comportamento também faz com que a indústria repense seus produtos e busque reduzir os teores desses compostos”, conclui.
Fotos: Luisa Sperotto