Elina Magnan assume após concurso público e fala sobre desafi os, trajetória e o esforço para reaproximar a população dos serviços essenciais do cartório e do Centro de Registro de Veículos Automotores

Com sólida formação jurídica e mais de duas décadas de serviço público, Elina Magnan assumiu em maio a titularidade do Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais e do CRVA (Centro de Registro de Veículos Automotores) de Bento Gonçalves. A posse é resultado de um exigente concurso público iniciado ainda em 2018, com etapas anuladas, reavaliadas e retomadas ao longo de cinco anos. “Foi um percurso muito difícil”, relata.

Elina Magnam é doutora pela Universidade de Pisa, na Itália

Natural do Rio de Janeiro, Elina tem trajetória marcada por disciplina e dedicação. Filha de um Tenente-Brigadeiro da Aeronáutica e de uma auditora da Receita Federal, viveu em diversas cidades do Brasil e no exterior. Formou-se em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde também concluiu o mestrado. Possui duas especializações, em Direito Público e Direito Ambiental, e dois doutorados, um deles na Universidade de Pisa, na Itália, em Justiça Constitucional e Direitos Fundamentais.

Seu primeiro cargo público foi como procuradora federal, e em seguida atuou por mais de 20 anos na Procuradoria do Distrito Federal. Lá, trabalhou especialmente com ações na área da saúde, o que hoje considera um diferencial na atuação com registros civis. “Lidamos aqui com pessoas em momentos muito sensíveis, tanto de alegria quanto de dor. Ter atuado com demandas de saúde pública me ajudou a entender o cuidado necessário no trato com o público”, explica.

Apaixonada por idiomas, Elina fala inglês, francês, alemão, espanhol e italiano, além de estudar grego por hobby. Católica praticante, vê sua mudança profissional como algo espiritual. “A vida vai tomando rumos que nós não imaginamos. Eu acredito que quem está aberta ao Espírito Santo e a Deus tem os seus caminhos traçados da melhor forma”, afirma.

Cartório não é herdado: é conquistado com mérito

Elina faz questão de esclarecer um ponto que, segundo ela, ainda é pouco compreendido pela população: a função de titular de cartório não é herdada. “Desde a Constituição de 1988, todos os titulares são escolhidos por concurso público. Não existe herança. Ainda ouço comentários do tipo ‘herdou o cartório?’, mas é importante esclarecer isso”, defende.

Pela Lei 8.935/94, os cartórios são serviços públicos delegados a notários e registradores aprovados em concursos. O notário, ou tabelião, atua com documentos notariais, como reconhecimento de firma, escrituras e procurações. Já o registrador é responsável por registros civis, imóveis, títulos e documentos. “Somos profissionais do direito, dotados de fé pública. O cartório não é um negócio privado, mas uma função pública essencial à cidadania”, reforça.

Equipe do Cartório, Isabelle Turcatto Seidler, Luciana Castagnetti Teixeira, Mariana Fernandes Campana, Renã Luidi Gehm Almeida, Juliane Simonaggio, Cacieli Delavali Vieira, Eduardo Augusto Bellé Grando e a Dra Elina Magnan Barbosa, Registradora Civil

Reorganização com escuta e presença

Ao assumir o cartório de Bento, Elina percebeu a necessidade de ajustes na dinâmica de trabalho e no atendimento à comunidade. “Entrei em um cenário com alguns desafios, e estamos trabalhando, por vezes em feriados e finais de semana, para criar uma rotina de celeridade no atendimento à populacao”, conta.

Uma das primeiras ações foi construir uma rampa de acessibilidade na entrada do cartório, ainda que provisória. Mas o plano é mais ambicioso: mudar a sede para uma sala mais ampla e confortável. “Será um espaço com melhor acomodação para casamentos e mais segurança para todos. Já estamos em negociação”, adianta.

Além de cuidar da gestão administrativa, Elina também atende pessoalmente no balcão, algo pouco comum entre titulares. “Quero entender as dificuldades de perto, ouvir as pessoas. Muitas vezes, a população quer ser ouvida, mesmo quando não há solução imediata. O atendimento direto é o primeiro passo para reconstruir a confiança”, afirma.

O papel social do Cartório e a importância de informar

O Cartório de Registro Civil é responsável por todos os atos que envolvem a vida da pessoa natural: nascimento, casamento, óbito, reconhecimento de filiação, união estável, entre outros. “Aqui começa e termina a vida civil do cidadão”, resume Elina. O cartório de Bento ainda conta com o Livro E, que registra atos como emancipações, curatelas e interdições.

Para ampliar o acesso à informação, a titular planeja instalar cartazes explicativos com todos os serviços disponíveis, inclusive os menos conhecidos, como apostilamentos e união estável. “A população precisa saber que pode resolver aqui situações importantes do seu cotidiano”, explica.

CRVA: nova gestão busca recuperar confiança

Além do cartório, Elina também é titular do CRVA de Bento, que oferece serviços como transferências de veículos, emissão de documentos, vistorias e apoio a advogados e instituições bancárias. “O espaço do CRVA é excelente. Foi construído especificamente para essa função. Agora nosso desafio é reconquistar o cidadão de Bento, que muitas vezes procura outras cidades”, reconhece.

A coordenadora administrativa do CRVA, Juliana Pauluk, reforça o impacto da nova gestão. “A Elina é muito aberta a novos pensamentos. Ela nos escuta, está presente. A palavra que ela mais usa é razoabilidade. Isso muda tudo dentro de uma equipe”, afirma. Juliana destaca ainda que o CRVA de Bento é um dos poucos que funciona ao meio-dia, o que atrai moradores de cidades vizinhas. “Fazemos transferências, inclusões, vistorias, emissão eletrônica de documentos, e atendemos também por WhatsApp, telefone e e-mail”, diz.

Elina, inclusive, fez curso de vistoriador de veículos e atua também como ouvidoria direta da unidade. “Estou lá todos os dias, escuto reclamações, sugestões e acompanho as vistorias. A ideia é melhorar sempre, dentro da legalidade, mas com empatia e atenção”, afirma.

Compromisso e acessibilidade

Equipe do CRVA, André Bonatto, Gabriela Prebianca, Evandro Pinheiro, Rodrigo de Paula, Juliana Pauluk, Luan Bruschi, Cleusa Thomazzi, Elina Magnan, Neiva Schneider

A nova titular finaliza com um recado claro à população: “Tanto no Cartório quanto no CRVA, estamos abertos a ouvir todo cidadão. Mesmo que a situação não tenha solução imediata, o respeito começa pelo diálogo”, diz. Para ela, reconstruir a confiança passa por tornar os serviços públicos mais humanos e próximos da vida real das pessoas. “O cartório é onde a cidadania se materializa. E o CRVA é onde garantimos o pleno uso de um bem que também é expressão de liberdade. Por isso, cada assinatura, cada carimbo, cada orientação, precisa ser feito com responsabilidade, mas também com escuta e acolhimento”, conclui.