E sobre o papagaio (ave, e não aquele do hospital) que era companheiro de minha mãe e tinha sido treinado para só dizer palavrão, os leitores pediram alguns esclarecimentos. Fato é que a Dona Blandina não cansava de repetir “Ave Maria”, “Ave Maria”, “Ave Maria” e o verdinho, olhando de lado, só dizia “Puta Merda”.
Dei graças a Deus quando ele fugiu de casa e se mandou lá para as vizinhanças da Companhia Mônaco. Pensei que nunca mais voltaria para nossa casa, mas o danado, muito conhecido nas bocas, foi trazido para “o lar” e já com novo repertório de nome feio.
Foram mais alguns anos de “puta merda” e outras baixarias contra a persistente “Ave Maria” de minha mãe.
Nem lembro como terminou a tentativa de aprendizado, pois me bandeei para São Paulo.
Certamente Deus perdoou o papagaio que deve estar lá no céu com pimenta na boca.
Agora vou transferir o fato para o que está acontecendo com a gurizada. Ouvi de um “pentelho”, com dois aninhos de idade:
– “Chato! Bosta!”
Ele estava se referindo a mim, que lhe fiz cara feia por que vi jogar um carrinho nos peitos do outro menino que o perturbava.
Pra que! Fui direto contar para os pais do desbocado e chamei a atenção de um tio, daqueles tipo sapeca, que fica ensinando malandragem para os sobrinhos e dá risada.
Todos disseram que era convivência com outros meninos e comecei a prestar atenção no cotidiano. Surpreendente: eles não tem nada de “boca santa”. Sai palavrão toda hora e eles nem sabem do que se trata.
Fui a fundo na “pesquisa” e descobri de onde provinha aquele tal de “caraio” que os guris falavam com frequência: era de um gatinho que no WhatsApp reclama por ninguém lhe estar dando resposta às mensagens. E tinha muitas outras besteiras gravadas no telefone.
Conclusão: não adianta pessoal! A tal de globalização está muito mais forte do que as “Ave Marias” da esforçada Dona Blandina e aquele desbocado papagaio que então era um santinho.