Uma estória verídica: os pais viajaram e entregam a casa aos dois filhos adolescentes fazendo apenas uma recomendação:
– “Cuidem da casa. Voltaremos em oito dias e gostaríamos de encontrar tudo bem, como agora estamos entregando para vocês”.
Foi um “festerê”, sete dias a fio. A louça já não cabia na pia e os últimos copos e xícaras alcançavam a “americana” (aquele armário de duas portas das velhas cozinhas que ficava acima da pia).
Faltando um dia para a volta dos “véios” os rapazes se puseram a trabalhar: lavaram a louça, um pano molhado no chão da cozinha, uma lustrada na sala, espichar alguns lençóis das camas e pronto.
– “Maravilha! Estes são os filhos que sempre desejamos”.
Caso parecido foi o daquele operador de trator que recebeu a incumbência de remover todas as pedras do terreno. Cobrou por tarefa calculando o serviço para oito dias. Fez o serviço todo nas doze últimas horas antes de findar o contrato e tudo bem.
Também tem aquelas crianças que bem na hora de escovar os dentes antes de ir ao colégio dão o recado:
– “Mãe! A professora deixou tema de casa para senhora fazer!”.
É de chorar mas acontece.
Parece que a turma da última hora tem o prazer de trabalhar sob pressão. Até podem entregar a tarefa feita mas podia ser melhor.
Lembro de já ter visto uma proeminência política de uma cidade aconselhando um prefeito logo no início de seu mandato:
– “Não faz nada agora. Deixa tudo para o último ano. Daí então tu inaugura a obra e o povo fica feliz e vai dizer: esse sim que fez!”.
E o outro conselheiro já emendou:
– “O povo tem memória curta!”
Parece incrível que estas coisas aconteçam: planejamento para deixar de fazer alguma coisa.
No caso dos dois adolescentes assim se justificaram para os amigos:
– “Fizemos o nosso trabalho: entregamos a cozinha em ordem e a casa limpa.”
Podiam ter feito mais e melhor sem enganação em cima de seus pais que, com certeza, teriam passado vergonha se soubessem da realidade: sete dias de descaso e um para salvar as aparências.
Aquele que contratou os serviços do trator certamente se sentiu roubado: pagou muito mais do que o tempo necessário.
A mãe que na última hora ficou sabendo do tema que ela deveria fazer para o seu filho, no mínimo deve ter dado uma lição de disciplina para que nunca mais se repetisse tal descaso,
E o povo, paciente e resignado, que ficou sete anos aguardando a realização de obras? Pense no quanto sua cidade ficou atrasada no tempo e quanto tempo ficou sem usufruir dos benefícios que só lhe apresentaram no apagar das luzes.
O planejamento dos interesses políticos parece parte do currículo de faculdade onde alguns tiveram o mesmo professor: O EGO!