Se hoje quem passa pela Linha 8 da Graciema, no Vale dos Vinhedos, encontra um local repleto de atrativos para todos os gostos e bolsos de visitante e turistas, como: vinícolas, hotéis, pousadas, restaurantes, cafeterias e até cervejaria, talvez nem imagine que antigamente o local era composto apenas por uma casa e outra, além da terra de chão.
A moradora Lourdes Gabiatti de Bacco, 77 anos, é uma memória viva da transformação que o local passou no decorrer dos anos. Ela mora no 8 da Graciema há 54 anos. Da janela de casa, já que por ser integrante do grupo de risco evita o contato com o mundo externo, ela conta sobre as mudanças. “Há 50 anos todo mundo era pobre, as casas eram velhas, não tinha esse capricho de plantar grama e plantas. Agora o pessoal gosta de ajeitar um pouco mais”, afirma.
Casada com o agricultor Ancelino de Bacco, 83 anos, Lourdes conta que trabalhava ajudando o marido na roça, fazendo serviços de casa e cuidando do casal de filhos que agora moram em Bento Gonçalves.
Entretanto, quando o assunto é agricultura, Lourdes afirma que os parreirais do 8 da Graciema estão sumindo devido a não valorização dos agricultores e da uva. “Dentro de cinco anos não vai ter mais parreiras aqui. Diminuiu muito a quantidade. A despesa que temos é grande e nem sabemos qual vai ser o preço da uva que entregamos na última safra. Não sabemos o preço, não sabemos quanto vamos ganhar, não sabemos nada”, lamenta.
Poucos jovens no interior
Ilva Assunta Mariani Milani, 65 anos, nasceu no 15 da Graciema, mas após o casamento, foi morar no 8 da Graciema com o marido, o agricultor Hilar Milani, que mora no mesmo local desde que nasceu.
Ilva, percebe que os jovens não ficam mais no interior, quando crescem, vão para a cidade. Além disso, assim como a vizinha, também lamenta a pouca valorização do preço da uva. “Meu marido trabalha com uva de mesa. Esse ano a safra não foi muito boa, ainda mais com a seca. E o preço faz dois, três anos que é o mesmo”, comenta.
Também antiga moradora, a turismóloga aposentada, Vera Lucia Peres Costa Brandelli, 63 anos, reside no local desde 1982. Ela considera a comunidade unida e afirma que a realidade de antigamente era outra. “No começo era estrada de chão, tinha poeira e barro. Depois foram aprimorando, até que chegou o asfalto. Não tinha nada de comércio, de restaurante, hotel, pousada. Só tinha moradores que se deslocavam para a cidade e poucas empresas”, recorda.
Ciente de que a tendência do local é ter cada vez mais fluxo, Vera afirma que já está adaptada. Entretanto, considera o movimento caótico nos finais de tarde. “Não pelo movimento de turistas, mas de quem trabalha aqui e mora em Bento. Se eu quiser ir para cidade, entre as 17h e 18h é o pior horário, tem fila quilométrica só para atravessar o asfalto. Os turistas não atrapalham em nada”, opina.
Pedido dos moradores
Quem passa pelo 8 da Graciema à passeio, provavelmente não sinta falta de nada. Entretanto, os moradores relatam algumas necessidades, que para serem supridas, torna-se necessário o deslocamento até Bento.
A aposentada Vera afirma que um supermercado faz muita falta. O mais próximo está há 2 km de distância. “O mais perto fica no 15 da Graciema, lá tem tudo, mas por ser pequeno, se torna mais caro, então compensa às veze ir até um mercado maior, na cidade, para pagar menos, então falta um mercado bom por aqui”, aponta.
Acostamento: um pedido em nome da segurança
A analista comercial em uma biscoiteira, Jussara Ferron, afirma que um acostamento no asfalto faz muita falta já que o fluxo de carros é intenso no local. “As pessoas têm dificuldade de atravessar a rua. É grande o movimento de veículos e o pouquíssimo de acostamento que tem é perigoso, porque é de pedra brita e pode saltar nas pessoas”, observa.
Jussara acredita, inclusive, que o acostamento poderia gerar um turismo diferente. “De pessoas que caminham, que poderiam fazer compras a pé ou até mesmo de bicicleta”, aponta.
Apesar de saber bem quais melhorias o 8 da Graciema precisa, Jussara define o local como maravilhoso para trabalhar. “Já trabalhei em vários lugares do Brasil, mas aqui é o melhor para se viver, na Serra Gaúcha e aqui no 8 é muito tranquilo, é como estar em um sitio, é uma tranquilidade”, destaca.
Moradia e trabalho no mesmo local
Jociane Brandelli, 41 anos, nasceu e cresceu no mesmo local. Há oito anos, junto com a irmã e o cunhado, abriram uma loja de chocolates e há dois uma malharia no local. Ela afirma que morar e trabalhar no 8 da Graciema é gratificante. “É muito bom. Vem muitas pessoas de fora, que gostam de conhecer nossa história, de saber o que a gente faz e como era antigamente”, assegura.
Embora o movimento tenha caído bastante, devido ao Covid-19, Jociane tem boas expectativas para o futuro. “Para tudo existe um recomeço. Estamos nos protegendo com máscara, álcool gel, acho que isso ajuda bastante nós e as pessoas que estão vindo para cá. Voltar a ser como era, acho que não volta, mas vamos recomeçar de uma maneira diferente. Vamos aprendendo a nos habituar com o que tem para seguirmos em frente”, acredita.