Clacir Rasador
Salvo melhor juízo – data venia, não estou a me referir ao STF –, a política é a ciência mais criticada, mais debatida, mais maltratada e embora não escolha geografia para tanto, tem uma queda especial pelo planalto.
Tida em diversos grupos como assunto proibido, causa de inimizades de parentes, conhecidos amigos e/ou desconhecidos inimigos, me pergunto…será que sempre foi assim?
Pode parecer estranho, mas trago comigo uma lembrança afetiva de quando, pela primeira vez, ouvi falar de política.
Tinha lá meus 08 anos de idade e sobre aquela cristaleira de madeira de lei se encontrava em destaque a foto de um senhor sorridente, engravatado, cabelos lisos, encharcados de goma e penteados para trás, a quem fui apresentado orgulhosamente pelo meu vô paterno Francisco (conhecido por Berto) com um largo sorriso: “É Leonel Brizola, um grande homem da política brasileira”.
Escolhas partidárias à parte, a forma de como me apresentara e as histórias que ouvia em defesa do político (a bala comia pelas bodegas, entenda como queira) e partido político lá pelos lados de Santa Bárbara da então Monte Belo (à época distrito de Bento Gonçalves – RS), davam conta do elevado apreço à ciência da democracia e fidelidade a tal figura política.
Sim, eram outros tempos. Se hoje se fala em bipolarização, imagine em uma época em que eram dois partidos políticos que disputavam cada voto daqueles títulos de eleitor, tipo uma caderneta feita de papel cartolina, puída nas bordas pelo tempo e cravejada de carimbos e datas pelo histórico de eleições que registrara.
Inocente, dirão alguns, sempre houve conchavos, artimanhas políticas, interesses, parafraseando o próprio Brizola…
É fato, é do jogo político, é da democracia, argumentos não faltam.
Contudo, por mais justificativas que possam ser plausíveis sob a ótica da política partidária, graças à tecnologia, arquivos são consultados e, tal qual aplicado o VAR (Video Assistant Referee), não há como deglutir sem náusea a negação dos discursos morais de outrora, a flexibilização da injustiça, a tolerância à desonestidade, aos desvios “não comprovados” e inocentados pela cega “justiça” e as alianças de mãos dadas e sujas, mesmo com dedos em falso, em nome da tão tristemente achincalhada democracia.
Sem dúvida, é por essas e por tantas outras que o fruto da ciência política, o político, é uma “espécie” que merece ser estudada sempre, especialmente em tempo de eleições. Naturalmente, move-se pelo interesse particular nas mais diversas direções (direita, esquerda, centro, embora possa estar com o rabo preso, quando não lhe faltam partes), se reveste de novas cores ao menor risco à perpetuação de sua espécie, melhor dizendo, de seu cargo – na moda sempre o tom do poder –, e revela ainda, a caminho das urnas, ser maligno ou benigno, não somente pela sua composição moral, ética, mas, igualmente, pelas trocas e coligações que faz para seguir respirando, pelo tipo de energia gasta, pelos valores em todos os sentidos que queima ou, até mesmo, rouba para chegar a eleição e, lá chegando, fica imune a quase tudo por no mínimo 04 anos…
Todo cuidado é pouco, pois, no país da política, cujo partido maior é o do poder a qualquer custo, ninguém é de ninguém… tão pouco o eleitor…assim esperamos.