Já tentou passear de carro na janela do banco de trás como quando era uma criança? Já tentou fazer um percurso sem pressa, a pé, do trabalho pra casa? Já sentou no banco de uma praça, observou as pessoas, apreciou a vista, ouvindo os pássaros? Já caminhou no passo de uma criança de 3 anos? Já viajou de ônibus? Já ficou na cadeira aguardando ser chamado no banco sem o celular?
Quem já se deparou com uma das situações acima, sabe que estou falando de passar o dia sem pressa. De “carpe diem”, aproveitar o momento. Olhar o que sempre via e nunca enxergava. Uma casa com seus detalhes, um comércio que abriu, uma calçada que parece longa ao percorrer, uma árvore centenária, pessoas estranhas, caminhos diferentes, cheiros, pessoas.
Aquilo que chamamos de modernidade, nos tirou muito da paz. Nunca estivemos tão presos dentro de uma falsa liberdade. Nunca, em outra época, os jovens brigavam para ficar trancados no quarto – e o que parece inofensivo, na verdade, é muito preocupante.
Há 4 anos eclodia uma pandemia que tentava nos isolar, reforçar hábitos de higiene, mostrar o poder e a letalidade de um vírus. Ao ficarmos separados, provamos a necessidade do outro. Ao permanecer demasiado em casa, vimos o valor de caminhar pela rua. Ao usar máscara, demos valor ao ar puro. À vida, que parecia, por um instante, tão efêmera. Às relações sólidas em uma era tão líquida e fugaz.
Assim, nos demos conta o quanto os dias eram longos e as companhias, necessárias. Tal qual outro mamífero, nascemos sós, mas com necessidade de estar em bando. É por sobrevivência. Nos complementamos quando estamos em partilha. O tempo demora a passar por estarmos imersos ou passa veloz demais quando o papo está bom.
Embora a moda diga que é chique ser atarefado, multiuso, workaholic, a essência da vida está em desacelerar. Aproveitar e otimizar sim o tempo, mas com qualidade, com tempo de ócio e tudo.
Hoje parece realmente interessante quem não para nunca, quem vive na produção desenfreada, quem vive brincando de pique-esconde com o tempo. Quem não tem tempo pra nada. No entanto, para viver junto, a gente almeja um alguém disponível, que traz calmaria em meio a tormenta, que nos trata como prioridade quando o assunto é tempo, que vê a vida passar devagar, sem pressa, apreciando a paisagem. Que sabe ser e estar por inteiro.
E da próxima vez, quando a vida lhe cobrar rapidez, respire fundo e não tenha pressa: ela passa somente uma vez. Aproveite a jornada!