“Devemos investir na educação, rever o modo como as propagandas disseminam representações dos corpos de homens e mulheres, como os filmes, novelas, etc., ainda reforçam estereótipos, conversar sobre o tema em diversos espaços… Enfim, precisa haver um movimento de desconstrução das desigualdades de gênero para combater o sexismo e misoginia na nossa sociedade”.
Pois bem. Vamos ver o que as que se dizem feministas estão fazendo para ajudar.
Na última sexta-feira, dia 12 de junho, um clipe musical foi lançado e está sendo assunto para youtuber que não tem conteúdo, para sites de fofocas, para preconceituoso e machista passar seu tempo ocioso de quarentena e para eu passar raiva.
O clipe tem, até o fechamento desta edição (sempre quis dizer isso), 29 milhões de visualizações, mais de 600 mil comentários (até então, o videoclipe brasileiro mais comentado da história do Youtube), 1,6 milhões de likes e 3,9 milhões de dislikes. A justificativa do povo que não gostou é: o clipe é pejorativo e humilha o ex-marido da cantora – que fez um feat com um cantor -, que supostamente teve um caso com ela enquanto era casada. O clipe tem uma melodia ruim, uma letra e coreografia que não me dizem nada, a não ser apologia barata ao sexo. Como muitas outras músicas, de diversos estilos, por esse mundo afora. Ponto.
A música é importante na comunicação. Artistas transmitem pensamentos por meio de suas letras e conseguem atingir um grande número de pessoas. Se fosse só um homem cantando a mesma coisa, seria melhor? Não. Seria ruim igual. Sem criatividade, sem graça, sem força.
Pobre natureza.
Segundo a cantora, sua equipe queria privar as interações negativas, mas ela não deixou, dizendo que sempre será voz para as mulheres. Mas o que um “peito à mostra” poderia fazer por mim, nesse contexto? Por aquele menino que está sendo criado por pai e mãe machistas? Por aquela menina que quando usa roupa curta é alvo de críticas, bulliyng e, por muito menos, é violentada? Por aquela mulher genial que ganha menos do que seu colega e tem menos chances de subir de cargo?
A luta pelo fim da objetificação do corpo da mulher é para que todas tenham liberdade de escolher o que querem vestir e como querem se comportar, sem medo de serem interpretadas equivocadamente. Não é o caso desse clipe, ou por acaso existe algum tipo de objetificação permitida e eu não estou sabendo? Ele deveria estar em outra plataforma, não no Youtube. A maioria das crianças não têm educação adequada para entender a simbologia – se é que existe – por trás dele. Ok, não é para crianças, mas está lá para qualquer dedinho fofo clicar na tela algumas vezes e encontrar a obra prima. E aí?
Feliz da equipe produtora. Lembra dos números acima? Já devem ter subido. Está no Top 15 do principal streaming de música do Brasil. O que eles queriam, será alcançado. E o que mudou na igualdade de gêneros no país? Nada.
A questão é: as críticas feitas não têm o foco correto, ela tem o direito de fazer o que quiser e quando quiser, mas o ‘trabalho’ não me representou, não me agradou, não está na lista das coisas que acho que se pode fazer para combater o machismo na sociedade. Virar um ‘transformer padrão-desejo sexual’ e cantar sobre acasalamento é gratuito, pobre e acho que ela tem um potencial enorme para fazer bem melhor.