Moradores se organizam para formar comissão que será responsável pela água da localidade
É no interior de Bento Gonçalves que se encontra uma comunidade muito unida e engajada: a Linha Alcântara. Por lá, quando algum setor da localidade precisa de mais atenção ou de melhorias, os moradores não pensam duas vezes, se juntam e não medem esforços para resolver os problemas.
Até o momento, todas as famílias do local são abastecidas pela água de poços artesianos, que sempre esteve sob os cuidados da prefeitura. Contudo, o poder público municipal não poderá mais administrar esse tipo de serviço.
Com isso, a comunidade passaria a receber água da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), o que não é desejo deles. Para evitar que isso ocorra, os próprios moradores arregaçaram as mangas e foram à luta: estão organizando uma comissão para que eles mesmos possam administrar a água.
A professora aposentada, Serjane Cristófoli Glanert, 57 anos, afirma que reuniões já estão sendo realizadas para que seja criada uma equipe organizadora que se responsabilize pelos poços. “Para continuarmos usufruindo dessa água, que já estamos habituados. O pessoal não está muito afim de fazer essa troca”, afirma.
Serjane explica que a comissão será uma entidade sem fins lucrativos. “Tem bastante custos, por exemplo, a manutenção de encanamentos, pagamento de luz que é alto, então estamos tentando formar esse grupo que vai assessorar”, explica.
O primeiro passo já foi dado: a diretoria já foi formada pelos moradores. Agora, de acordo com ela, os membros terão que visitar todas as casas para repassar as informações. “Nem todos entendem, acham que se a Corsan vier, vai manter o poço, mas não é assim, vai vir a água do Barracão para cá. Vamos ter que passar nas residências, explicar que o trabalho vai ser voluntário, que ninguém vai ganhar nada, pelo menos não no começo”, conclui.
Transporte público
A também professora aposentada, Gladis Cristófoli Flamia, 59 anos, afirma que outra necessidade da comunidade é referente ao transporte público municipal que vai da Alcântara para Bento Gonçalves e vice-versa.
Gladis afirma que quem não possui veículo próprio e depende do ônibus para se deslocar até a cidade, enfrenta dificuldades, porque há poucos horários. “São muito restritos, então, quem precisa, tem que ir até Faria Lemos para pegar o ônibus, porque aqui não tem cedo, só tem dois ou três horários”, queixa-se.
A aposentada relata que antigamente justificavam que a falta do transporte se dava por conta das más condições de acesso da estrada. “Agora tem asfalto e continua a mesma coisa. Como só tem uma empresa de transporte, não tem muitos horários e isso se torna difícil. Agora, em época de pandemia, claro que todo mundo procura não sair, mas fica difícil para quem precisa se deslocar”, lamenta.
Clube de mães
Outro motivo de união entre a comunidade é o Clube de Mães, fundado há 17 anos. A presidente, Serjane, conta que nos finais de semana, antes da pandemia do coronavírus, os homens costumavam se reunir para jogar carta ou futebol, enquanto as mulheres se juntavam para conversar e tomar chimarrão.
Além disso, uma vez por mês, os moradores se reúnem no salão da localidade, onde diversos tipos de atividades são realizadas. “O objetivo maior é as mulheres se reunirem, fazer com que aquelas pessoas que não saem de casa, possam ir lá conversar, comemorar o aniversário, se divertir”, assegura.
O clube também organiza viagens para diversos locais, proporcionando novas experiencias para os membros. “Tem pessoas que saem e conhecem tudo, mas tem gente daqui que não conhecia nem os outros distritos. Nós já fomos para Monte Belo, Vale dos Vinhedos, Serafina Corrêa, Caxias do Sul, Porto Alegre. Tem gente que fez com o Clube de Mães, porque com a família não tinham oportunidade”, afirma.
Para decidir o próximo destino, as integram realizam uma eleição. “As mais jovens querem locais como Riveira. As mais idosas gostam de lugares mais próximos, de ir em uma igreja. Tentamos fazer as duas coisas, para agradar todas as idades”, finaliza.
Famílias elogiam serviço de saúde
Os moradores da Linha Alcântara, no interior de Bento Gonçalves, não têm um posto de saúde próprio, destinado especificamente para a comunidade. Entretanto, quando precisam de serviço médico, buscam atendimento no local mais próximo, no caso, no distrito de Faria Lemos.
Ainda assim, quando o assunto é saúde, a comunidade é só elogios. É o caso da Eleine Cristófoli, 67 anos e do marido Alceu Cristófoli, 70 anos. O casal não tem plano de saúde, portanto, dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). “Só vamos ali. Tem médicos muito bons. Os exames as vezes demoram, mas outras vezes vem logo”, defende.
Cristófoli já precisou fazer quatro cirurgias, todas pelo SUS. É por isso que ele diz que “se eu reclamar, estarei cometendo pecado. Para mim, se melhorar, estraga”, elogia. Quanto a medicação, também não tem queixas. “Nunca faltou nenhum dos remédios que usamos”, comemora.
A professora aposentada Ananci Maria Salton tem a mesma opinião que os demais moradores. “Estamos bem servidos nessa questão, porque em Faria Lemos temos a unidade básica de saúde, com médico, enfermeiro, enfim, com essa assistência”, pontua.
Mesmo que os profissionais da área não atendam diariamente, Ananci não vê problemas. “Não é todos os dias que tem médico. Senão, como tem a ligação asfáltica, com o acesso para a sede do município, em questão de 15 minutos estamos na cidade. Disso a gente não carece”, assegura.