Entrar em um táxi e se deparar com uma mulher guiando o carro está se tornando comum. É que cada vez mais o sexo feminino está aderindo a profissão de motorista. Em Bento Gonçalves, dos cerca de 90 taxistas ativos, percorrendo as ruas cidade todos os dias, seis são mulheres.
Entretanto, esse cenário pode ser considerado recente. Há pouco mais de dez anos, por exemplo, quando Elisangela de Lima dos Santos, 47 anos, decidiu arriscar nessa profissão, por influência do marido, Silvano dos Santos, que já atuava como taxista há um ano, a realidade era outra. “Naquela época não era comum, só tinha eu e outra mulher trabalhando com isso, éramos só nós duas”, relembra.
Elisangela, que antes trabalhava de dia com faxina e de noite em uma pousada, admite que no começo sentiu medo de mudar para um ramo totalmente diferente do qual estava acostumada. “Imagina uma mulher que era mais do lar, dona de casa, fazendo um serviço tão diferente. Até achava que não iria me adaptar. Começar de uma hora para a outra como taxista para mim foi bem estranho. Dava certo medo, mas acabei gostando, é um serviço bom, me permite conhecer muitas pessoas”, conta.
A taxista gostou tanto do trabalho que incentivou a filha, Brenda Cristien Baggio Garcia, 24 anos, a também exercer essa atividade. “No começo eu não queria, mas a mãe sempre pedia para eu trabalhar com ela, foi me puxando e eu acabei aceitando, mas agora eu gosto”, assume.
Brenda conta que os passageiros, quando entram no carro, ainda esboçam reações de surpresas ao ver que é uma mulher dirigindo. “Principalmente porque eu sou mais nova, têm alguns que até perguntam se eu tenho idade para dirigir, mas eles ainda ficam surpresos sim”, conta.
Questionada se ainda existe preconceito com mulher no volante, Elisangela afirma que sim, embora de forma mais disfarçada. “Ainda tem, mas não é tão à vista mais. As pessoas se contém um pouco para falar, mas ainda sinto. Naquela época era pior, a gente sentia que as pessoas tinham até um pouco de medo por ser mulher dirigindo, era aquele velho ditado da mulher no volante, perigo constante, mas depois as pessoas foram se acostumando, hoje é mais tranquilo”, observa.
Se por um lado ainda tem um pouco de preconceito, por outro, passa segurança principalmente para o público do sexo feminino. “As mulheres ficam bem mais à vontade, a nossa clientela maior é mulher, porque elas se sentem mais protegidas, não ficam com receio por ser homem, tem bastante diferença”, percebe Elisangela.
Aplicativo de mobilidade urbana
O Garupa, que opera em Bento Gonçalves desde julho do ano passado, também apresenta crescimento de mulheres no ramo. De acordo com o sócio operador, Airton Deon, atualmente, o serviço conta com 300 motoristas cadastrados, dos quais cerca 60 estão ativos. Desse número, pelo menos 18 são mulheres.
É o caso da Josemara de Souza Garcia, 27 anos, que faz parte do Garupa desde que ele nasceu na cidade. Com um carro só, o marido Halan David Garcia Pinto e ela se revezam na função. Ela de dia, o esposo de noite.
Josemara acredita que o medo é o maior empecilho para que mais mulheres busquem a profissão de motorista. “Tem várias que me perguntam se não tenho medo de trabalhar com isso e digo que não. Aqui para nós é tranquilo, estamos em uma região tranquila, então é só querer e perder o medo”, finaliza.