Na condução desta viagem chamada VIDA, cada qual, na sua velocidade, sintonizado ou não no mundo ou no seu próprio mundo, de repente, com a notícia da pandemia, foi parado no sinal; na fila da sinaleira da normalidade, da sua rotina.

Talvez cantaria hoje nossa saudosa gauchinha Elis Regina: “por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina” e em todo lugar, “e o sinal está fechado pra nós, que somos jovens” ou nem tanto assim.
Mas o que parou realmente?

O Tempo não para, cantou Cazuza; o Dia em que a Terra Parou, profetizou Raulzito… Na verdade, cada qual escreve sua própria história e ao seu ritmo, embora este possa ter sofrido um revés… Tocando em frente, ao som da viola de Almir Sater, creio, seja sempre uma ótima pedida.

De qualquer forma, a parada na fila da sinaleira da normalidade, da rotina, tem nos dado a oportunidade de desligarmos o modo “automático”, de sairmos do cockpit, de olharmos a paisagem, os passageiros conosco, de nos darmos conta dos sinais, verificar se a direção, se o caminho, se a velocidade estava correta, se a “música” que tocava era de fato a melhor para o nosso ritmo, inclusive se a ouvíamos, ou mesmo em silêncio. A partir daí, por que não sintonizar uma nova estação?

Por outro lado, sim, por mais que amássemos e víssemos como perfeita a rotina de que ora sentimos falta – entremeio a discussões de ordem política e descobertas da ciência –, nossas vidas estão a tomar e irão tomar rumos diferentes, mesmo que imperceptivelmente, porém, por mais que nos seja difícil essa mudança, jamais podemos deixar a pandemia com a sintonia de nossas vidas.

Nesta sinaleira da normalidade estamos na maior fila imaginária presenciada pela humanidade, aguardando, ansiosos, o sinal verde da vacina, pela qual esperamos todos passar, sem lenço, mas com documento, com ou sem dinheiro no banco, sem necessitar de parentes importantes, vindos ou não do interior, mais que latino-americanos, cidadãos do mundo, ponderaria Belchior.

No cockpit da vida, a pandemia tem causado interferência nos relacionamentos, requerendo um ouvido aguçado para o que está a ocorrer em nosso meio e, especialmente, ouvir o silêncio. Este grita alto nesses momentos. Em tais casos, acertar a sintonia tem na sua fórmula o composto da atenção, do cuidado, e, fundamentalmente, o princípio ativo AMOR e vitamina D… DEUS!

Sigamos com fé, pois a fé não costuma “faiá”, nunca “faiô” e não será agora, seja na voz de Gilberto Gil, seja em especial na mente e coração de cada um de nós.

Já choramos muito, muitos se perderam no caminho, e a eles nosso tributo de gratidão pela lição aprendida de cor ou reestudada a cada dia, o importante é seguirmos em frente aprendendo.

E logo mais, quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos, vales, serras e tocar nossos vinhedos, ao trocar da estação, que venha nos trazer o sol de primavera, parafraseando a linda canção de Beto Guedes.

E nesse mesmo ritmo, com a Anunciação de Alceu Valença, quisera acordarmos com a bruma leve numa manhã de domingo, escutando sinais como se um anjo estivesse a sussurrar ao nosso ouvido a chegada da tão esperada cura desta pandemia, anunciada nos sinos de nossas catedrais, da nossa Igreja Matriz Santo Antônio… A sinaleira abriu, a fila anda, mude a estação, sintonize uma nova vida, componha e cante uma nova canção! Afinados ou não…não importa. É melhor cantar desafinado que chorar no tom certo, já dizia o sábio lema do inesquecível grupo Sexta-feira Alegre de nossa cidade do espumante. Vamos juntos nesta linda orquestra, sintonizados na VIDA! Saúde!

Clacir Rasador