Em meio às ladeiras e montanhas que formam e embelezam a topografia do município, Bento Gonçalves é uma cidade que cresce em território e também em número de habitantes. O aumento da população gera, por consequência, o crescimento da circulação nas vias públicas. Por diferentes motivos, parte considerável das pessoas opta pela locomoção em veículo próprio. A situação gera um cenário comum aos motoristas bento-gonçalvenses em horários de grande fluxo: congestionamentos em diversos pontos da cidade.
De acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), a população de Bento Gonçalves cresceu por volta de 6% no período entre 2010 e 2016. São estimados cerca de 7 mil novos moradores no município.
O rápido crescimento de habitantes é relativamente pequeno se comparado ao aumento da frota veicular na cidade no mesmo período. Em 2010, segundo levantamento do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), trafegavam em Bento Gonçalves aproximadamente 63 mil veículos; em 2016, pouco mais de 81 mil viaturas foram registradas pelos moradores da cidade – crescimento de 28%, em valores aproximados.
Os altos índices de meios de locomoção pessoais têm um preço. Diversos pontos da cidade possuem engarrafamentos nos horários de pico. Aliada a esse fator está a falta de vias alternativas, que também gera reincidentes relatos de tráfego lento em diferentes regiões de Bento Gonçalves.
Uma rodovia entre bairros
Um ponto de lentidão de via acontece na ligação entre o centro e os bairros São João, São Vendelino, Loteamento Medianeira e Linha Eulália. A necessidade de atravessar a BR-470 para ter acesso aos bairros é perigosa e torna o fluxo rodoviário na região bastante truncado. Constantes são os relatos de engavetamentos na rodovia.
Os movimento lento surge de diversas direções. Motoristas que se deslocam no sentido Garibaldi-Bento Gonçalves encontram-se com condutores locais que desejam entrar nos bairros. A situação agravou-se após o fechamento de parte da rótula no sentido centro-bairros. A alteração feita há cerca de um mês torna obrigatório o tráfego pela BR-470 – onde faz-se o retorno – para quem deseja se dirigir às localidades.
O retorno para viabilizar a entrada nos bairros São João e São Vendelino, por exemplo, torna necessária a travessia no meio da faixa, o que carrega, ainda mais, o trânsito. A área de passagem do retorno confunde-se com a área de um posto de gasolina da região. De acordo com o gerente do estabelecimento, Marcelo Paese, o trânsito nas imediações é complicado em todos os dias. “Nos horários de pico, o fluxo vem de todos os lados. A situação se agravou após o fechamento do trevo que dava acesso direto ao bairro”, explicou.
Um dos motoristas que precisa explorar as novas mudanças é Hélio Soares. O condutor utiliza o refúgio próximo ao posto de gasolina enquanto aguarda a esposa que trabalha nas imediações. Todos os dias Soares, que é morador do Loteamento Zanetti, precisa fazer o retorno na BR-470. Ele acredita que a situação está cada vez pior. “É nítido que não há condições ideais nesta entrada da cidade. As alterações foram ruins e afunilaram a rodovia”, explicou.
Bairro mais populoso
Outro ponto de engarrafamento observado pela reportagem do Semanário é a ligação entre o centro da cidade e o São Roque. Os moradores do bairro com maior população de Bento Gonçalves têm dificuldades para entrar na região. A Rua Guilherme Fasolo concentra boa parte do fluxo de carros que se desloca no sentido centro-bairro. Nos horários habituais de fim de expediente os engarrafamentos são corriqueiros.
De acordo com Dilnei Marcolin, funcionário de um estabelecimento comercial próximo à rotatória da Rua Guilherme Fasolo, acidentes na via são constantes. “O congestionamento acontece também pela falta de respeito dos motoristas. É um bairro muito grande para receber tantos carros ao mesmo tempo e em somente uma trajetória”, afirma.
Uma alternativa ventilada pela população da região seria a colocação de uma sinaleira para diminuir os problemas no entroncamento. Marcolin discorda. “Nós vemos todos os dias os problemas e o que acreditamos que a sinaleira aumentaria a lentidão”, destacou. Outra possibilidade seria a melhor exploração do sistema público de mobilidade.
Os relatos mais comuns para justificar o uso de veículos pessoais sinalizam o descontentamento com o transporte público. De acordo com Marcolin, os ônibus que passam em direção ao São Roque nos horários de pico estão sempre lotados por alunos que estudam na região. A situação não é exclusiva aos moradores do São Roque. Hélio Soares, também acredita que se os itinerários dos ônibus o contemplassem, utilizaria menos o carro próprio. “Muitos bairros não são abrangidos, as pessoas optam pelo carro e por conta disso geram engarrafamentos”, explicou.
A reportagem do Semanário tentou contato com a Secretaria de Mobilidade Urbana do município de Bento Gonçalves, mas até o fechamento dessa edição não obteve resposta.