Fugindo das intrigas e assassinatos da Roma antiga, pousei meu fusca em Marte. Não no Planeta Vermelho, que este ainda é um sonho distante dos viajantes do tempo… Mas no Campo de Marte de Paris, em frente à icônica Torre Eiffel.
Estranhei a marca automotiva da Citroën brilhando num grande letreiro vertical, que podia ser visto até quarenta quilômetros de distância. Eta marqueteiros! Aproveitando a Torre como outdoor!
Conferindo a data no painel da minha supermáquina, descobri que estacionara nos anos vinte, época em que a capital francesa abrigava talentos femininos de todas as manifestações artísticas, fazendo praticamente uma revolução nas artes e nos costumes.
Antes de me aventurar nas alturas daquela imensa treliça de ferro forjado, optei por me misturar às damas geniais que fervilhavam nos bares e bistrôs. Havia escritoras, jornalistas, pintoras, artistas, fotógrafas…, todas unidas pela arte e pelo desejo de derrubar a hegemonia masculina. Para me parecer minimamente com elas, pintei os lábios de vermelho, marquei os olhos de preto, polvilhei as maçãs do rosto com carmim e concluí a operação com algumas gotas de perfume. Francês, é claro!
Gostei do resultado. Sentindo-me a própria Gabrielle Collette, entrei fundo na história… Fiquei indignada quando soube que os primeiros quatro livros dessa escritora haviam sido publicados com o nome do marido, um homem medíocre e machista inveterado. Santa usurpação! – diria Batman.
Quis adiantar uma década para conhecer a vivo e… em preto e branco, a primeira cientista mulher, cuja descoberta permitiu o desenvolvimento do Raio-X. Graças a ela, sei que minha coluna é o habitat dos papagaios. Ao menos, bicos abundam… Mal vislumbrei o semblante quase transparente de Marie Curie, marcado pela dor da perda do companheiro – o também cientista Pierre Curie, atropelado por uma charrete – e pela leucemia, provocada pelo manuseio dos elementos químicos rádio e polônio. Madame Curie deu a vida para a ciência. Literalmente.
Entristecida, voltei pra meu fusca voador e acelerei fundo… Quando vi, tinha deixado a França e aterrissado na Rússia, no obscuro século XVII, com Catarina II, a Déspota Esclarecida, aprontando as suas. A mulher era sexual e belicamente voraz. Colecionava amantes e cobiçava o território alheio. Inclusive, um dos feitos da czarina, depois de anos de guerra, foi a anexação da Crimeia à Rússia.
Se ficasse mais um pouco, seria decapitada. Então prudentemente voltei para 2022… Prudentemente?! Estouros, estampidos, explosões, incêndios, genocídio…
Paris, “cadê você, minha filha”? Ufa! Foi por pouco!
Melhor escalar de joelhos todos os degraus da Torre Eiffel a assistir à sanha “putiana”…