Criar objetivos é saudável e necessário para realizar sonhos. Psicóloga e economista dão dicas de como dar o primeiro passo para uma vida diferente neste novo ano

Em um novo ano, um ciclo diferente se inicia com oportunidade de concretizar a realização sonhos antigos, sonhar com novos objetivos e tirar os planos do papel. Muitas metas, entretanto, se perdem com o decorrer do tempo.

A psicóloga Viviane Tremarin afirma que isso pode acontecer por vários motivos, entre eles, a falta de planejamento, metas difíceis de alcançar e até mesmo a definição de um objetivo pouco específico. “Quando pensamos nas coisas novas que queremos na nossa vida, isso precisa vir acompanhado de um plano de ação, que nos orienta sobre quando a mudança irá começar, quais serão os possíveis obstáculos, quanto tempo do dia será utilizado para trabalhar no objetivo, e assim por diante. Quando isso não acontece, fica muito mais fácil se deixar levar pelas distrações. Da mesma forma, quando criamos objetivos inalcançáveis a frustração acaba sendo companheira de viagem e nos leva à desistência”, explica.

A profissional destaca que é necessário atentar aos valores envolvidos nas metas. “Eles são os mesmos que os nossos? Estamos fazendo isso para nós mesmos ou por outra pessoa? A meta é um desejo nosso ou é um desejo dos outros sobre nós? São questões que podemos levar em consideração na hora de estipular metas, para que elas não sejam abandonadas no futuro, já que elas terão mais chances de sucesso se tiverem a ver com a nossa essência”, destaca.

De acordo com Viviane, fazer metas pode ser muito saudável. Isto porque elas podem ajudar a manter em perspectiva aquilo que é importante. “Além de fortalecer nosso senso de propósito, que é muito importante para dar sentido às nossas vidas. Isso também vai depender da nossa relação com os objetivos estabelecidos. Se olharmos para os obstáculos do caminho como fracassos, é provável que a vontade de desistir seja maior e talvez isso até machuque a nossa autoestima, se julgarmos a nós como incompetentes por não conseguirmos chegar lá na primeira tentativa. Para que as metas sejam saudáveis, nossa relação com elas também precisa ser”, orienta.

Como não procrastinar?

Um dos obstáculos para a concretização de objetivos é a procrastinação. A psicóloga frisa que para evitar, é preciso pensar no porquê os objetivos são importantes e ter em mente o valor deles. “Lembre que para ser constante, às vezes será necessário fazer coisas que não são agradáveis, então estar animado não deve ser uma condição para agir. Muitas vezes o cérebro altera o nosso estado de humor na hora de fazer uma tarefa que ele considera chata ou difícil, então a procrastinamos, mas em grande parte das vezes, ele só precisa de um ‘empurrãozinho’ para ver que a atividade não era tão ruim assim. Tente a técnica dos 10 minutos: faça o que tem que ser feito por 10 minutos, se passado esse tempo você ainda não se sentir confortável a continuar, faça uma pausa, se perceber que não foi tão ruim de fazer, termine”, recomenda.

Segundo Viviane, muitas coisas na vida levam tempo. “Exigem nosso compromisso e comprometimento, trabalhar um pouco todos os dias em direção aos nossos objetivos, mesmo que seja pouco, é melhor do que não fazer nada”, ressalta.

Segredo do sucesso

Para a psicóloga, não existe uma fórmula mágica para alcançar metas, mas pode-se encontrar motivação ao manter o objetivo em mente, e aprender a lidar melhor com as emoções. “Outra dica importante é criar metas alcançáveis dentro da realidade. Posso querer me exercitar cinco vezes na semana, mas ter uma rotina tão corrida que só me permita fazer isso três vezes. Metas realistas e alcançáveis levam em conta os nossos limites”, sugere.

Além disso, adequar metas à realidade, mesmo que não seja o desejado inicialmente, vai deixar a sensação de dever cumprindo ao invés de frustração. “Vale também deixar de lado a comparação, somos pessoas com vivências diferentes e, ainda que nossos objetivos sejam os mesmos, os processos não são. Tenha em mente que a vida pode tomar outros rumos e talvez você não consiga cumprir com tudo que planejou, e isso não necessariamente diz algo a seu respeito ou ao seu valor”, aponta.

Uma estratégia para não perder o foco é deixar as metas anotadas em um local visível. “Escrever as conquistas do processo também é uma ótima forma de manter a motivação e de visualizar o avanço”, realça.

Objetivos financeiros para o novo ano

Na parte financeira, quem deseja sair das dívidas deve começar a organizar as finanças. Segundo a coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Jacqueline Corá, a primeira coisa a fazer é conhecer o ‘tamanho do problema, ou seja, o tipo de dívida, e o montante. “Contas básicas como aluguel, condomínio, água, luz e telefone, precisam ser priorizadas para não sofrer penalidades de corte de serviços; dívidas com cartão de crédito estão sujeitas a taxas de juros muito altas, o que leva a dívida a duplicar de valor. Assim, minha recomendação é separar os compromissos e buscar os credores para negociar os valores, com parcelamentos que possam ser cumpridos”, indica.

A economista afirma que a situação de turbulência econômica ainda continua complicada e 2022 promete um cenário de grande turbulência pela frente. Ela salienta, no entanto, que deve-se buscar reorganizar as finanças pessoais a partir da realidade de cada lar. “Ter conhecimento de sua realidade financeira. Ou seja, quanto é a renda da família? Quanto dinheiro entra todo mês? Quanto deste valor já está comprometido com os gastos mensais? Com essas informações, poderá fazer um planejamento de quais gastos podem ser excluídos, mesmo que momentaneamente, para equilibrar o orçamento. Todos devem estar a par da situação financeira e do que é preciso fazer para colocar a ‘casa em ordem”, instrui.

Jacqueline assume, ainda, que não está fácil poupar dinheiro atualmente. “Vivemos um momento de alta de preços (inflação) e isso leva a desajustes nas finanças familiares. No entanto, poupar está mais relacionado com hábitos do que com o quanto se ganha. Para isso, vale o que comentei anteriormente: estar ciente de sua realidade financeira e evitar gastos que ultrapassem os ganhos. Ainda assim, mesmo em situações de dívidas e dificuldades financeiras, é preciso iniciar essa prática. Pode-se estabelecer uma meta mínima no começo do ano e, programar uma meta maior gradativamente, a cada mês. Isso ajuda a família a se organizar também. Sabendo que tem a meta para poupar, vai pensar duas vezes antes de comprar coisas desnecessárias”, acredita.

Ela assegura que o endividamento das famílias, na maior parte das vezes, ocorre com compras por impulso. “Assim, para poupar em 2022, será preciso mudar hábitos e priorizar guardar o dinheiro para gastar no futuro. Abrir mão do consumo imediato. Para quem optar por essa prática, a boa notícia é que as taxas de juros estão bem atrativas e geram boa remuneração para aqueles que estão ‘guardando’ o dinheiro. Mesmo os investimentos em renda fixa estão dando boa rentabilidade. Aqueles baseados na Taxa Selic (CDI) e também nas modalidades atreladas à inflação”, exemplifica.

A docente alerta, porém, que as altas das taxas do mercado financeiro não são benéficas para todos. “Não esqueça que, se for bom para quem está poupando, será horrível para quem está devendo, pois as taxas de juros estão subindo, o que leva ao aumento das dívidas. Então, opte por ter os juros como prêmio e não como penalidade”, argumenta.

A indicação para quem quer investir são diversas, com as projeções para a continuidade dos aumentos na Selic em 2022 e a manutenção da inflação em patamares elevados. “Tem-se boas opções para investimentos no mercado financeiro. A recomendação é diversificar os investimentos: pré-fixado, pós-fixado, renda fixa, renda variável”, conclui.