Bento-gonçalvense é destaque com seus trabalhos esculpidos no basalto formados há mais de 140 milhões de anos
Muito se sabe que arte é uma excelente maneira de expressão, tanto de nosso universo interno, quando retrata os sentimentos e ideias, como também do mundo externo, tendo a arte sido muitas vezes usada para veicular valores ou questionamentos a respeito do mundo, mostrando-o como mutável, como também ajudando a mudá-lo.
E uma das formas mais interessantes de transpassar do subjetivo para o real é quando se unem elementos naturais, aprimorando a beleza a um padrão capaz de nos fazer enxergar o mundo com olhos mais atentos, detalhistas. Esse é o trabalho de Mauri Menegotto, conhecido por “Gotto”, bento-gonçalvense que faz de sua paixão o seu trabalho e que desde a década de 80 esculpe pedra basalto e madeira, reconhecido por sua delicadeza e minimalismo em obras que já foram vistas no Brasil e também na Europa e Ásia.
Desde que teve o seu primeiro contato com o ofício, aos 15 anos, Menegotto trabalhou por 17 anos como assessor de produção do escultor João Bez Batti. A partir daí se apaixonou pela profissão. “Tive outros trabalhos ao longo da minha vida, porém, nunca deixei de esculpir. Mas chegou um ponto da vida que essa paixão enraizou e eu não consegui mais parar. Busquei mais conhecimentos, conhecendo outros artistas e isso fez com que eu continuasse esculpindo”, explica.
Obras mais importantes
Atualmente, Menegotto vive de sua arte. Há seis anos, ele largou o trabalho para se dedicar ao que realmente é apaixonado. E o resultado disso pode ser visto em seu atelier: uma quantidade de obras produzidas em pedras e madeiras. Entre os destaques, a obra Vitoriana, esculpida em basalto cinza, medindo mais de três metros de altura e pesando seis toneladas. Outro trabalho que o artista destaca é a execução de uma obra em madeira canjerana, denominada liberdade. São mais de 3,2 metros de altura, onde Menegotto deixou a criatividade falar mais alto, além das dezenas de exposições em cidades como Bento Gonçalves, Bagé, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Farroupilha, Porto Alegre, entre outras, e também obras que foram destaque em mostras no exterior.
Muito disciplinado, o escultor dedica a maioria do seu tempo para as obras de arte. “Às vezes, fico uma semana aqui dentro, rabiscando, modelando, construindo, pesquisando. E isso me satisfaz. O artista não trabalha para si, mas para agradar alguém”, ressalta. Para prosseguir com seu trabalho, Menegotto tem o apoio da esposa e das filhas que o auxiliam nas obras. “Elas que preenchem as documentações, fotos, a organização de todo o material. Essa família que eu constituí me apoia incondicionalmente”, relata.
Questionado sobre as principais exposições, Menegotto destaca a possibilidade em ter seus trabalhos expostos no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). A oportunidade surgiu por intermédio de Beatriz Giovanini, incentivadora do trabalho do bento-gonçalvense. Intitulada de “Águas de Pedra”, a exposição ocorreu em 2017 com 27 esculturas. “Todo o artista sonha em ter o seu trabalho exposto no Margs. Hoje, tenho peças lá e meu nome também está registrado”, enfatiza. Modesto, Menegotto não faz diferença dos locais onde suas obras são apresentadas. “Todas as oportunidades são importantes, pois estou mostrando o meu trabalho e é isso que mais vale”, garante.
O bento-gonçalvense ressalta que o mais importante em suas obras é possibilitar que qualquer pessoa possa entender o que aquela imagem significa. “Gosto de mostrar a beleza de uma ideia. Quero transmitir o encanto da natureza através das esculturas”, pontua.
Elaboração das obras
Conforme o artista, é algo complexo, pois exige estudo, imaginação, precisão e claro, muito talento. Ele explica que após o desenho produzido no papel é feita a forma em barro para sentir a tridimensionalidade da peça.
Indagado quais as suas obras preferidas, feitas em pedras com mais de 140 milhões de anos, Menegotto diz que não possui uma em especial, pois, segundo ele, cada uma tem a sua particularidade. “Cada obra tem um pedaço da minha alma”, afirma.
Visão de futuro
Para ele, o cenário é positivo para a arte bento-gonçalvense e afirma que a cidade é privilegiada neste setor. “Estão surgindo vários artistas, de diversos segmentos, e há uma grande gama de pessoas que gostam, apreciam e consomem a arte aqui na cidade. Claro que ainda é um movimento tímido, mas, creio, que em 10 anos isso deve mudar totalmente”, acredita. Ele pontua que as novas gerações estão estudando, saindo da cidade e conhecendo trabalhos artísticos, o que possibilita uma nova visão para os próximos anos. “Sou um eterno aprendiz. Busco melhorar todos os dias e esse é o meu objetivo”, finaliza.
“Ele dá à pedra o que ela está pedindo”
Apaixonada pela arte em sua essência, Beatriz Dreher Giovanini é uma das mais intensas apoiadoras de Mauri Menegotto. Prova disso, é o trabalho que o artista bento-gonçalvense realizou para a família de Beatriz: a criação da obra “A liberdade”, esculpida em um tronco de madeira canjerana, com mais de três metros de altura e que hoje está na vinícola da família. “A partir da obra de arte que ele fez na Don Giovanni, eu fui me encantado com o trabalho dele”, explica.
Para ela, o talento de Menegotto é único. “O interessante nas obras é que ele sabe aproveitar a coloração das pedras. São artefatos milenares, com milhares de anos, e, mesmo, assim, Mauri consegue colocar figuras e elementos dentro dessas nuances”, afirma.
Segundo Beatriz, Menegotto pode ser considerado um campeão naquilo que faz. “Esse trabalho é uma descoberta. Ele dá à pedra o que ela está pedindo. Ele consegue achar o que está dentro do material. E é isso que me encanta”, ressalta. “Por estar muito próximo da gente, aqui em Bento, e por ser um artista de nível internacional, é importante que a comunidade conheça o trabalho, incentive. As obras do Menegotto caberiam em qualquer lugar do mundo”, afirma.
De acordo com ela, é importante manter a história viva para que as novas gerações possam conhecer os trabalhos dos artistas de Bento Gonçalves. “Daqui a 40, 50 anos, os nossos filhos também tenham uma herança bacana dessa época, apesar de conturbada, que a gente está passando”, pontua. Ela ainda questiona o que a sociedade deve deixar para o futuro. “Vamos propiciar a arte para os nossos filhos ou queremos torna-los calculistas, frios, duros?”, desafia.