Embora ter um filho seja o sonho de muitas pessoas, dados apontam que esse desejo está sendo cada vez mais adiado. A proporção de mulheres que estão dando à luz a partir dos 30 anos está crescendo anualmente em Bento Gonçalves. Já os números de mulheres que engravidam a partir dos 35 anos, embora em menor escala, também apontam para uma elevação. Os dados da cidade vão de encontro com uma tendência que é nacional.
No Brasil, Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam esse cenário. Em 2017, por exemplo, dos 2,86 milhões de nascimentos registrados, em 35% dos casos a mãe tinha 30 anos ou mais na ocasião do parto, contra os 33% de 2016. Informações mais recentes, do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, demonstram que o número de mulheres que deram à luz na faixa etária entre os 35 e 39 anos cresceu 71% nos últimos 20 anos no país.
De acordo com dados cedidos pela assessoria de comunicação da prefeitura, que se referem aos partos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o número de mulheres que tiveram filhos na faixa etária que corresponde aos 30 e 35 anos cresceu 26,1% entre 2016 e 2018. Entretanto, o grupo de mulheres que deram à luz a partir dos 35 anos sofre oscilação nesse período. Entre 2016 e 2017 houve queda de 29%, enquanto comparando 2018 em relação a 2017 houve aumento de 44% de partos nessa faixa de idade. Na tabela é possível visualizar o número de nascimentos de acordo com as idades.
Sob o olhar da psicologia
De acordo com a psicóloga Fernanda Krüger, os fatores que tem influenciado para que as mulheres tenham o primeiro filho cada vez mais tarde são os mais diversos, tais como estudos, estabilidade financeira e emocional, viagens, intercâmbios entre outros que ela associa ao empoderamento feminino e a própria rotina. “É uma questão de constância da vida. Cada vez as pessoas têm mais coisas para serem feitas. Hoje em dia é uma facilidade muito grande ir viajar e é um desejo de muita gente conhecer lugares diferentes. O estudo fora do Brasil também tem crescido muito, então tudo isso vai jogando cada vez mais para frente a maternidade”, destaca.
Outro motivo apontado por Fernanda está no maior tempo com que os casais levam para casar e ir morar juntos, consequentemente, postergando também a gravidez. “Os adultos têm demorado mais para sair de casa. Se a gente for analisar as famílias, é difícil ter um integrante de 18 anos já saindo de casa. Geralmente quando isso acontece é para estudar, morar sozinho em outra cidade, mas não em função de investimento”, completa.
Para a psicóloga, diferente de antigamente, as mulheres não sentem mais necessidade de ter um filho ainda na juventude. “O que percebo mais nessa questão de ter o filho após os 30 anos é que é o momento em que a pessoa está mais estabilizada, tanto a mulher quanto o homem. É uma idade em que a maturidade está mais concreta, em que as pessoas já estão pensando de forma diferente de ver a vida e é uma fase que a pessoa já está mais preparada para ter um filho”, observa.
Entretanto, Fernanda destaca que independente da idade com a qual a mulher decide engravidar, o importante é estar confortável naquele momento. “A questão emocional faz toda diferença. Existem muitas mulheres que desistem de ter um filho porque se acham muito velhas. O mais importante é não se preocupar em demasia e tentar entender que no momento certo vai acontecer”, finaliza.
O que diz a medicina
Com tantos planos e desejos para concretizar, muitas mulheres se questionam até quando podem adiar a maternidade. De acordo com a ginecologista e obstetra, Doutora Kátia Ohlweiler Santos, após os 35 anos já é uma idade considerada tardia para engravidar. “Após essa idade, a reserva ovariana diminui bastante. Desde que a gente nasce, começa a diminuir o índice de óvulos. A partir dos 35 anos, essa reserva já está bem reduzida, então as chances de engravidar diminuem acentuadamente”, esclarece.
De acordo com a dr. Katia, além da dificuldade de conseguir engravidar ser maior após essa idade, a gestação também pode ser arriscada para o bebê. “Risco de abortamento, de má formação congênita, de mutações. O óvulo e os espermatozoides já não são de melhor qualidade como era, então a chance desses problemas é maior”, explica.
Entretanto, a doutora destaca que o risco é maior, mas não significativo e que a cidade oferece recursos de qualidade para cuidar de todos os tipos de gestações. “Não é impossível uma gestação normal nessa idade porque evoluiu muito a parte obstétrica, tanto em nível de ecografias, de exames laboratoriais, então temos mais maneiras de prevenção e cuidados com uma gestante a partir dos 35 anos”, conclui.