Em Bento Gonçalves, cidade reconhecida por sua forte identidade familiar e laços comunitários, a aproximação do Dia das Mães evoca um misto de celebração e reflexão. A data, profundamente enraizada no calendário afetivo, transcende a simples troca de presentes, representando um momento de reconhecimento da figura materna em suas múltiplas facetas. Contudo, para além da festividade contemporânea, reside uma história rica e complexa sobre a gênese desta homenagem.

Raízes históricas da celebração

A celebração do Dia das Mães tem raízes antigas, com homenagens a figuras maternas na Grécia e Roma. Com o cristianismo, essas tradições se ligaram à figura de Maria. A configuração moderna surgiu nos Estados Unidos, com a luta de Ann Maria Reeves Jarvis e, principalmente, de sua filha Anna Jarvis, que defendia um dia nacional para reconhecer o papel das mães. Em 1914, o segundo domingo de maio foi oficializado como Dia das Mães nos EUA. No Brasil, a data foi oficializada em 1932, por Getúlio Vargas, seguindo a tendência internacional de dedicar um dia especial à figura materna.

A luta e a conquista de ser mãe

Se a história do Dia das Mães nos lembra da importância universal da maternidade, a experiência de Camila Locatelli, em nossa própria comunidade, ilustra a intensidade do desejo e a profunda emoção que envolve a realização desse sonho. Após uma longa jornada, a notícia da gravidez trouxe uma luz especial para a vida desta futura mãe. “Hoje estou gestante de 22 semanas, e estou à espera do Matteo. Posso dizer que vivo a realização de um sonho, que demorou muito para acontecer. Foram sete anos ao longo dessa jornada, desde que nós decidimos que gostaríamos de ter um filho e começamos as tentativas”, destaca Camila. 

A busca pela maternidade para Camila foi marcada por uma jornada sinuosa e, por vezes, dolorosa. No primeiro ano de tentativas, a tranquilidade inicial das médicas, atribuindo a demora ao uso prolongado de anticoncepcional, deu lugar a uma série de exames. “Até então, tudo era normal, nada tinha alterações”, recorda Camila, na esperança de que o sonho se concretizasse naturalmente. 

No entanto, a persistência da não gravidez levou a uma investigação mais aprofundada. Foi então, durante uma videolaparoscopia para identificar uma possível endometriose, que a realidade se apresentou de forma cruel. “Descobri que  realmente tinha endometriose e, além disso, um problema nas minhas trompas”, revela. A causa foi uma bactéria contraída anos antes, em 2014, que silenciosamente afetou sua região abdominal, danificando as trompas, tornando-as dilatadas e tortuosas – um obstáculo quase intransponível para a passagem do óvulo. “Segundo a médica, naquele dia, eu não conseguiria engravidar devido a esse problema. Foi um balde de água fria”, destaca Camila. Diante da notícia desoladora, ela se recusou a aceitar o veredito final. “Nunca me contentei com esse diagnóstico, então eu comecei a procurar alternativas”, diz. Essa busca a levou a uma nutricionista especializada em fertilidade, marcando uma mudança em seus hábitos. “Mudei toda a minha alimentação, comecei a suplementar o que era necessário, a fazer todo esse processo para tentar limpar o organismo, para ficar o mais saudável possível, para tentar engravidar de método natural”, explica.

A dedicação e o esforço foram intensos, mas os meses de tratamento natural não trouxeram o resultado esperado. A própria nutricionista, que a acompanhava tão de perto, acabou indicando um novo caminho, a fertilização in vitro. Um exame revelou outro fator preocupante: a baixa reserva ovariana. “Quanto mais tempo esperasse, menos óvulos teria. Então, menos chances teria para poder engravidar mesmo de fertilização”, destaca. 

Camila fez duas fertilizações, mas ambas sem resultado. “Conversei com o meu marido e a gente decidiu que não faríamos mais, porque disse que não queria mais fazer fertilização, foram duas tentativas frustradas, sem saber o porquê que não deu certo. Então, além da parte financeira envolvida, que a gente sabe que os custos são elevados, a parte emocional, ela é muito afetada”, salienta. 

Após tantas tentativas, mais cirurgias e sempre procurando uma melhor alimentação, Camila, sem perder a fé seguia tentando alcançar seu sonho,  começou a cuidar ainda mais da parte espiritual. “Sempre gostei muito da parte de reiki, da parte de terapias holísticas. Então, já fazia um acompanhamento, a minha terapeuta, um dia, recebeu uma mensagem que deveria ir no Marlon dos Santos, que é um centro mediúnico que faz cirurgias espirituais. E disse, que vou, porque sempre tentei tudo, sempre disse que ia fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para tentar realizar esse sonho”, explica. 

Camila e sua família sempre tiveram muita fé, e para eles, nada era impossível. “Fiz o acompanhamento durante um ano com o Marlon, fui pela última vez em outubro do ano passado, e em dezembro engravidei. Descobri a minha gravidez no dia 2 de janeiro deste ano, agora ter esse fruto crescendo é muito emocionante”, conta emocionada. O apoio e amor de seu marido foi essencial em todas as etapas. “Tem um ponto que é de extrema importância e que fez toda diferença em todo esse processo, pois sei que muitas tentantes não tem esse apoio, é o apoio incondicional do meu marido, que sempre me apoiou em tudo e esteve comigo em cada processo”, pontua.

Camila deixa uma mensagem para todas as tentantes, que sonham em ser mãe. “Para Deus não existe nada impossível. O que posso dizer, para as mamães que estão tentando também é; não desistam, não percam a fé, porque para Deus não existe o impossível. Era um caso impossível, e tá aqui, crescendo forte no meu ventre o Matteo, vai nascer agora no início de setembro”, conclui Camila. 

Maternidade atípica: desafios e amor

Entre esses exemplos de força e amor, encontramos a inspiradora jornada de Patrícia Rossetti Ceresoli Sonza, mãe de um menino com autismo. Em Bento Gonçalves, onde os laços familiares são tão valorizados, Patrícia tece diariamente uma história de superação, aprendizado e profunda conexão com seus filhos, Lucas Ceresoli Sonza de 5 anos e Felipe Ceresoli Sonza de 3 anos. Sua experiência oferece uma perspectiva valiosa sobre os desafios específicos enfrentados por famílias atípicas e a beleza singular que reside em cada pequena vitória.

A maternidade para Patrícia, é sentimento e cuidado. “Pra mim a maternidade é amar incondicional outra pessoa, você se doar por completo a ela. Dando sentido e um significado maior à minha vida por saber que meus filhos dependem de mim”, explica. 

A vida materna é feita de surpresas e aprendizados diários. “Ao me tornar mãe aprendi o verdadeiro sentido da palavra responsabilidade. Ter duas crianças que dependem de você te torna importante. Os desafios são constantes em qualquer maternidade, porém em alguns momentos mais complexos”, salienta Patrícia.

Para ela, o diagnóstico de autismo de Lucas, ao invés de fragilizá-la, fortaleceu-a diante das novas responsabilidades e desafios que se apresentavam. “Inicialmente, confesso que senti um misto de confusão e insegurança ao imaginar seu desenvolvimento e crescimento como um todo”, relembra. “No entanto, desde o primeiro momento, meu esposo esteve ao meu lado, e sua presença constante foi fundamental para me tranquilizar e me dar segurança nessa jornada”, destaca. 

Olhando para trás, desde o momento do diagnóstico até o presente, Patrícia compartilha uma perspectiva otimista sobre a jornada de seu filho e a conscientização da sociedade: “Com o passar dos anos, do diagnóstico, e até o presente momento tenho a percepção de estar no caminho certo para o crescimento do Lucas e que com os estímulos proporcionados ele está em constante evolução. Acredito que a sociedade em geral também esteja evoluindo na questão inclusão, porém ainda existe um longo caminho a ser percorrido”, explica. 

O bem-estar materno em foco

As histórias de mães como Camila e Patrícia nos mostram a força e a diversidade da maternidade. Para aprofundar nossa compreensão sobre as dinâmicas emocionais envolvidas, consultamos a psicóloga Janice Berro Mezacasa Cavalini, que explica. “A mulher se torna mais “leoa” em defesa dos seus. Além de ser ela mesma, ela é a mãe de alguém que necessita de amor, carinho e cuidados”, explica. 

A psicóloga ressalta a importância vital do autocuidado na rotina da mãe, lembrando que sua identidade transcende a maternidade: “É muito importante a rotina do autocuidado no dia a dia da mãe. Para isso, a rede de apoio se faz necessária sempre, para que se possa ter um tempo para si e o filho estar com pessoas em quem se possa confiar”, salienta. 

A psicóloga enfatiza a necessidade crucial de as mães priorizarem sua saúde mental, sendo o acompanhamento profissional um recurso fundamental nesse processo. “A ajuda profissional deve ser buscada quando há sofrimento por parte dessa figura materna, relacionado ou não à maternidade. Sinais como depressão, ansiedade e fadiga são sintomas que podem ser tratados eficazmente com o apoio psicológico”, explica Janice. 

A maternidade transcende o gênero e os laços biológicos, manifestando-se em quem se dedica a cuidar, proteger e nutrir integralmente aqueles que demandam atenção especial. Seja um homem, uma mulher, um familiar ou não, quando o papel materno é exercido com amor e dedicação, a criança floresce em felicidade. “A maternidade é difícil,  assim como todos os desafios que enfrentamos durante a nossa vida, mas sempre superamos e vencemos esses desafios”, conclui Janice.