Deputado fala da atuação na presidência do legislativo gaúcho, sua ligação com Bento e comenta a situação política atual

Desde que assumiu a cadeira de presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), o deputado Marlon Santos (PDT) busca propor, através de uma gestão de aproximação do parlamento com a população gaúcha, o debate das principais mazelas que o estado enfrenta. Esse, pelo menos, foi um dos desafios lançados em 1º de fevereiro, quando assumiu o controle do parlamento. Além disso, Santos ressalta o constante diálogo entre as lideranças políticas que integram o plenário. Em entrevista exclusiva ao Semanário, o presidente da ALRS falou sobre sua trajetória e atuação política na Casa, abordou a situação no país e respondeu questionamentos sobre o polêmico projeto para formalização de plebiscito no estado.

Natural de Cachoeira do Sul, o pedetista ingressou ainda jovem na vida política. Aos 25 anos foi eleito como o vereador mais votado na sua cidade natal. Na sequência, concorreu e alcançou uma vaga na ALRS. Em 2005, após cumprir seu primeiro mandato como deputado estadual, Santos foi eleito prefeito de Cachoeira do Sul. Por dois anos ficou fora da política e no atual mandato, o parlamentar foi o terceiro candidato mais votado. Santos diz que presidir o parlamento é complexo e dinâmico. “Ser presidente de uma casa com 54 outros colegas deputados é sempre uma coisa melindrosa: todos são líderes, porque foram eleitos para estar lá. Não adianta pensarmos que eles estão ali por acaso. Por outro lado, é uma casa muito presidencialista. Quando se está na Assembleia, pensa-se que o parlamento é parlamentarista por excelência, mas não é. A condução de um barco com muitos líderes acaba represando em um líder só. A decisão acaba, geralmente sendo do presidente”, explica.

Relacionamento com Bento Gonçalves

O pedetista ressalta na entrevista que Bento Gonçalves figura entre as cidades em que visita seguidamente. “A cada 30 dias eu geralmente venho até aqui, por gostar da cidade, mas também por vários pleitos para Bento. A minha relação com a administração municipal pode ser um pouco dura, mas geralmente é muito boa”, garante. Além do vínculo político, Santos diz que possui muitos amigos na Capital do Vinho, que fazem com que o deputado tenha apreço pela região. “Sempre há uma missão para fazer em prol de Bento. A nossa última, que ainda está em andamento, é para a encampação da ERS-444, ou seja, para que o domínio dela passe para a prefeitura, pois o Estado não consegue mantê-la em condições adequadas de trafegabilidade”, observa. Há quatro meses batalhando pelo pleito, Santos critica a burocracia para realizar o repasse. “É algo tão grande e insensível em buscar papéis, apresentar informações para poder desenvolver a situação e acabar com esses problemas que envolvem a ERS-444 e que acaba prejudicando a vida de quem passa por lá e do empresariado e utiliza o eixo para escoar a sua produção de uva, industrial, grãos, entre outras”, pontua.

Além disso, Santos destaca que diversos pleitos voltados ao turismo regional também são solicitados por diversas lideranças e entidades da Serra. No entanto, ele destaca que ainda sente falta de uma relação mais profunda entre empresariado e políticos, na busca por soluções mais rápidas para os problemas enfrentados na sociedade. “Temos um bom relacionamento aqui na região. Mas, acredito que não há o costume das pessoas se aproximarem de quem está em um cargo eletivo. E é um erro”, afirma.

Plebiscito

Um dos projetos que ganhou visibilidade nas últimas semanas na ALRS foi a proposta de votação para a realização de um plebiscito e que tinha por objetivo, segundo o Governo do Estado, tornar público, esclarecendo a real situação das estatais e buscando o posicionamento da população gaúcha sobre a venda ou não das empresas. Na tarde de terça-feira, 5 de junho, a proposta do governo foi rejeitada pela maioria dos parlamentares. Na opinião de Santos, a derrota do Executivo na votação é reflexo de um “projeto complexo, nebuloso e que carece de explicações à população”, afirma.

O parlamentar foi enfático ao dizer que não é possível ter um plebiscito sem que a população conheça de verdade o assunto. “Não sou contra o plebiscito, mas a população tem que tomar conhecimento do assunto, do que são estas estatais. Por que as pessoas não podem esclarecer para as pessoas? Tem que ser esclarecido para a população”. O pedetista diz ainda que as empresas que o governo quer colocar à venda não são as responsáveis pela situação caótica em que as finanças do Estado se encontram. Ele ainda citou exemplos de companhias que não dão prejuízo aos cofres públicos. “Se tivesse ocorrido com elas, o que aconteceu com a Corsan e o Banrisul, por exemplo, com toda a certeza, elas não estariam nessa situação”, complementa.

Recuperação do Estado

Conforme o presidente do parlamento gaúcho, para estancar a crise financeira, é preciso que o chefe do Executivo, independentemente de partido político, tenha coragem para ir até o governo federal e discutir abertamente sobre a dívida pública. “Infelizmente, os últimos governadores que tivemos, não tiveram coragem de ir à Brasília e bater de frente com o governo dizendo que não pagariam mais a dívida, até que todo o valor seja decomposto. Se paga tudo o que a União manda. Muitas vezes, sem saber se o valor é o certo”, ressalta. “O governador e o seu secretário de Fazenda não sabem dizer o que o RS deve para a União. Apenas tem conhecimento do valor. Eu sei o que Brasília deve para o estado e ninguém cobra. Isso não é culpa do Sartori. Vem de anos e o que me chateia é que ninguém cobra”, lamenta.

Momento político

Questionado sobre o atual cenário da política estadual e do país, Santos é enfático ao dizer que muitos dos acontecimentos vividos nos últimos anos estão voltados também às escolhas feitas pela população, principalmente, quando os acusados de participação em algum esquema de corrupção são novamente reconduzidos aos cargos através do voto popular. “Eu não acredito que haja uma distância entre o político e a comunidade que o elege. Não há como imaginar que políticos corruptos que sempre existiram na política, consigam ser reeleitos por duas ou três décadas e que o eleitor não tenha esse conhecimento. Não há como entender isso”, desabafa.

Santos diz ainda que na sua percepção, o país não irá mudar nos moldes que o brasileiro almeja, pois não há um movimento que, segundo ele, pleiteie mudanças, mas sim, apenas fatos isolados. “Temos o costume de reclamar, apenas. Poucos eventos cívicos foram exitosos nos últimos anos. Cito a paralisação dos caminhoneiros, amparada pelos agricultores: foi exitosa. Pararam o Brasil, botaram na mesa a situação, exigiram mudanças”, ressalta. No entanto, Santos observa que devido ao reduzido tempo para o período eleitoral, poucas alternativas poderão surgir. “Hoje, nem se fala em eleição, faltando meses. Logo vamos ter a Copa do Mundo, aí depois é que se inicia o pleito se tem 45 dias para fazer campanha e nem se sabe quem são os candidatos. Quando foi feita a tal reforma política, diminuíram o tempo de período eleitoral e isso beneficiou quem já estava no poder, pois só está em evidência são aqueles que já ocupam algum cargo, logo não surgirá um novo candidato e aí o que poderá mudar?”, indaga.

Eleições 2018

Conforme o pedetista, seu nome está à disposição do partido para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados em Brasília. Indagado sobre a postura do brasileiro na escolha dos candidatos ideais, Santos sugere que a população não deixe de exercer o seu dever de votar. No entanto, aconselha que o eleitor pesquise a vida do candidato antes de fazer a sua escolha. “Busque informações, peça uma lista do que o candidato pretende realizar e aí, se estiver convencido de que sua escolha é a correta, vote, independentemente de partido”, aconselha.