Onze horas. Um calorzinho danado de bom relaxava os músculos e o cérebro, provocando leve sensação de torpor. Naquele ambiente totalmente zen – o chefe tinha viajado para seu paraíso de Florianópolis – as coisas fluíam lenta e harmonicamente…
Um bolinho inglês – ancestral dos copcakes – fora colocado sobre o balcão, em homenagem ao aniversário de carteira assinada da recepcionista. Encantada com o quadro, ela nem percebeu três elementos entrando no melhor estilo faroeste: silenciosos, rápidos e potencialmente violentos. A moça estava a ponto de dar uma mordida no bolinho quando sentiu o cano de uma arma em sua cabeça. Ela ficou com a mão em suspenso, e a boca não fechou mais (diz o marido que, até hoje).
-Por favor não me mate eu só trabalho aqui há um mês olha a velinha no meu bolo sou muito nova pra morrer minha mãe não dorme enquanto eu não chegar sou filha única ai meu Deus afasta de mim essa arma por favor não me mate eu não posso ficar mais um minuto aqui sou muito nova pra morrer…
-Fecha essa matraca ou leva bala – grunhiu o criminoso, enquanto os outros dois faziam uma “faxina geral”.
Apesar da ameaça, a recepcionista não conseguia segurar a voz. Frases desconexas jorravam de sua boca. Suplicava, chorava, justificava, argumentava, numa profusão de deixar o meliante maluco. Extremamente irritado, ele apanhou o rolo de fita crepe que encontrou sobre o balcão. A moça anteviu o que ia acontecer e ficou apavorada: estava em jogo a integridade de seus longos cabelos loiros.
Enquanto isso, no andar de cima, outra arma exigia a abertura do cofre. Inutilmente, já que nenhum funcionário tinha conhecimento da senha.
O produto da rapinagem – celulares e dinheiro miúdo, inclusive do último cliente da manhã, que teve a infeliz ideia de ir até lá pra tomar um cafezinho – não satisfez os larápios. Mas, sem expectativa de aumentar a “féria” do dia, só lhes restava picar a mula. Antes, juntaram todos num banheirinho de um metro quadrado e ordenaram que se ajoelhassem e rezassem um terço… Bom! Quase isso. Era para contar até cinquenta, mas as vítimas, que já estavam ajoelhadas, preferiram rezar. Com um detalhe: a colega que, mesmo com a mordaça, não parava de balbuciar, ficou daquele jeito até a chegada da polícia. Ninguém queria correr mais riscos…