Mais uma despedida
Joaquim Alves dos Santos Filho foi um dos nossos grandes ícones dos anos dourados de Bento. Marca registrada em qualidade humana, referência junto à comunidade, junto aos Clubes de Serviço, junto à Igreja Matriz Cristo Rei. Como empresário notabilizou-se como um dos Diretores da Isabela, parceiro exemplar de Moysés Michelon, de quem era também colega, amigo, confidente, conselheiro. Convivi com os dois quando trabalhei, por dois anos e meio, na Isabela, período que vai merecer um capítulo especial em uma de minhas futuras colunas. Joaquim tinha uma particularidade: te olhava no fundo dos olhos quando falava e sua fala sempre vinha acompanhada de um sorriso. Diante dos problemas ele demonstrava ironia, “tudo vai se resolver”, dizia. E trabalhava, silenciosamente, diplomaticamente e discretamente em torno da solução. E problemas, numa empresa pulsante como a Isabela que se atirava numa ferrenha disputa de mercado e na busca de uma grandeza que todos passamos a conhecer, é o que não faltava.
Sem registro
Não tinha como chamar Joaquim de Joaquim Santos Filho, nem de Joaquim Alves, seu nome era indivisível e era, para todos e, para ele próprio, Joaquim Alves dos Santos Filho. Brilhava até como Mestre de Cerimônias em eventos de maior importância. Comunitariamente, por participar muito de eventos e ter uma convivência com líderes e amigos, até mesmo diante da imponência e importância da Isabela, Joaquim sabia muito da formatação, da história e da grandeza de Bento. Mas onde ficaram registrados o testemunho histórico, a vivência e o conhecimento de Joaquim e de outros tantos líderes que se foram de nosso convívio? Em lugar nenhum. Ao visitar, logo após a inauguração, a grandiosa, majestosa e significativa nova casa dos empresários – o Centro Empresarial – me detive a analisar os detalhes de sua riqueza, me chamando a atenção a Galeria dos Ex-Presidentes da Entidade, quando fiz uma observação ao então Presidente Laudir Piccoli: a grandeza de Bento foi construída por estes líderes, pena que essa história não ficou registrada. Ao constatar umas salas ainda vazias sugeri que o CIC instituísse o Museu de Imagem e de Som, com depoimentos dos líderes que ainda estão entre nós e que contribuíram para a BELEZA DE BENTO EXTERIOR E INTERIOR. E nesta quinta-feira leio que os familiares de Raul Randon, liderados pela matriarca, Dona Nilva, lançaram a campanha, através do Instituto Elisabetha Randon, para instituir o “Memorial Randon”, com a pretensão de, no espaço, preservar a memória da Indústria de Caxias e do Transporte de Cargas do Brasil, atraindo estudantes, pesquisadores, historiadores e promotores culturais e, inclusive, transformando o Memorial em atração turística, sediando também salas de pesquisa, videoteca, bem como sugeri ao CIC. Tivéssemos uma instituição assim, por mais singela que fosse, perpetuaria, diante de futuras gerações o saber de onde veio a Beleza de Bento em torno a qual o Prefeito Pasin tanto se ufana.
Zortéa está otimista
Sou amigo de infância de José Zortéa. Admiro o seu valor humano, seus predicados de educação, cordialidade, tenho forte admiração pelo seu saber, levante qualquer assunto e ele vai dispara seu conhecimento. Foi líder empresarial, vice-prefeito, diretor regional do Senai RS e muitas outras coisas. Está repleto de saber e conhecimento, hoje gozando de justa aposentadoria, mas antenado a tudo o que acontece. Sugeri ao CIC que aproveitasse essa valiosa disponibilidade humana. Nas despedidas de Joaquim ele chamou atenção para o fato de as lideranças de Bento estarem se renovando, na verdade ele festeja isso. Diante de suas colocações eu fiz a observação de que isso estava acontecendo um pouco tarde, que se criou vazio prejudicial aos interesses de Bento, que essas novas lideranças já estão beirando os 40 anos (Carlos Dreher Filho morreu com 50 anos e curvou o Brasil aos pés da Dreher e de BENTO), o parênteses é meu. Do alto de sua sabedoria Zórtea disparou: “ mas eles carregam experiência que vai ser muito útil”. Paralelamente a esse registro, Zortéa lamentou que um dos maiores líderes empresariais e comunitários de Bento, Dorvalino Pozza, que nem era de Bento, foi embora sem ter recebido uma homenagem e um reconhecimento por tudo que fez pelo Município. Concordo plenamente. Dias antes de falecer, Dorvalino me convocou para ir até o estande da Pozza, na MOVELSUL, pois queria falar comigo. Quando cheguei, lá estava presente o líder empresarial Eurico Benedetti. Sem cerimônia, Dorvalino disse: “Eurico tu me dás licença? Tenho um particular com o Henrique”. Então Dorvalino me disse: “Henrique, Bento está ficando para trás, temos que fazer uma retomada como nos velhos tempos, tu podes ajudar muito, quero contar contigo”. Combinamos novo encontro para estabelecer estratégia, não aconteceu, ele se foi. Dorvalino era intenso, presente, referência, quantos líderes se foram sem deixar perpetuado seu saber e sua história comunitária, como exemplo às gerações futuras? Por outro lado, se institui uma modesta e reduzida preservação histórica, como por exemplo a casa em que morou o ex-presidente Geisel, que está lá cercada de vegetação que na colônia se chama de “peste”. A Via Del Vino, o espaço público mais ícone da beleza de Bento, no Brasil e exterior, está com seu piso encardido, pedindo por favor a presença de um lava jato. Bento tem que preservar e dignificar melhor seu patrimônio humano, cultural e histórico. Nossas lideranças têm que levar os interesses do Município um pouco mais no coração. Ei, eu disse um pouco mais.