No Brasil, em 2018, foram registrados mais de 145 mil casos de violência física, sexual, psicológica e de outros tipos em que as vítimas sobreviveram. O estudo é de dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), que também revelou aumento de 53% nos números de violência sexual. Nesse tipo de agressão, sete em cada 10 vítimas são crianças e adolescentes, ou seja, têm até 19 anos.
Em Bento, os registros de estupros de vulneráveis praticamente dobraram nos últimos dois anos. Estes dados contabilizam as vítimas até os 14 anos incompletos, acima dessa idade, entra no sistema da Polícia Civil (PC) somente como estupro. Para a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Deise Salton Brancher Ruschel, isso é fruto das campanhas de conscientização realizadas com a rede de proteção às Crianças e Adolescentes do município.
Segundo Deise, a principal dificuldade é conseguir com que as pessoas denunciem. “A gente sabe que tem um número muito maior, porque quando conversamos com as pessoas informalmente, elas dizem que estão apavoradas, que há muitos casos, mas se o registro não chegou, quem investiga esses casos?”, questiona. A delegada avalia que o número de casos que estão no sistema não reflete a realidade do problema na cidade.
Em relação a estupro de maiores de 14 anos, os baixos registros, aponta a Deise, também não representam a totalidade dos casos, já que a maioria dos atos são forçados por conhecidos. “Muita gente não denúncia. Nesse número tem as mulheres casadas, que têm todo um ciclo de violência doméstica que elas enfrentam. Aí existe o medo, a vergonha e vai ter uma represália mais grave ao registrar”, relata.
Para Deise, isso demonstra o quanto o homem ainda vê a mulher como um objeto. “Se ele não aceita um não, a ponto de forçar um ato sexual com graves ameças, ele não vê a companheira como um ser digno. Ela, muitas vezes, por vergonha, nesse contexto patriarcal e de submissão, começa a se questionar se está errada. Em relação aos menores de 14 anos, mesmo com o ato sexual consentido, é um crime, já que o menor não tem maturidade para decidir”, explica.